O regresso a este blog tem sido há muito planeado. Desde as aventuras pela Geórgia no ano passado, cuja narração ficou visivelmente a meio, até à viagem deste Verão que nos levou ao outro lado do Mundo de comboio, razões não faltam para aqui regressar. No entanto, a inércia tem sido mais forte.
Nesta manhã solarenga de Dezembro, disse para mim mesma que é preciso combater essa inércia. Pôr o cérebro e os dedos a funcionar, e aproveitar a disponibilidade para escrever.
Não sei se será uma resolução que irá durar. Não faço promessas. Aliás, nem sei bem se há ainda quem me leia desse lado. Veremos.
Até lá, fica a dúvida. Que, neste caso, é melhor do que uma certeza.
Bom dia a todos.
O Terceiro Passo
Em magia, o terceiro passo refere-se à parte do truque em que a ilusão é produzida. A vida chegou ao terceiro passo. A ilusão, aparentemente, completou-se. O Terceiro Passo está agora fora de portas. À procura de novas ilusões para completar... Mais uma moedinha, mais uma voltinha.
A aventura no Cáucaso (dia 7, ou o regresso à "civilização")
Como estamos alojados num AirBnB, não há direito a pequenos-almoços com omoletes e bolo, como tínhamos nas montanhas. Por isso, tivemos que fazer uma breve pesquisa de sítios onde tomar pequeno-almoço. Encontrámos um sítio perto, no coração da cidade velha, com um estilo bastante ocidental (e café Illy!). Aí enchemos a barriguinha para irmos explorar a cidade.
Decidimos seguir um itinerário algo aleatório, mas que basicamente nos leva em direcção a norte, ao longo do rio. Um passeio que se revelou muito compensatório, porque nos permitiu ter uma visão muito abrangente da cidade. Passámos por ruas pitorescas repletas de restaurantes, bem ao estilo do sul da Europa, igrejas, e até encontrámos a velha torre do relógio, suportada por uma viga de metal, tal é a inclinação! Também atravessámos a Ponte da Paz, pedonal, até ao outro lado do rio, onde temos o parque Rike, com o seu futurista Centro de Exposições e Auditório. Que, curiosamente, não parece estar a funcionar...
Regressámos à outra margem e continuámos caminho, absorvendo o recente e o antigo numa cidade de contrastes. Junto a rio encontrámos um café adorável, de seu nome Book Lovers - adequado à posição que ocupa, junto a bancas de alfarrabistas. Uma pausa para uma bebida refrescante com vista para o rio, que veio mesmo a calhar - faz calor!
Mesmo ali, à distância de um lanço de escadas, está o mercado da Dry Bridge (Ponte Seca), onde encontrámos uma panóplia de objectos, principalmente antigos (dos tempos da USSR), que exploramos brevemente. O J. anda à procura de relógios e quer dar uma vista de olhos.
Dali seguimos um bocadinho mais para norte, em direcção à galeria da arte Photographia - como o nome indica, a fotografia ali é rainha. É um espaço pequeno e interessante, com algumas belas fotografias para venda. Há uma que me chama a atenção, tirada em Tusheti (uma outra região montanhosa da Geórgia), de um fotógrafo chamado Maurice Wolf. Às vezes acho que devia investir nestas coisas... mas ainda não tive coragem para me permitir gastar dinheiro nessas coisas!
Somos barrados à saída porque aparentemente anda um cão zangado no átrio do edifício! Ali passamos uns cómicos 5 minutos à espera que nos deixem seguir caminho.
Agora numa zona bastante diferente da cidade, encontrámos a livraria Prosperous Books, fundada por um senhor que escreveu o guia de caminhada na Geórgia que trazemos connosco. É a maior loja em Tbilisi para encontrar livros em inglês (e outras línguas) e tem também um simpático café. Passámos os olhos pelas prateleiras, ansiosos por descobrirmos preciosidades locais... mas tal não aconteceu e saímos um pouco desiludidos.
Com o dia a avançar e nós sem termos almoçado, resolvemos andar mais um pouco, novamente até à outra margem do rio, para fazermos uma visita a um dos melhores restaurantes de Tbilisi, segundo pudemos apurar. Chama-se Barbarestan e tem um ambiente calmo e antiquado (de forma positiva). Na Geórgia não há restaurantes com estrelas Michelin, mas este seria um bom candidato. O menu é distintivamente diferente (perdoem-me o pleonasmo), misturando ingredientes tipicamente georgianos com uma abordagem singular. Baseia-se num famoso livro de receitas elaborado por Barbare Jorjadze, declaradamente feminista, na segunda metade do século XIX. Barbare é uma personagem muito acarinhada no país, e a ela é dedicado o nome do restaurante.
Começamos com uns croquetes de lagostim e uma sopa do mesmo, como entradas para partilhar. A apresentação e serviço são impecáveis. Para prato principal, pedimos um salmão cozinhado em papelote numa cama de vegetais, servido com molho de mel e romã; e um rolo de coelho com coração de espinafres, acompanhado com pequenos marmelos confitados e queijo-creme. Pode parecer uma combinação estranha, mas estava tudo maravilhoso! Para terminar, pedimos duas sobremesas, com toques tradicionais, mas de abordagem diferente: a minha, uma sinfonia de sabores, incluindo um semicrocante de nozes, dois tipos de creme de uva (algo tipo mosto), morangos, notas de chocolate branco e pequenos discos gelatinosos de algo que agora não me lembro. Uma explosão de sabores!
De barrigas cheias e almas consoladas, voltámos ao nosso alojamento atravessando a cidade a pé, num passeio agradável de início de noite.
Todas as fotografias por Rita Barbosa
Começamos com uns croquetes de lagostim e uma sopa do mesmo, como entradas para partilhar. A apresentação e serviço são impecáveis. Para prato principal, pedimos um salmão cozinhado em papelote numa cama de vegetais, servido com molho de mel e romã; e um rolo de coelho com coração de espinafres, acompanhado com pequenos marmelos confitados e queijo-creme. Pode parecer uma combinação estranha, mas estava tudo maravilhoso! Para terminar, pedimos duas sobremesas, com toques tradicionais, mas de abordagem diferente: a minha, uma sinfonia de sabores, incluindo um semicrocante de nozes, dois tipos de creme de uva (algo tipo mosto), morangos, notas de chocolate branco e pequenos discos gelatinosos de algo que agora não me lembro. Uma explosão de sabores!
De barrigas cheias e almas consoladas, voltámos ao nosso alojamento atravessando a cidade a pé, num passeio agradável de início de noite.
O interior do nosso edifício |
Igreja no centro antigo de Tbilisi |
Centro de Exposições e Auditório no parque Rike |
A torre do relógio, suportada por uma viga de metal |
Alfarrabistas à beira-rio |
Mercado de Dry Bridge |
O nosso manjar no Barbarestan! |
A aventura no Cáucaso (dia 6, ou mais um dia de rabo quadrado)
Chega ao fim a nossa estadia nas montanhas de Svaneti. Ficamos até mais tarde na cama, já que o nosso transporte para Zugdidi é só ao meio-dia. E o plano é apenas seguir até ao centro da vila, comprar uns postais na loja de souvenirs, "visitar" um dos padeiros e aproveitar para fotografar o fantástico processo de fazer o pão, tomar café e usar a rede WiFi.
Ora bem, todos os nossos planos falharam. Principalmente, porque há um apagão a afectar toda a vila e, como tal, não há café nem WiFi. Padeiros, nem vê-los, está tudo fechado. Os postais lá conseguimos comprar, depois de esperar que o dono da loja fosse ao banco. Mas afinal não eram tão bonitos como tínhamos pensado, ou então não eram de Mestia. Assim sendo, compramos só um cada. E, depois, foi esperar pelo transporte. Que, como antecipado, foi feito numa carrinha Ford Transit convertida em minibus para 12 pessoas. Muito velhinha e sem cintos de segurança. O que, aliado à já mencionada habilidade de condução neste país, nos fez temer o pior.
Em vez de sairmos ao meio-dia, como anunciado, esperamos uma boa meia hora extra, talvez à espera de mais viajantes. Que não apareceram. Assim, éramos seis, mais o condutor e um "amigo", alguém cuja função não foi possível descortinar.
A viagem, que durou sensivelmente três horas, foi atribulada como antecipado, mas não tão má como poderíamos esperar. Muitos saltos, muitas travagens repentinas, uma viagem digna de um rali. Estranho que não se vejam mais condutores georgianos nessa modalidade. Com certeza, seriam bem sucedidos.
Mas foi uma viagem bonita, a paisagem, primeiro de alta montanha, depois lentamente a descer para o vale, com um belo rio de um azul estonteante a serpentear ao nosso lado.
Por volta das 16h, chegámos a Zugdidi, a cidade mais desenvolvida na zona nordeste do país.
We arrived at the humid central station of Zugdidi, the closest major Georgian city to Abkhazia (a breakaway region). With two hours to kill before our 6:15pm train departed the beautiful decaying grandeur of Zugdidi's station we set out to find a restaurant. This effort was hindered slightly by the station's location, approximately 40 mins from the city centre.
Assim sendo, tivemos mesmo que explorar as redondezas da estação que, como em qualquer país, não são brilhantes. Encontrámos um sítio que servia comida, onde pedimos uma salada de tomate e pepino (omnipresente por estas bandas) e um kachapouri. Tudo muito bom, e que caiu mesmo bem nos nossos estômagos vazios e desejosos de conforto! Só me chateou ao pagar, quando nos pediram uma pequena exorbitância (tendo em conta o que é normal por aqui) pela refeição. Principalmente num sítio que é basicamente uma tasca. Mas pronto. Que se há-de fazer quando se está num sítio sem menu e onde não se fala a língua?
De volta à estação, ainda temos algum tempo para matar. Por incrível que pareça, há uma WiFi aberta (do comboio, aparentemente) que conseguimos usar. O que dá jeito para comunicar com a nossa anfitriã em Tbilisi, onde chegaremos por volta da meia-noite, depois de mais de cinco horas de viagem.
Uma boa meia hora antes da hora de partida, já havia uma considerável fila de locais em frente à porta da primeira carruagem. Isto porque o comboio já lá estava há um bom bocado. E os nossos bilhetes, comprados online, dizem que estamos na carruagem 1. Também! Quando as portas finalmente abrem, começa um interessante processo de entrada a bordo, com um senhor velhote a confirmar os bilhetes antes de nos deixar entrar (com uma lista com os nossos nomes!). Mas a melhor parte é ver famílias inteiras a carregar malas e malinhas, como se esta fosse uma daquelas viagens que se faz uma vez por ano... talvez seja o fim do Verão. É com certeza um cenário para apreciar.
O comboio sai um bocadinho depois das 18h15, hora marcada para a saída. Mas pôr toda a gente dentro do comboio demorou o seu tempo! E depois houve as despedidas, com os mais queridos que ficam a serem convidados a sair pelo revisor. E lá vamos nós, com o sol a esconder-se rapidamente no horizonte, exuberantemente em tons de púrpura. Como um grande incêndio no céu.
Daí em diante, foi uma pequena luta com o tempo que não passa, como não poderia deixar de ser numa viagem dessa duração. Há muitas crianças a correr de um lado para o outro, paragens ocasionais em estações envolvidas na penumbra, vozes lá fora que anunciam a venda de comida...
Cerca da meia-noite, chegamos à estação central de Tbilisi. Como prometido, mais parece um hangar que uma estação ferroviária. E, lá dentro, um centro comercial para acolher os viajantes.
Mas é tarde e temos pressa de chegar ao nosso alojamento, bem no centro da cidade. Uma viagem de táxi leva-nos até lá - um edifício antigo, onde temos um bocadinho de dificuldade em encontrar o nosso apartamento. As escadas comuns estão a descair e há toda uma decadência charmosa. Faz-me lembrar os ditos cortiços das telenovelas brasileiras!
Com tudo isto vamos tarde deitar-nos, ansiosos com aquilo que o "regresso à cidade" nos trará amanhã.
Paisagem da viagem entre Mestia e Zugdidi, ao descermos para a cidade (o mencionado rio azul) |
Pessoas à espera do comboio na estação de Zugdidi |
Estação de Zugdidi |
Exterior da estação de Zugdidi |
Todas as fotografias por Rita Barbosa.
Nota em inglês escrita pelo J.
A aventura no Cáucaso (dia 5, ou a visita ao glaciar)
É o nosso terceiro dia em Mestia e, finalmente, vamos fazer a caminhada que o J. tanto quer, ao sopé do glaciar Chaladi (ou Chalaati, há várias formas de escrever).
O nosso anfitrião disse-nos que não era boa ideia porque andam a construir uma central hidroeléctrica e de abastecimento de água no caminho que leva ao glaciar, mas nós, teimosos, resolvemos ignorar e seguir caminho.
Os primeiros 8/9km são basicamente planos, e primeiro que deixemos de ver a vila passa-se quase uma hora, com passagem pelo aeroporto com o seu edifício minúsculo onde todos os dias vemos pequenos aviões a aterrar e a levantar voo.
É verdade que o caminho é feito por uma estrada de terra batida onde o fluxo de camiões de todos os tipos é estonteante. Tal como os escapes que atingem os nossos pulmões! Lá se vai a mais-valia de andar pela natureza... Temos que dar a mão à palmatória e admitir que não foi o passeio mais agradável que fizemos. Mas, ao chegar ao ponto de acesso ao glaciar, saímos da estrada principal e enveredamos por um trilho de floresta junto ao rio, por demais pitoresco. Mais parecia uma floresta encantada, onde poderíamos a qualquer momento ver fadas a saltitar de arbusto em arbusto.
O rio, que resulta do degelo do glaciar (segundo julgo), tem um caudal impressionante e quase que assusta. Há uma zona em que podemos experimentar molhar as mãos, e a água é gelada!
A determinada altura, saímos da floresta e o caminho é então feito equilibrados em pedregulhos (também eles resultado da erosão do glaciar). O cenário é estranho, quase desolador (de tão árido). Um forte contraponto à vegetação luxuriante que deixámos para trás.
Embora não me tenha informado devidamente, parece-me que o glaciar há-de ter recuado muito em tempos recentes. Talvez o resultado de um Verão extraordinariamente quente... Vemos a língua do glaciar lá em cima, na montanha, enquanto que cá em baixo há apenas pedras, e o rio que brota de uma espécie de caverna. Vemos pedregulhos a rolar pela encosta e a mergulhar nas águas. Há algumas pessoas que miram o espectáculo com impassividade! Nós por ali ficamos um bocado. A observar. Natureza e pessoas. Há um rapaz que ensaia uns passos de breakdancing encavalitado numa rocha, enquanto o amigo o filma com o telemóvel.
O regresso é pelo mesmo caminho, novamente com o sol a descer. Temos tempo e, por isso, paramos para uma cerveja no bar de beira de estrada, a observar o burburinho dos trabalhadores em final de dia.
Ao chegarmos à vila, esfomeados, vamos novamente ao café "Panorama". Mas desta vez, para além das cervejas, pedimos um mini-banquete: um pão recheado com carne (kudbari), frango com molho de natas e alho (um frango inteiro!), carne de porco frita com batatas (que muito me fez lembrar a nossa carne de porco à portuguesa), acompanhados com salada de tomate e pepino, mais um pão de milho típico. Não conseguimos terminar tudo, mas quase!
E lá fomos novamente enfrentar o frio até à outra ponta da vila, para aquela que seria a nossa última noite em Mestia.
Todas as fotografias por Rita Barbosa
O nosso anfitrião disse-nos que não era boa ideia porque andam a construir uma central hidroeléctrica e de abastecimento de água no caminho que leva ao glaciar, mas nós, teimosos, resolvemos ignorar e seguir caminho.
Os primeiros 8/9km são basicamente planos, e primeiro que deixemos de ver a vila passa-se quase uma hora, com passagem pelo aeroporto com o seu edifício minúsculo onde todos os dias vemos pequenos aviões a aterrar e a levantar voo.
É verdade que o caminho é feito por uma estrada de terra batida onde o fluxo de camiões de todos os tipos é estonteante. Tal como os escapes que atingem os nossos pulmões! Lá se vai a mais-valia de andar pela natureza... Temos que dar a mão à palmatória e admitir que não foi o passeio mais agradável que fizemos. Mas, ao chegar ao ponto de acesso ao glaciar, saímos da estrada principal e enveredamos por um trilho de floresta junto ao rio, por demais pitoresco. Mais parecia uma floresta encantada, onde poderíamos a qualquer momento ver fadas a saltitar de arbusto em arbusto.
O rio, que resulta do degelo do glaciar (segundo julgo), tem um caudal impressionante e quase que assusta. Há uma zona em que podemos experimentar molhar as mãos, e a água é gelada!
A determinada altura, saímos da floresta e o caminho é então feito equilibrados em pedregulhos (também eles resultado da erosão do glaciar). O cenário é estranho, quase desolador (de tão árido). Um forte contraponto à vegetação luxuriante que deixámos para trás.
Embora não me tenha informado devidamente, parece-me que o glaciar há-de ter recuado muito em tempos recentes. Talvez o resultado de um Verão extraordinariamente quente... Vemos a língua do glaciar lá em cima, na montanha, enquanto que cá em baixo há apenas pedras, e o rio que brota de uma espécie de caverna. Vemos pedregulhos a rolar pela encosta e a mergulhar nas águas. Há algumas pessoas que miram o espectáculo com impassividade! Nós por ali ficamos um bocado. A observar. Natureza e pessoas. Há um rapaz que ensaia uns passos de breakdancing encavalitado numa rocha, enquanto o amigo o filma com o telemóvel.
O regresso é pelo mesmo caminho, novamente com o sol a descer. Temos tempo e, por isso, paramos para uma cerveja no bar de beira de estrada, a observar o burburinho dos trabalhadores em final de dia.
Ao chegarmos à vila, esfomeados, vamos novamente ao café "Panorama". Mas desta vez, para além das cervejas, pedimos um mini-banquete: um pão recheado com carne (kudbari), frango com molho de natas e alho (um frango inteiro!), carne de porco frita com batatas (que muito me fez lembrar a nossa carne de porco à portuguesa), acompanhados com salada de tomate e pepino, mais um pão de milho típico. Não conseguimos terminar tudo, mas quase!
E lá fomos novamente enfrentar o frio até à outra ponta da vila, para aquela que seria a nossa última noite em Mestia.
Puri (o pão típico) |
Vista parcial de Mestia pela manhã |
A igreja de São Jorge |
A floresta encantada na subida para o glaciar |
O rio |
A nascente de onde brota o rio |
Mestia ao final no dia |
O nosso mini-banquete, com kudbari em primeiro plano |
Todas as fotografias por Rita Barbosa
A aventura no Cáucaso (dia 4, impróprio para pessoas com vertigens)
Segundo dia de caminhadas em Mestia. Para hoje escolhemos "atacar" a montanha do outro lado do vale, oposta à que subimos ontem. Mais ou menos a sul da vila.
Foi nessas montanhas que nasceram, há uns seis ou sete anos, umas pistas de ski, e é uma zona onde grandes investimentos foram/estão a ser feitos para desenvolver Mestia como um destino para os praticantes da modalidade. Há dois elevadores de ski, um a seguir ao outro, que nos levam até ao cimo da montanha, ao monte Zuruldi. Como a caminhada até lá é de 15km, com um ganho de altitude de perto de 900m, resolvemos tentar a nossa sorte nos elevadores, para encurtar o caminho (e ganhar tempo).
Chegados ao primeiro elevador (Mestia-Hatsvali), deparámo-nos com o mesmo parado. Estão em obras, ao que parece. Há que seguir a pé até ao seguinte, numa caminhada de cerca de 6km, por entre floresta densa primeiro, depois estrada florestal e, por fim, prados verdejantes. O segundo elevador, esse sim, estava a funcionar. E nós lá comprámos bilhete para nos enfiarmos numas cestas de metal, nas quais subimos quase 500m de altitude em cerca de 2km, num período de nove minutos e meio (sim, estavam todos os detalhes descritos!). Com o meu pânico de alturas, foram uns nove minutos de muito sofrimento! Mas as vistas compensam tudo quando, chegados a Zuruldi, a 2350m, temos um panorama desafogado das montanhas ao nosso redor. Junto ao elevador, um bar com terraço, bem ao estilo das estâncias de ski. Sentámo-nos a desfrutar as vistas enquanto bebemos um chá a acompanhar uns pistáchios vindos connosco desde Londres, o que nos valeu ser abordados pela senhora sentada à nossa beira, uma médica belga a viver em Londres.
Depois de efectuada uma boa fotossíntese, seguimos com a caminhada ao longo do topo da montanha, até à estação de televisão. Uma caminhada curta, de cerca de uma hora para cada lado, mas que nos proporciona vistas excelentes para os vales (e montanha) de ambos os lados. Isto misturado com árvores e arbustos a adquirir tonalidades outonais.
Regressamos a tempo para apanhar o teleférico de regresso, agora com Mestia e o seu vale bem aos nossos pés. Impressionante! Mesmo com muito medo, consegui apreciar o quão majestosa a natureza ali se apresenta.
Depois foi regressar à vila pelo mesmo caminho, com a maravilhosa luz dourada do final de dia, e acabar num café chamado "Panorama" a beber uma cerveja com uma vista fenomenal. Voltámos ao mesmo sítio de há dois dias para alguma comida reconfortante e mais música típica (os rapazes eram os mesmos).
Aproveitámos a animação durante algum tempo depois de jantarmos, até recolhermos ao nosso alojamento. Faz frio e o corpo está cansado.
O elevador Mestia-Hatsvali (parado) |
Elevador Hatsvali-Zuruldi |
No topo da montanha |
As montanhas ao nosso redor |
A descida no teleférico |
Mestia enquadrada pela floresta |
A vista do café "Panorama" |
Todas as fotografias por Rita Barbosa
A aventura no Cáucaso (dia 3, quando começamos a dar à perna)
Agora sim, começam as férias. Estamos prontos para caminhar, com todo o "equipamento" necessário - perceba-se, botas de caminhada, casacos à prova de vento, e pouco mais. Depois de um pequeno-almoço simpático, seguimos até ao centro da vila para abastecer a mochila para o dia que nos espera. Que é como quem diz água, quatro maçãs e dois pães típicos (puri, como se diz por aqui). Talvez tenhamos sido um pouco optimistas... mas já lá vamos.
Para abrir as hostilidades, resolvemos começar com a caminhada até aos lagos Koruldi, que parece ser das mais difíceis que se pode fazer num só dia. A meio do caminho, passa pela Cruz de Mestia, a 2200m de altitude, local onde se tem uma vista panorâmica sobre o vale e sobre a vila.
A primeira parte do percurso é difícil e nós enganámo-nos no caminho logo pouco depois de começar, o que fez com que tivéssemos que subir a encosta a pique até encontrar o "verdadeiro" caminho. Foi uma estafa, que me deixou o coração a bater desvairado e que me deitou abaixo para o resto do dia. É verdade que não estou em muito boa forma, mas foi realmente difícil. Indo aos detalhes, são 800m de ascensão numa distância de 4km. Deixo-vos a pensar nisso.
A vista, essa, é magnífica, até dá vertigens do quão abrupta é a encosta. Até vemos o avião (pequenino, de voos internos) a levantar voo e a atravessar o vale!
Depois de uns snacks para retemperar energias, continuamos caminho, desta vez com uma inclinação muito mais suave. Pelo menos de início! A paisagem é deslumbrante, com montanhas por todo o lado, cujas encostas repletas de pinheiros e outras árvores oferecem um panorama multicolor (principalmente agora que nos aproximamos do Outono). Há momentos em que a inclinação é dura, mas tudo é recompensado quando chegamos junto aos lagos (que não estão no cume da montanha, mas sim a 2740m de altitude), sob um sol radioso a brilhar nas águas de cor quase avermelhada! Por ali demoramos um pouco, a saborear o momento.
A descida é bastante dura, proporcionalmente à subida. E quando já estamos perto da vila, enganámo-nos novamente, o que nos faz percorrer uns bons 3 ou 4km adicionais!
Para terminar o dia, resolvemos ir ao restaurante mais perto do nosso alojamento, onde escolhemos a mesa no varandim com vista para as montanhas. Aí apreciámos o final do dia e saboreámos uma boa comida típica, regada com vinho da casa. Um final de dia maravilhoso, apesar do serviço errático, o que parece ser comum por aqui.
Ao chegar a "casa", um pouco de yoga para alongar os músculos cansados, antes de saltar para debaixo do chuveiro! Bem merecido descanso.
Subida para a Cruz de Mestia |
Vista da Cruz de Mestia |
Vista da Cruz de Mestia |
Lagos Koruldi e o Monte Ushba atrás |
Lagos Koruldi |
Lagos Koruldi |
Jantar com vista para as montanhas |
Todas as fotografias por Rita Barbosa
A aventura no Cáucaso (dia 2, ou o rabo que fica quadrado de tantas horas de viagem)
Dormimos sem despertador, mas nem por isso o sono foi reparador. Às vezes é assim.
Arranjámo-nos rapidamente para pedirmos pequeno-almoço, algo que não deixámos organizado no dia anterior. As expectativas para a comida da Geórgia são muitas, e para começar não saímos defraudados. Tivemos direito a omolete com pão, e depois um prato gigante de crepes, que degustámos com doce de morango e iogurte. Que barrigada!
Para pagar a nossa estadia, tivemos uma animada conversa via telefone com ajuda do Google tradutor - as novas tecnologias acabam por ser práticas neste país onde nem sempre é fácil encontrar quem fale inglês. Mas o que importa é que as pessoas se entendam!
Esperamos pelo motorista que nos levará a Mestia, também organizado pelos nossos anfitriões. Acaba por ser o mesmo de ontem, embora nos pareça um pouco diferente. E não podemos deixar de reparar na arma que traz à cintura, enfiada nas calças de ganga. Disseram-nos eles que é polícia, há que confiar.
Mestia é o nosso primeiro destino na Geórgia, uma vila perdida nas montanhas do Alto Cáucaso, no norte do país. É o ponto de partida para explorarmos as montanhas dessa região chamada Svaneti. Optámos por contratar alguém para nos levar até lá porque os transportes públicos demoram muito tempo e, para tal, teríamos que acordar muito cedo. Preferimos não o fazer.
A viagem, de uns 250/300Km, faz-se primeiro pela estrada de ontem, mas em sentido contrário. É uma estrada recta, que convida à velocidade, se bem que de forma controlada. Vou prestando atenção ao que nos rodeia, apesar do cansaço que me faz pesar os olhos. Há postos de gasolina por todo o lado, já tinha reparado ontem. Haverá petróleo nas imediações? Lembro-me do Sr. Gulbenkian e do petróleo de Baku - não é muito longe.
Vamos seguindo viagem, e por todo o lado se vêem vacas a pastar nas bermas da estrada. A determinada altura, encontramos umas quatro ou cinco que decidiram deitar-se bem no meio da faixa de rodagem! E a tudo isto o nosso motorista vai respondendo com destreza, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Se calhar é... Motorista interessante esse, que vai passando CDs atrás de CDs com músicas variadas, desde os últimos hits, incluindo Despacito, até música que creio ser local. Tudo a uma velocidade estonteante, músicas a passar à frente, CDs a serem trocados constantemente. A determinada altura, reparo que ele se benze profusamente sempre que passamos uma igreja. Rapaz religioso, portanto. Mas voltemos aos bichos: para além das vacas, também vemos porcos pelas bermas, embora menos numerosos. Pastarão também? A certa altura, ao passarmos uma pequena localidade, nada mais nada menos que um javali fêmea atravessa a estrada. E na passadeira! Cena completamente surreal.
Mas nem só de animais é feita esta viagem. Reparo na arquitectura das casas de campo, todas muito semelhantes, com um estilo que me parece colonial. Casas grandes, de linhas rectas, com grandes varandas. Tenho que pesquisar sobre elas.
Depois de passarmos Zugdidi, o cenário muda, torna-se mais acidentado e, a dada altura, damos por nós a serpentear um rio de um azul eléctrico impressionante.
Depois de uma breve paragem para desentorpecer as pernas, continuamos a viagem, que no total durou quase 5 horas.
Chegámos moídos e saturados. E foi difícil encontrar o nosso alojamento, bem na extremidade da vila. Alojamento esse que desilude e cria frustração numa altura em que não há grande paciência para ela.
Depois de deixarmos as nossas coisas, fomos explorar o centro da vila à procura de comida - não comíamos nada desde o pequeno almoço e já o sol estava a desaparecer! Não há muita escolha, por isso arriscamos num café bem central, com muitas pessoas na esplanada. Sentamo-nos lá dentro, prontos para degustar umas iguarias da região. Pedimos katchapouri, um pão em forma de barco recheado com queijo, manteiga e ovo (!), um outro pão recheado com carne, e beringela com uma pasta de nozes. Outra barrigada, acompanhada de música típica ao vivo, que uns rapazes estavam a tocar ao fundo da sala. Bela experiência antes de regressarmos ao nosso alojamento, uns bons vinte minutos a pé, e de enfrentarmos o frio que se faz sentir lá fora. Afinal de contas, estamos nas montanhas.
A aventura no Cáucaso (primeiro dia, ou as impressões de aterrar quase de madrugada)
Bem, foi um primeiro dia que nem chegou a ser, porque aterrámos em Kutaisi já depois da meia-noite local, depois de uma primeira tentativa frustrada para aterrar. Vento, disseram eles, mas à segunda foi de vez e de forma bem suave. Um mimo.
O aeroporto de Kutaisi é pequeno e num instante passámos o controlo de passaporte, com direito a carimbo e tudo. Tivemos que esperar um bocadinho pela minha mochila, e depois encontrar o nosso motorista, enviado pela casa de hóspedes que marcámos.
Faz mais calor do que em Londres, o que é uma agradável surpresa.
A viagem de cerca de meia hora até ao centro da cidade (e até ao nosso alojamento) deu para termos uma primeira impressão da famigerada condução georgiana - para além de (quase) parecer não haver regras, alguns carros têm volante à esquerda, outros à direita. Mas conduz-se pela direita. Que estranho.
Chegámos já passava da uma da manhã e à nossa espera tínhamos um anfitrião ensonado que nos mostrou o nosso quarto e rapidamente nos desejou boa noite. Não por palavras, porque não falava inglês. Mas era o que ele queria dizer.
E nós, chegados de uma terra onde mal eram onze da noite, lá fizemos um esforço para dormir.
Viagem à Suiça do Médio Oriente (aka, Jordânia) - dia 8, e chega ao fim esta bela viagem
Último dia na Jordânia. Dia que dedicamos a explorar um pouco de Amman e o seu potencial de compras. Mas primeiro, pequeno-almoço no terraço sob o sol matinal. Os níveis de energia vão progressivamente diminuindo, fruto dos dias preenchidos que temos tido. Mas hoje é para andar sem stresses ou preocupações.
Visto que o nosso hotel é muito perto da zona onde estão concentradas as maiores "atracções" de Amman, podemos fazer tudo a pé. O que sabe bem depois destes dias todos a viajar de táxi. Descemos a rua e, por entre ruas animadas e repletas de lojas, abrimos caminhos em direcção ao Teatro Romano. Também aqui há um, e por sinal o maior do país. Noto, ao caminhar pelas ruas, que há muitas lojas de roupa "ocidental" para homem, mas nenhuma para mulher. Admiro-me mais uma vez ao perceber estes "pequenos" detalhes que muito dizem sobre o papel da mulher na sociedade jordana. Principalmente se considerar o quão moderna a família real parece ser (como mostra, por exemplo, o historial de divórcios do falecido rei Hussein). Imagino que estando na parte mais antiga e, possivelmente, conservadora da cidade seja "normal" dar-me conta destes pormenores. E conto que haja uma outra Amman, mais cosmopolita, onde os comportamentos sejam menos restritivos.
O Teatro Romano, esse, está inserido no sopé de uma das milhentas colinas da cidade, a dominar o cenário. É realmente grande e está muito bem conservado. Há vários grupos de crianças e adolescentes a visitar, bem como pequenos grupos de locais a aproveitar a sombra. É um cenário interessante. Subo os vários lanços de escadas para ver a vista lá de cima. Consigo ver a Citadela e as colunas do templo de Hércules, na colina em frente. E consigo apreciar melhor a dimensão do espaço. É impressionante pensar que, há quase 2000 anos atrás, a sociedade já estava de tal forma evoluída que se construíam lugares de entretenimento grandiosos como este (e outros).
Depois de um momento bom a observar os locais, e de explorarmos os dois pequenos museus na base do teatro, encetamos aquela que é descrita como uma subida muito íngreme até à Citadela. Seguimos aquele que nos parece o caminho mais óbvio (e perto) e acabamos a passar por quintais de casas privadas, e entramos incógnitos na Citadela, na zona de um miradouro. Não se preocupem que o bilhete estava incluído no Jordan Pass, que compramos antes da viagem, e assim não prejudicamos ninguém. Mas não deixa de ter a sua piada, entrar à socapa sem querer.
Na Citadela, encontramos vestígios das diversas "vidas" da cidade de Amman. Primeiro na pré-história, quando o seu nome era Rabbah-Ammon; depois como Philadelphia na altura dos Romanos; e finalmente como Amman a partir do período Islâmico e até aos nossos dias. As vistas panorâmicas da cidade são impressionantes pela sua dimensão. Amman é realmente uma cidade muito grande.
Depois de uma manhã de cultura e ruínas, estamos prontos para almoçar e gastar dinheiro! Rumamos até à Rainbow Street (baptizada com esse nome graças à existência do cinema Rainbow numa das suas extremidades), alegadamente local primordial de socialização. Hoje, e ao início da tarde, parece-nos estranhamente calma. Não sei se será da hora ou se é sempre assim. Mas a nossa ânsia por produtos típicos e lojas interessantes fica por cumprir, porque depois de fazermos a rua em ambos os sentidos, continuamos sem ver nada de especial. Uma pequena desilusão. No entanto, visitamos uma loja simpática de produtos de beleza naturais (à base de minerais do Mar Morto), na qual perdemos um pouco a cabeça - e a qual nos faz perceber o quanto fomos "levados" nas compras anteriores que fizemos. Enfim... Para terminar a rota das compras, acabei numa mercearia a comprar salva seca, omnipresente chá que por cá bebem. Já que a minha acabou, reponho os stocks com salva vinda directamente da Jordânia.
E assim terminam umas férias muito bem passadas. Um país muito bonito, acolhedor, e com muito para oferecer e explorar. Fica tanto por fazer... mas tanto melhor, porque assim há sempre uma razão para voltar.
Visto que o nosso hotel é muito perto da zona onde estão concentradas as maiores "atracções" de Amman, podemos fazer tudo a pé. O que sabe bem depois destes dias todos a viajar de táxi. Descemos a rua e, por entre ruas animadas e repletas de lojas, abrimos caminhos em direcção ao Teatro Romano. Também aqui há um, e por sinal o maior do país. Noto, ao caminhar pelas ruas, que há muitas lojas de roupa "ocidental" para homem, mas nenhuma para mulher. Admiro-me mais uma vez ao perceber estes "pequenos" detalhes que muito dizem sobre o papel da mulher na sociedade jordana. Principalmente se considerar o quão moderna a família real parece ser (como mostra, por exemplo, o historial de divórcios do falecido rei Hussein). Imagino que estando na parte mais antiga e, possivelmente, conservadora da cidade seja "normal" dar-me conta destes pormenores. E conto que haja uma outra Amman, mais cosmopolita, onde os comportamentos sejam menos restritivos.
O Teatro Romano, esse, está inserido no sopé de uma das milhentas colinas da cidade, a dominar o cenário. É realmente grande e está muito bem conservado. Há vários grupos de crianças e adolescentes a visitar, bem como pequenos grupos de locais a aproveitar a sombra. É um cenário interessante. Subo os vários lanços de escadas para ver a vista lá de cima. Consigo ver a Citadela e as colunas do templo de Hércules, na colina em frente. E consigo apreciar melhor a dimensão do espaço. É impressionante pensar que, há quase 2000 anos atrás, a sociedade já estava de tal forma evoluída que se construíam lugares de entretenimento grandiosos como este (e outros).
Depois de um momento bom a observar os locais, e de explorarmos os dois pequenos museus na base do teatro, encetamos aquela que é descrita como uma subida muito íngreme até à Citadela. Seguimos aquele que nos parece o caminho mais óbvio (e perto) e acabamos a passar por quintais de casas privadas, e entramos incógnitos na Citadela, na zona de um miradouro. Não se preocupem que o bilhete estava incluído no Jordan Pass, que compramos antes da viagem, e assim não prejudicamos ninguém. Mas não deixa de ter a sua piada, entrar à socapa sem querer.
Na Citadela, encontramos vestígios das diversas "vidas" da cidade de Amman. Primeiro na pré-história, quando o seu nome era Rabbah-Ammon; depois como Philadelphia na altura dos Romanos; e finalmente como Amman a partir do período Islâmico e até aos nossos dias. As vistas panorâmicas da cidade são impressionantes pela sua dimensão. Amman é realmente uma cidade muito grande.
Depois de uma manhã de cultura e ruínas, estamos prontos para almoçar e gastar dinheiro! Rumamos até à Rainbow Street (baptizada com esse nome graças à existência do cinema Rainbow numa das suas extremidades), alegadamente local primordial de socialização. Hoje, e ao início da tarde, parece-nos estranhamente calma. Não sei se será da hora ou se é sempre assim. Mas a nossa ânsia por produtos típicos e lojas interessantes fica por cumprir, porque depois de fazermos a rua em ambos os sentidos, continuamos sem ver nada de especial. Uma pequena desilusão. No entanto, visitamos uma loja simpática de produtos de beleza naturais (à base de minerais do Mar Morto), na qual perdemos um pouco a cabeça - e a qual nos faz perceber o quanto fomos "levados" nas compras anteriores que fizemos. Enfim... Para terminar a rota das compras, acabei numa mercearia a comprar salva seca, omnipresente chá que por cá bebem. Já que a minha acabou, reponho os stocks com salva vinda directamente da Jordânia.
E assim terminam umas férias muito bem passadas. Um país muito bonito, acolhedor, e com muito para oferecer e explorar. Fica tanto por fazer... mas tanto melhor, porque assim há sempre uma razão para voltar.
Teatro Romano em Amman |
Teatro Romano em Amman (vista do topo) |
Templo de Hércules (Citadela) |
Amman vista da Citadela |
Rua de Amman |
Viagem à Suiça do Médio Oriente (aka, Jordânia) - dia 7, ou as ruínas do norte
Mais um dia a começar cedo, para mais uma viagem a partir de Amman. Não sem antes tomar o pequeno-almoço no terraço do nosso hotel, com o sol a bater na cara e com a baixa de Amman como companhia.
O nosso motorista (o mesmo de ontem) vem buscar-nos às 9h30 para nos levar a Jerash e a Ajloun. No entanto, primeiro leva-nos a visitar a Mesquita do Rei Abdullah. Talvez seja apenas a segunda vez que visito uma mesquita, depois de o ter feito anteriormente em Istambul. É uma sensação estranha. Primeiro, não gosto particularmente de visitar locais de culto religioso enquanto turista. Acho que há algo de devassamento numa situação dessas. Ainda mais quando não é do "meu" culto que se trata (não que eu seja de modo algum religiosamente activa). Apesar disso, mesquitas vazias (como estão quando é permitida a entrada a turistas) têm algo de muito repousante. Espaços tendencialmente grandes e despidos de ornamentos, convidam facilmente à reflexão. Gosto dos jogos de luz e sombra, dos enormes candeeiros pendentes do tecto alto.
Seguimos então viagem para Jerash, antiga cidade romana, num estado de preservação muito razoável. Nela deambulamos durante algumas horas, por entre ruínas de templos, igrejas, teatros, zonas comerciais, ruas colunadas... Há para todos os gostos e a fotogenia do local é elevada. Interessante que não seja um sítio todo bem arranjadinho, organizado. Aqui podemos andar à vontade, trepar a qualquer vestígio, que não há ninguém para nos impedir. Não são muitos os sítios onde temos tamanha liberdade para explorar. Entretanto, a manhã já deu em tarde e a fome começa a apertar, pelo que pedimos ao nosso motorista para fazermos pausa para almoço antes de seguirmos para o castelo de Ajloun.
Almoçamos num sítio óptimo, com uma quantidade de comida que dava para um batalhão (tradicional comida do Médio Oriente, com mezzes frias e kebabs) - tudo a transbordar de sabor e acompanhado do fresquíssimo sumo de limão com menta (tenho que experimentar fazer por casa). Pena é que tenhamos pouco tempo para dedicar ao almoço, isso se quisermos apanhar o castelo aberto. A viagem até lá é alucinante, por entre colinas salpicadas de verde. A paisagem é muito diferente aqui, muito mais fértil. Perdem-se de vista terraços e terraços de oliveiras. Que me fazem agradecer o facto de estarmos em Novembro e o período de polinização ser na Primavera.
O castelo de Ajloun, erguido no cimo de uma destas colinas, é do tempo das Cruzadas e, aprendemos, manteve-se sempre invicto durante o período de invasões. Temos vistas de 360º que deixam antever o vale do rio Jordão e a Palestina a oeste. Mas a neblina é muita e a visibilidade não é a melhor. O sol começa a pôr-se e podemos ver que vai ser um dos bonitos, com cores fornecidas pelas nuvens que se acumulam no horizonte.
Regressamos a Amman com a noite a instalar-se e a lua cheia a subir no céu. Um cenário digno de se ver. Para encher almas.
O nosso motorista (o mesmo de ontem) vem buscar-nos às 9h30 para nos levar a Jerash e a Ajloun. No entanto, primeiro leva-nos a visitar a Mesquita do Rei Abdullah. Talvez seja apenas a segunda vez que visito uma mesquita, depois de o ter feito anteriormente em Istambul. É uma sensação estranha. Primeiro, não gosto particularmente de visitar locais de culto religioso enquanto turista. Acho que há algo de devassamento numa situação dessas. Ainda mais quando não é do "meu" culto que se trata (não que eu seja de modo algum religiosamente activa). Apesar disso, mesquitas vazias (como estão quando é permitida a entrada a turistas) têm algo de muito repousante. Espaços tendencialmente grandes e despidos de ornamentos, convidam facilmente à reflexão. Gosto dos jogos de luz e sombra, dos enormes candeeiros pendentes do tecto alto.
Seguimos então viagem para Jerash, antiga cidade romana, num estado de preservação muito razoável. Nela deambulamos durante algumas horas, por entre ruínas de templos, igrejas, teatros, zonas comerciais, ruas colunadas... Há para todos os gostos e a fotogenia do local é elevada. Interessante que não seja um sítio todo bem arranjadinho, organizado. Aqui podemos andar à vontade, trepar a qualquer vestígio, que não há ninguém para nos impedir. Não são muitos os sítios onde temos tamanha liberdade para explorar. Entretanto, a manhã já deu em tarde e a fome começa a apertar, pelo que pedimos ao nosso motorista para fazermos pausa para almoço antes de seguirmos para o castelo de Ajloun.
Almoçamos num sítio óptimo, com uma quantidade de comida que dava para um batalhão (tradicional comida do Médio Oriente, com mezzes frias e kebabs) - tudo a transbordar de sabor e acompanhado do fresquíssimo sumo de limão com menta (tenho que experimentar fazer por casa). Pena é que tenhamos pouco tempo para dedicar ao almoço, isso se quisermos apanhar o castelo aberto. A viagem até lá é alucinante, por entre colinas salpicadas de verde. A paisagem é muito diferente aqui, muito mais fértil. Perdem-se de vista terraços e terraços de oliveiras. Que me fazem agradecer o facto de estarmos em Novembro e o período de polinização ser na Primavera.
O castelo de Ajloun, erguido no cimo de uma destas colinas, é do tempo das Cruzadas e, aprendemos, manteve-se sempre invicto durante o período de invasões. Temos vistas de 360º que deixam antever o vale do rio Jordão e a Palestina a oeste. Mas a neblina é muita e a visibilidade não é a melhor. O sol começa a pôr-se e podemos ver que vai ser um dos bonitos, com cores fornecidas pelas nuvens que se acumulam no horizonte.
Regressamos a Amman com a noite a instalar-se e a lua cheia a subir no céu. Um cenário digno de se ver. Para encher almas.
Mesquita do Rei Adbullah, Amman |
Templo de Zeus, Jerash |
Jerash |
Jerash |
Vista do castelo de Ajloun |
Viagem à Suiça do Médio Oriente (aka, Jordânia) - dia 6, ou o fenómeno do Vale do Rio Jordão
Agora que estamos baseados em Amman, temos o norte do país para explorar. E uma das primeiras coisas que queremos fazer é ir mergulhar no Mar Morto. Que é como quem diz flutuar, porque mergulhar não dá, com tamanha concentração de sal!
Para o efeito, escolhemos um tour sugerido pelo hotel, com visita ao Monte Nebo, Madaba, ao local do Baptismo de Jesus Cristo e, finalmente, ao Mar Morto. Partimos pela manhã, depois de pequeno-almoço na cama (o hotel não tem sala de refeições). A primeira paragem é no Monte Nebo, local onde Moisés morreu, não sem antes ver a Terra Prometida. Hoje em dia, há uma igreja no cimo do monte (local onde sempre existiu um lugar de culto religioso), com mosaicos muito bem conservados, E há a vista, a perder de vista (perdoem-me o jogo de palavras), com o Vale do Rio Jordão ao fundo, a desembocar no Mar Morto. Por momentos, fico um pouco perdida em relação à razão pela qual é a Terra Prometida. Difícil imaginar, num cenário tão árido... mas é certo que o vale é mais verdejante e a diferença notória. Aceito essa com sendo a razão. De seguida, paragem (demasiado) curta em Madaba, onde temos direito a visitar a Igreja Ortodoxa de São Jorge e a ver o emblemático mosaico que representa a Terra Prometida. Madaba é uma cidade maioritariamente cristã, fruto de influxos migratórios de outros tempos. Contudo, não há tempo para explorar. Tenho que confessar que não gosto nada deste género de passeios, com paragens curtas para retirar itens da lista de viagem.
Depois descemos ao Vale para visitarmos o local onde Jesus foi baptizado. É maior a curiosidade do que propriamente o interesse histórico. Quando me apercebo que a visita dura cerca de uma hora e meia, arrependo-me quase de imediato.
O rio Jordão já não passa no ali, mas ainda é possível ver uma espécie de pia baptismal, parte das sucessivas igrejas e capelas que foram aí construidas como local de peregrinação. O rio passa agora um pouco mais ao lado, e é uma visão algo estranha. Sendo que é a fronteira entre a Jordânia e Israel, temos à nossa frente, a uns escassos três metros de distância, Israel. Do lado israelita, o local está muito mais explorado e há até um grupo de pessoas a fazer abluções no rio...
No vale faz calor, muito mais calor. Deverão ser quase 10ºC de diferença. É um fenómeno inusitado, mas que acaba por fazer sentido, se considerarmos que todo o vale está abaixo do nível do mar. Ou pelo menos esta parte.
Ansiosos que estamos, seguimos para o Mar Morto. Já se faz um pouco tarde e estamos cheios de fome. É nossa opção acedermos ao Mar Morto em Oh Beach, mas acaba por desapontar - as condições no resort são fracas e o acesso ao mar mais parece um local de obras. Mas nada quebra o nosso entusiasmo! O sol está a descer rapidamente e nós entramos na água salgada - é possível "ver" o sal a movimentar-se na água quando em contacto com o nosso corpo. O impulso é forte e é impossível fazer outra coisa que não seja flutuar. De costas. Experimento nadar e as pernas saem de água, como se impulsionadas por uma mola. Uma experiência estranhíssima, mas que nos deixa a brincar dentro de água como crianças. O sol começa a pôr-se e oferece-nos um cenário único, a gravar na retina. Depois do banho, ainda houve direito a máscara facial de lamas, a secar ao pôr-do-sol.
Embora não tenha sido a experiência que idealizamos, com direito a spa e massagem, foi ainda assim algo que nos deixou de sorriso nos lábios. E muito sal no corpo, a formar um estranho filme gorduroso na pele, que só depois de um longo duche consigo retirar.
Para o efeito, escolhemos um tour sugerido pelo hotel, com visita ao Monte Nebo, Madaba, ao local do Baptismo de Jesus Cristo e, finalmente, ao Mar Morto. Partimos pela manhã, depois de pequeno-almoço na cama (o hotel não tem sala de refeições). A primeira paragem é no Monte Nebo, local onde Moisés morreu, não sem antes ver a Terra Prometida. Hoje em dia, há uma igreja no cimo do monte (local onde sempre existiu um lugar de culto religioso), com mosaicos muito bem conservados, E há a vista, a perder de vista (perdoem-me o jogo de palavras), com o Vale do Rio Jordão ao fundo, a desembocar no Mar Morto. Por momentos, fico um pouco perdida em relação à razão pela qual é a Terra Prometida. Difícil imaginar, num cenário tão árido... mas é certo que o vale é mais verdejante e a diferença notória. Aceito essa com sendo a razão. De seguida, paragem (demasiado) curta em Madaba, onde temos direito a visitar a Igreja Ortodoxa de São Jorge e a ver o emblemático mosaico que representa a Terra Prometida. Madaba é uma cidade maioritariamente cristã, fruto de influxos migratórios de outros tempos. Contudo, não há tempo para explorar. Tenho que confessar que não gosto nada deste género de passeios, com paragens curtas para retirar itens da lista de viagem.
Depois descemos ao Vale para visitarmos o local onde Jesus foi baptizado. É maior a curiosidade do que propriamente o interesse histórico. Quando me apercebo que a visita dura cerca de uma hora e meia, arrependo-me quase de imediato.
O rio Jordão já não passa no ali, mas ainda é possível ver uma espécie de pia baptismal, parte das sucessivas igrejas e capelas que foram aí construidas como local de peregrinação. O rio passa agora um pouco mais ao lado, e é uma visão algo estranha. Sendo que é a fronteira entre a Jordânia e Israel, temos à nossa frente, a uns escassos três metros de distância, Israel. Do lado israelita, o local está muito mais explorado e há até um grupo de pessoas a fazer abluções no rio...
No vale faz calor, muito mais calor. Deverão ser quase 10ºC de diferença. É um fenómeno inusitado, mas que acaba por fazer sentido, se considerarmos que todo o vale está abaixo do nível do mar. Ou pelo menos esta parte.
Ansiosos que estamos, seguimos para o Mar Morto. Já se faz um pouco tarde e estamos cheios de fome. É nossa opção acedermos ao Mar Morto em Oh Beach, mas acaba por desapontar - as condições no resort são fracas e o acesso ao mar mais parece um local de obras. Mas nada quebra o nosso entusiasmo! O sol está a descer rapidamente e nós entramos na água salgada - é possível "ver" o sal a movimentar-se na água quando em contacto com o nosso corpo. O impulso é forte e é impossível fazer outra coisa que não seja flutuar. De costas. Experimento nadar e as pernas saem de água, como se impulsionadas por uma mola. Uma experiência estranhíssima, mas que nos deixa a brincar dentro de água como crianças. O sol começa a pôr-se e oferece-nos um cenário único, a gravar na retina. Depois do banho, ainda houve direito a máscara facial de lamas, a secar ao pôr-do-sol.
Embora não tenha sido a experiência que idealizamos, com direito a spa e massagem, foi ainda assim algo que nos deixou de sorriso nos lábios. E muito sal no corpo, a formar um estranho filme gorduroso na pele, que só depois de um longo duche consigo retirar.
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