Novas tradições de Páscoa...


Mais uma Páscoa passada fora de portas. Tem sido tão comum que já não me lembro de estar no Pinheiro rodeada pela família, à espera do cabrito... Mas, desta vez, foi uma Páscoa diferente - não ando a viajar por um qualquer canto do mundo, estou mesmo a viver fora do país. O que torna toda a dinâmica destes momentos diferente.

Assim, o convite feito pelo big boss para um aparentemente típico pequeno-almoço de Páscoa acabou por calhar mesmo bem, mesmo em jeito de substituto de algo mais familiar. 11h em ponto lá estávamos nós no bairro mais chique de Berlim, último piso de um sólido prédio antigo que revela uma casa cheia de charme (incluindo um piano de cauda na sala de estar - que sonho!). Mesa cuidadosamente posta, mas de forma acolhedora, cheia de iguarias. Das quais se destacavam, obviamente, os ovos cozidos, coloridos, quais donos da mesa. O objectivo, segundo percebi, é comer de tudo. E misturar tudo, no mesmo prato. Só não vale não comer. E foi exactamente isso que fizemos, como bons convidados. 

Claro que houve momentos estranhos, de pouco à vontade, como em qualquer situação em que se tenta uma intimidade que não existe. Uma Páscoa diferente, sem dúvida. Mas foi bem giro.

Tannhäuser and the Singers' Contest at Wartburg @ Deutsche Oper Berlin

Com o fim-de-semana da Páscoa veio o primeiro programa "cultural" em Berlim - e que começo auspicioso esse, com uma ida à ópera na Deutsche Oper Berlin. Com a companhia de alguns colegas de laboratório, o final de tarde de sábado trouxe consigo esta obra de Richard Wagner, de seu nome (em Inglês) "Tannhäuser and the Singers' Contest at Wartburg". É uma ópera em 3 actos que conta a história (ou melhor, o drama) de Tannhäuser que, depois de uns tempos bem passados (por assim dizer) na montanha de Vénus, deseja voltar à sua vida terrestre e reencontrar a sua amada, Elisabeth. Com a intercepção da Virgem Maria, Tannhäuser consegue regressar, mas durante o concurso de cantores em Wartburg resolve cantar sobre as suas aventuras com Vénus. O público, enfurecido, decide que ele terá que viajar até Roma e pedir perdão ao Papa pelos seus pecados, o que não acontece, resultando assim na morte de ambos os protagonistas, Elisabeth e Tannhäuser, visto não poderem estar juntos como tanto anseiam.

Assim contado até parece simples, embora muito dramático, sem dúvida! Aparentemente, as óperas alemãs têm uma tendência para o dramatismo... Mas agora imaginem assistir a esta obra com os cantores a cantarem em alemão e com as legendas em alemão. Ora bem, não percebi nada. Tenho mesmo que confessar. Esforcei-me, mas foi complicado. No entanto, foi uma experiência muito interessante, porque as partes "universais", como a música e a encenação, eram de uma qualidade muito elevada. A encenação, em particular, surpreendeu-me pela sua complexidade. 
Por isso, primeiro programa cultural aprovadíssimo. Deixa vontade de voltar, provavelmente para algo um bocadinho mais animado e menos trágico. Mas, sem dúvida, uma experiência para repetir.

Ah, e com a modesta duração de 4 horas...

Berlim: a primeira semana



De vez em quando é preciso fazer pontos de situação. E quando nos mudamos para um país novo, a necessidade talvez seja um bocadinho maior... Então, agora que já ultrapassei a minha primeira semana em Berlim, o que tenho a dizer sobre isso?
Bem, a primeira coisa que me vem à cabeça é talvez o frio - como está frio nesta terra! Já nevou várias vezes desde que cheguei e o manto branco por cá continua, sabe-se lá para durar até quando. É giro, claro que é, mas a partir do segundo dia acho que perde o encanto (como tudo que entra na rotina). Fica o frio que se entranha pelos ossos, e os fusos de gelo do lado de fora da janela. Portanto, para além da neve, de que posso eu falar?... 
Ainda não deu para passear muito, pelos motivos indicados no parágrafo anterior. Para além de um passeio pelo Tiergarten, no centro da cidade, apenas dei um outro passeio no parque de Büch, a bela terriola onde está sediado o instituto... Neve, neve, neve, lagos gelados que ainda assim não "empurram" os patos para paragens mais quentes (como o nosso Portugal). Tempo houve também para socializar e começar a conhecer novas pessoas, explorar a gastronomia da cidade, preguiçar pelos inúmeros cafés... Tentar de alguma forma afastar a estranheza, inevitável por estes dias.

Mas é mesmo assim. Tudo faz parte do processo. Primeira semana - check. Com um sorriso.

Ich bin ein Berliner*


Pois é, o mote tinha sido dado há já alguns meses. E agora aconteceu mesmo. O Terceiro Passo mudou de ares. Anda a passear. Para ver mundo e, quem sabe, mudar de vida. Permitir que a ilusão finalmente se complete. Sempre nessa ânsia... Porque "tudo vale a pena, se a alma não é pequena." Como dizia o genial Pessoa, cheio de sabedoria. Que a alma seja sempre suficientemente ampla para abrir os olhos e abraçar a vida. Que hoje seja Berlim a acolher-me, mas que possa sempre sentir o carinho do mundo... onde quer que vá. E fazer parte dele.

*no passado JFK, hoje eu

O regresso (e o adeus) ao Clubbing da Casa da Música

Passados quase dois anos (e após uma ligeira mudança de formato), regressei às sessões de Clubbing da Casa da Música. O principal motivo?... O regresso a Portugal de uma banda mítica, de seu nome Yo La Tengo (que, face ao preço do bilhete, foi realmente uma oportunidade imperdível). O ter podido assistir a este concerto com a companhia de dois grandes amigos foi um enorme bónus e fez desta ida à Casa da Música uma bela despedida (um até breve, prefiro assim).
Os Yo La Tengo fazem, desde há muito tempo, parte do meu imaginário musical. No entanto, não possuo nenhum dos seus álbuns e, tenho que confessar, também não conheço particularmente bem a música do trio americano. Mas aquilo que conheço, gosto, e isso é suficiente para me levar a um concerto. 
Acho que posso afirmar que este foi um concerto único. E passo a explicar porquê. Primeiro, houve durante praticamente todo o concerto uma sensação de desconforto da banda, como se o palco fosse demasiado grande para eles, bem como a plateia cheia. Que culminou no momento em que Georgia Hubley é "obrigada" pelos restantes membros da banda a ser a voz de uma canção em que quase se ouvia apenas... a sua voz. Estranho, portanto. Depois, houve claramente uma alternância entre temas mais "barulhentos", com Ira Kaplan a divertir-se ao comando das suas diversas guitarras, e momentos bem mais calmos e intimistas. Ao mesmo tempo estranho e interessante, com os momentos mais barulhentos a serem quase hipnóticos, por incrível que pareça... Foi um estranho bom, um concerto sem pré-formatação, diferente daquilo que estou habituada.
O encore, com uma versão a cappella de "You Can Have It All", foi realmente a cereja no topo do bolo. Porque, de vez em quando, é bom ouvirmos as nossas músicas favoritas quando vamos a concertos.