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A pigeon sat on a branch reflecting on existence

Depois de meses sem ir ao cinema (já não me lembro quando foi a última vez...), resolvi fazer valer a anuidade do Barbican e matar saudades do escurinho.
O escolhido para tal ocasião foi este filme sueco, com um título bem sugestivo - em português, será algo como "um pombo pousou num ramo reflectindo sobre a existência". Não sei qual é o título em português porque, segundo consegui apurar, ainda não estreou em Portugal. Para além do título, o filme vem com o pormenor de ter vencido o Leão de Ouro do festival de Veneza no ano passado. Não é para todos.
Bem, o filme, com a maior das certezas, não é para todos também. Se bem que as críticas falem em humor negro, história bizarra, entre outras coisas, nada fazia antever o que se passou naquela sala de cinema do Barbican - foi provavelmente o filme mais estranho que vi até hoje. E não, não gostei. Filmes estranhos acho que já vi muitos, mas este, apesar de ser uma comédia, não me fez rir. Mesmo que não seja pessoa de riso fácil. É simplesmente estranho, difícil de perceber. Dizem os entendidos que só quem não tem capacidade de perceber faz este género de comentários, porque o filme é genial. Isso não sei. Mas eu, definitivamente, não gostei.

Ah, e se alguém perceber sobre o que é que o filme trata, por favor avise-me. Gostava de saber também.

Finding Fela

É verdade, ando com pouquíssima vontade de escrever. Vou acumulando posts, esquecendo alguns com certeza... mas a vontade não vem. Hoje faço um esforço, porque começo a achar difícil quebrar este ciclo vicioso. E, assim, vou contar-vos sobre um documentário que vi há cerca de um mês atrás, com o qual aprendi muito e do qual gostei bastante.
Fela Kuti foi um música nigeriano. Já tinha ouvido falar nele, principalmente desde os tempos em que vivi em França. Conhecia alguma coisa, também do filho Femi, que seguiu igualmente a carreira musical. Mas não fazia ideia do impacto que Fela tinha tido no cenário musical, não só africano, mas mundial, principalmente na década de 1970. Este documentário, Finding Fela, desconstrói a vida desse ícone musical, as suas origens, as suas motivações. Mostra-nos uma vida de excessos a todos os níveis, uma vida de quase desinteresse pela família, uma vida (acima de tudo) difícil de compreender. Fela Kuti foi um músico, pioneiro do Afrobeat, mas foi também um activista político, defensor da identidade africana, uma voz muito forte numa altura particularmente conturbada da história nigeriana. A sua "promiscuidade" sexual era conhecida, tendo casado com mais de 20 mulheres no mesmo dia. Algo ironicamente, morreu vítima de SIDA aos 58 anos.
Por esta pequena amostra, podem perceber como este documentário é interessante. Como se aprende tanto não só sobre o homem, mas também sobre a época em que viveu, sobre os contextos em que se inseriu. E a banda sonora... perfeitamente genial.

Boyhood

Há mais de um mês atrás, fui ver o mais recente filme de Richard Linklater, o mesmo da trilogia "Antes de..." e um dos meus realizadores favoritos. As expectativas eram mais que muitas, ou não fosse este um projecto único, seguindo a história de um rapaz em tempo real, desde os 5 aos 18 anos, numa filmagem que durou 12 anos. A premissa é extraordinariamente simples e, ao mesmo tempo, genial. Quase que um documentário, centrado na vida de um rapaz que poderia ser qualquer um de nós. Como seria ver a nossa vida compilada de tal forma?...
Não sei se foi por causa das altas expectativas ou do mau humor que me tem assolado ultimamente (há já uns meses), mas certo é que não fiquei particularmente impressionada (e custa-me muito dizer isso). Toda a parte inerente à ideia original do filme é brilhante, porque ver os actores/personagens a crescer, amadurecer em frente aos nossos olhos oferece um sentimento de realidade ao filme que é difícil de superar. Mas o que me desagradou e me fez revirar os olhos em algumas partes do filme são as ideias pseudo-intelectuais debitadas pela personagem principal na busca daquilo que o define enquanto pessoa. Talvez esteja a ser demasiado exigente e deva ter em consideração que estamos a falar de um adolescente (e é preciso sempre dar o desconto necessário a tais casos). Mas houve alturas em que realmente parece uma colecção de psicologias baratas - com particular ênfase para a cena final.
Tendo dito isto, não quero de forma alguma dissuadir quem quer que seja de ver este filme. Vale muito a pena e, como disse, a ideia que lhe serve de base é brilhante. Mas, como dizem cá por esta terra, you have to take it with a grain of salt.

Chef

Há umas semanas regressei às salas de cinema - já lá iam uns meses desde a última vez. A altura do ano não é a melhor para ver filmes de qualidade, mas já estava com saudades. O filme acordado entre todos foi este Chef, filme de e com Jon Favreau, que eu achei ser um gajo francês mas afinal é mesmo americano. O filme é uma daquelas americanadas onde tudo acaba bem e no fim eles casam, mas até é vagamente interessante à conta de girar à volta de comida e de música - e por fazer uma roadtrip pelos Estados Unidos. O "herói" reconcilia-se com a sua vocação, que é cozinhar, e ao mesmo tempo descobre o seu papel como pai. 
É um filme levezinho, que não (pre)enche muito espaço na nossa mente. Vale como entretenimento, o que já não é nada mau. E tudo está bem quando acaba bem.

The Grand Budapest Hotel

Um dos meus realizadores favoritos está de volta (podem espreitar Moonrise Kingdom e The Darjeeling Limited em publicações anteriores). Não vou afirmar novamente o quanto gosto de Wes Anderson e da sua estética de realização (que gosto muito), sob pena de me tornar repetitiva. Faço antecipadamente um mea culpa caso venham a ler esta minha opinião e a não concordar - acho que não consigo ser muito imparcial no que diz respeito aos filmes dele. Já não sei dizer se são bons ou maus, ou pelo menos tenho tido dificuldade em fazê-lo, porque gosto sempre muito. Este The Grand Budapest Hotel não é excepção, embora seja um pouco diferente, ainda assim. Menos focado em relações interpessoais disfuncionais (para mim o tema mais bem abordado por Anderson), com um humor algo negro, a contrastar com o colorido dos cenários. Banda sonora impecável, como de costume. Um rol de actores tão bons e famosos que o espectador até fica confuso. Com Ralph Fiennes num registo algo inesperado. E a certeza (porque não pode ser de outra forma) de que esta gente se há-de divertir imenso a fazer estes filmes. Até fico com inveja. 

(Não falo sobre a história porque não quero em momento algum antecipar o impacto que é ver um filme assim sem expectativas.)

Her

Na semana passada houve nova ida ao cinema. A ideia original era ver o Dallas Buyers Club, mas acabamos por ir ver este Her, o mais recente filme de Spike Jonze. A premissa de juntar Jonze na realização e Joaquin Phoenix na interpretação é sem dúvida interessante e promissora, conhecido que é o registo de "estranheza" que ambos partilham.
Nesse respeito, Her não desiludiu. Mas vamos, então, à história. Estamos em 2025. Theodore é um homem calmo a atravessar um doloroso processo de divórcio. Decide comprar um novo sistema operativo, o qual tem capacidades evolutivas e de adaptação ao utilizador. Por iniciativa de Theodore, o seu terá uma voz feminina e escolhe para si próprio o nome de Samantha. Claro que, após esta interacção inicial, ficamos logo a perceber que a relação entre os dois, Theodore e o sistema operativo Samantha, será especial. Mas não faz mal, essa é a ideia principal do filme: um homem que se apaixona e enceta uma relação com o seu sistema operativo.
Ok, claro que é estranho. Mas vamos por partes. Primeiro, o filme em si - a interpretação de Phoenix é muito boa, para ser comedida nos elogios, principalmente se consideramos que ele representa sozinho na grande parte das cenas. Há nele uma fragilidade latente quase irresistível. Depois, a estética - no futuro, tudo é retro, desde a decoração ao vestuário. E terrivelmente colorido. Como se o futuro fosse uma combinação dos anos 1960 com tecnologia de ponta. Por último, e deveras interessante, é a parte de crítica social subjacente ao tema abordado (e aqui tenho que fazer a ressalva de esta ser a minha interpretação muito pessoal do filme) - a falta de comunicação e envolvimento emocional que carateriza as relações humanas de hoje em dia, em detrimento de interacções mais distantes e emocionalmente resguardadas em formato "digital". Apesar de ter à distância de uma mão relações possíveis e com sentido, Theodore "prefere" embarcar numa relação com o seu sistema operativo. E porquê? A meu ver, a resposta é relativamente simples. Porque, no seu sistema operativo, Theodore tem "alguém" que é uma imagem daquilo que ele procura. Adaptado a ele. Sem conflitos, sem voltes de face. E isso é algo que considero muito comum hoje em dia - a cedência ao facilitismo, como se tudo o que custe um bocadinho não valesse a pena o esforço. Eu, como sou da escola contrária, acho isso uma tremenda parvoíce. Mas a ver vamos. O filme, esse, vale muito a pena.

The book thief

Na semana passada fui ao cinema à borla. Foi, aliás, a primeira borla do género em Londres. Mas o mérito não é meu - a minha colega de casa ganhou bilhetes para a ante-estreia deste "The Book Thief" (em português, "A rapariga que roubava livros"), e eu fui acompanhar. 
Tenho que dizer que as opiniões que chegaram até mim sobre o filme não eram as melhores. Isto vindo de pessoas que leram o livro e que ficaram tremendamente desiludidas (para dizer o mínimo) com a adaptação cinematográfica. Eu que não li o livro, não posso fazer comparações. Mas posso dizer que não fiquei muito entusiasmada com a versão que chegou aos cinemas. Primeiro, a temática Segunda Guerra Mundial não é algo que me interesse particularmente, para além de estar um bocadinho gasta em termos de cinema (veja-se que, neste momento, há pelo menos um outro filme em exibição que retrata a mesma época, ainda que focado em temas diferentes). Segundo, e motivações à parte, o filme tem "tiques" que me desagradam profundamente, como por exemplo o facto de todas as personagens falarem inglês com pronúncia alemã. Já vi isto acontecer em muitos filmes, mas continuo a achar que não faz sentido - ou bem que o filme é em alemão (língua original das personagens), ou bem que é em inglês. Maneirismos linguísticos é algo que não me agrada. O que faz com que tenha ficado de pé atrás desde o início do filme.
Os dois pontos que foco são provavelmente a razão de não ter gostado nem desgostado do filme. Não me disse muito. Não me despertou interesse. Pela positiva, as interpretações de Geoffrey Rush e Emily Watson são muito boas. Valha-nos isso. Porque, ainda para mais, o filme é longo.

12 Years a Slave

E passada uma semana, lá voltamos ao cinema para finalmente ver o mais recente filme de Steve McQueen, 12 Years a Slave.
As expectativas eram algumas, pelo historial do realizador mas também pelas críticas lidas aqui e acolá (e também passadas por amigos). Assim, sendo que é um filme muito bem feito, tanto em termos de realização como em termos de representação, soube a pouco. A história, embora com contornos diferentes, já foi filmada antes. Vezes e vezes. A escravatura é um tema recorrente no cinema, ainda que aqui seja contada pela perspectiva de um homem livre que é raptado e escravizado. Durante 12 anos. Até chegar o momento em que semelhante situação desumana conhece o seu fim.
Perdoem-me se demonstro pouca sensibilidade para o tema. É terrível, eu sei, sinto-o com a cabeça e com o coração. Mas não consigo propriamente criar um vínculo.
Talvez o que mais me tenha desiludido foi o facto de ser um filme "normal". Os anteriores filmes de McQueen foram nitidamente fora da norma, chocantes mas verdadeiros. Este tem isso tudo, mas a falar sobre algo que já tínhamos visto antes.
Se é um bom filme? Claro que é. E vale a pena uma ida ao cinema. Mas não vai para a lista dos que mais me marcaram.

The Railway Man

Para primeiro filme do ano, o plano era ver o mais recente de Steve McQueen, 12 Anos de Escravo. Mas um pequeno erro de cálculo (ou deveria antes chamar-lhe excesso de confiança) fez com que já não houvesse bilhetes disponíveis quando chegamos ao cinema... Como plano B, optámos por ver este The Railway Man. Não sabia praticamente nada sobre o filme, para além de que contava com Colin Firth e Nicole Kidman nos papéis principais. Sendo eles bons actores, podia então extrapolar-se que o filme também seria bom. Ou pelo menos aceitável. 
Não tendo sido o melhor filme que já vi, é bastante razoável. A história é interessante - Colin Firth interpreta a versão mais velha de um soldado britânico que lutou na Segunda Guerra Mundial e foi feito prisioneiro, tendo sido obrigado a trabalhar na construção do caminho-de-ferro entre a Tailândia e a Birmânia. Como engenheiro que era, a construção clandestina de um rádio (para se poderem manter informados sobre o desenvolvimento da guerra) leva-o à tortura pelas mãos de um jovem soldado japonês. Nos seus cinquenta anos, Firth vive atormentado pelas memórias da guerra, o que conduz à deterioração da relação com a sua recente esposa (interpretada por Kidman). Kidman tenta perceber o que atormenta o marido, e é assim que nós iremos conhecer a realidade que ficou lá na década de 1940 - mas que perseguiu os seus intervenientes até aos dias correntes.
Não quero desvendar mais da história do que já fiz, mas é um filme interessante e focado numa realidade para mim desconhecida (a da construção do caminho-de-ferro e utilização de prisioneiros de guerra para o efeito). Por isso, cumpre a premissa de fazer o espectador (neste caso, eu) aprender alguma coisa. Mas não só. É um filme baseado numa história verídica de crueldade e perdão, na história de um homem que era um entusiasta de comboios. E os comboios são entusiasmantes, sem dúvida.
Quanto ao 12 Anos de Escravo, fica para a próxima semana. Se tudo correr bem.

Short Term 12

A minha segunda ida ao cinema por terras londrinas levou-me até este filme americano, Short Term 12. Filme da dita cultura indie, cuja acção segue Grace, que trabalha numa associação de apoio a jovens de alguma forma carenciados ou em necessidade (de seu nome Short Term 12, porque os jovens não podem lá ficar mais do que 12 meses). Mas Grace, jovem dedicada à causa que abraçou, tem ela própria problemas para resolver... E assim se vai desenrolando o filme, mostrando uma realidade difícil de forma plausível. Fazendo-nos abrir os olhos para problemas que, se tudo correr bem, nunca teremos que encontrar. Mas, e principalmente, mostrando que até nas condições mais adversas é possível encontrar o amor, construir relações, ser feliz. Para mim, essa é a mensagem do filme. Essa e que vale a pena intervir, agir, abrir os olhos para a vida. Mesmo que ela não seja sempre perfeitinha. 

Filth

A primeira incursão às salas de cinema londrinas levou-me até à adaptação cinematográfica de uma outra obra literária de Irvine Welsh, 17 anos depois de Trainspotting. Falo, portanto, de Filth. Tenho que admitir que não fiz imediatamente a ligação entre os dois filmes... mas as parecenças são, sem dúvida, muitas. Desta vez, temos James McAvoy no papel principal - Bruce Robertson, detective de polícia em Edimburgo. O seu principal objectivo? Ser  promovido a inspector. E é neste momento que começamos a seguir os seus passos, o seu dia-a-dia algo alucinado (o início do filme lembra realmente Trainspotting no seu ritmo). Aos poucos, vamos percebendo que algo não está bem, não bate certo... A forma como se relaciona com colegas e demais pessoas à sua volta indicia uma falta de valores abismal. Mas prognósticos só no final do jogo. Ou do filme, neste caso. Da minha parte, posso dizer que é preciso ter estômago, não é um filme fácil de se ver. É controverso e chocante. Claro que, tendo visto o filme sem legendas (diz que se fala inglês aqui nesta terra e, por isso, não é preciso) e dado o cerradíssimo sotaque escocês do Sr. McAvoy e demais actores, houve partes que nada percebi do que eles diziam! Preciso habituar o ouvido. Mas gostei. Às vezes é bom ver um filme que mexe connosco, que nos põe a pensar e nos incomoda. Até porque a vida é mesmo assim. Dura.

Despicable Me 2

Recentemente, dei-me conta que me esqueci de incluir aqui no blog a minha opinião sobre algo que também fez parte do programa do meu último dia em Berlim: uma ida ao cinema para ver o segundo capítulo de Despicable Me, conhecido em Portugal pelo nome de "Gru, o Maldisposto". Por isso, aqui fica, um bocadinho fora de tempo.
Vi partes do primeiro filme numa viagem de avião. Digo partes porque adormeci pelo meio e acabei por ver o início e o fim - o que, de qualquer forma, bastou para gostar da história e do seu herói improvável, Gru (deve ser a minha atracção inevitável por pessoas maldispostas...). 
Este segundo filme, mais previsível e doce do que o primeiro, não desilude. Tem piada, acção, romance, vilões. Tudo isto com personagens simpáticas e coloridas. E um final feliz. Que mais se pode pedir de um filme de animação?...

A gaiola dourada

Estar em Portugal faz com que consiga ter rotinas um bocadinho mais próximas daquilo a que estou habituada. Como, por exemplo, ir ao cinema, que foi coisa que praticamente não fiz enquanto estive em Berlim. 
O filme escolhido é uma espécie de filme-sensação, com todo o sucesso que teve em França e que está a ter, igualmente, em Portugal. A história tem tudo para ser um sucesso, está claro: a vida dos emigrantes portugueses em França. Não estamos a falar da nova emigração, mas sim daquela vaga que levou tantas pessoas até França nas décadas de 1960, 1970, 1980. Muito mais interessante, portanto.
Não vou alongar-me em considerações acerca da história, porque provavelmente a maioria já ouviu falar. Mas posso dizer-vos que o filme está muito bem conseguido, os actores, sem excepção, estão muito bem e, melhor do que isso tudo, é um filme divertido! Fartei-me de dar gargalhadas, coisa que não é nada comum em mim... Para quem ainda não viu, recomendo vivamente que se apresse a ir até ao cinema mais próximo. Vale muito a pena e acho que é nosso "dever"apoiar e acarinhar estes projectos de qualidade.
Claro que, enquanto via o filme, pensei muito sobre aquilo que será o meu futuro a curto prazo, enquanto emigrante. As circunstâncias são outras, sem dúvida, mas acho que no final do dia todos sofremos do mesmo mal, que são as saudades daquilo que faz intrinsecamente parte de nós.

Antes da Meia-Noite

Vamos então ao primeiro update. Aproveitei a ida a casa e fui ver, com a minha querida mana, o terceiro e último capítulo desta história que começou bem lá atrás, há 18 anos. Na minha vida, chegou com um bocadinho de atraso, mas não muito. Lembro-me dos Verões passados a ver o "Antes do Amanhecer" em VHS, quando tinha 14, 15 anos... "Antes do Anoitecer" chegou quando andava eu por terras francesas, onde o vi na companhia da prima Carol. E agora "Antes da Meia-Noite" chega quando ando por terras alemãs... ele há coincidências engraçadas.
Mas então o que se pode esperar quando chega ao fim (não lhe chamaria um fim, mas um encerrar de portas, por assim dizer) uma história que nos acompanhou durante mais de metade de uma vida?... As expectativas são sempre muitas - boas ou más, talvez não interesse. Falei com gente céptica, cuja opinião é de que não deveria haver um terceiro filme, que a história já deveria ter acabado há muito tempo, etc., etc., etc.. O meu sentimento era diferente. Queria saber como a história de amor entre Jesse e Céline evoluiu depois daquele fim de tarde em Paris. Este filme é isso e muito mais. É a fase seguinte. É uma história de amor tornada real, com todas as suas limitações e defeitos. Digamos que o enfoque é, desta vez, na parte problemática das relações a dois - gestão familiar, gestão do tempo que passa e que nos faz envelhecer... Sinto que esta história cresceu comigo, faz intimamente parte da minha vida. E acompanha-me agora na "maturidade", sem as antigas expectativas românticas de outros dias... Nem de propósito. Talvez o amor seja assim. Não sei. Mas continuo a gostar de viagens de comboio.

This is not a film

Como já perceberam, as idas ao cinema não têm sido particularmente profícuas aqui em Berlim (a barreira linguística é realmente um problema). Mas descobri (não por mim própria, mas através de uma dica) que existe uma Berlin Film Society que organiza umas sessões temáticas, tendo sempre a preocupação daqueles que não falam a língua alemã. Boa. Para Maio, organizaram as "quintas-feiras dos documentários". Não consegui ir à primeira, mas a segunda não me escapou (apesar da preguiça...), talvez por ser um documentário que há muito me interessava ver: This is not a film, de Jafar Panahi, realizador iraniano que se encontra, desde 2010, numa espécie de prisão domiciliária, tendo sido acusado de propaganda pelo governo iraniano e, consequentemente, condenado a 6 anos de prisão e a uma interdição de 20 anos de fazer filmes, escrever argumentos, dar entrevistas ou qualquer outro actividade relacionada. Foi na sequência desta sentença que Panahi fez este documentário (a ironia do título "Isto não é um filme", porque Panahi se encontra proibido de fazer filmes), cujo objectivo primordial era, aparentemente, contar a história do filme mais recente que o realizador queria fazer. Mas acaba por funcionar como um testemunho, um diário de um homem a quem foi retirada a sua vida. Porque a vida de Jafar Panahi é contar histórias através de filmes.
É chocante sem ser agressivo - está tudo lá, nas entrelinhas. Custa-me ver que alguém com tanto para dizer é impedido de o fazer, enquanto por esse mundo fora tanta gente tem a liberdade de apenas dizer porcaria. É um mundo triste, este. Mas que continuem a sair cá para fora, dentro de bolos ou através de outras estratégias afins, as obras deste senhor, para que possamos continuar a ouvir a sua voz.

Pictoplasma - Best of 2013

Escrevo com algum atraso. A semana, ocupada, não me deu paz de espírito suficiente para me dedicar à escrita. Mas este domingo simpático é a altura ideal para o fazer. 
No passado fim-de-semana, fiz o meu primeiro programa de cinema em Berlim. Não para ver um qualquer filme, mas sim para assistir às melhores curtas de animação do festival Pictoplasma (Festival and Conference of Contemporary Character Design and Art). O que foi, definitivamente, uma óptima ideia, visto que gosto de curtas e gosto de filmes de animação. Sinto que, de alguma forma, é mais fácil veicular informação nestes formatos.
A sessão que assisti, como disse, pretendia compilar o que de melhor passou pelo festival. E passaram coisas muito interessantes. Algumas nitidamente com um cariz mais político, como a curta "This land is mine", de Nina Paley (a qual adorei), outras com um propósito específico, como "Dumb ways to die", de Ollie McGill, encomendada pelo Metro Trains como alerta de consciência para os perigos dos comboios. Estas duas foram, provavelmente, as que melhor me ficaram na memória. Mas todo o conjunto era muito interessante, pelo que valeu muito a pena. Muitas gargalhadas, canções que ficam no ouvido (e não querem de lá sair!)... um serão bem passado.

Hitchcock

Se por um lado, se quebrou o enguiço da leitura, por outro lado temos enguiço para ver o tão aclamado "Amor", filme de Michael Haneke. Depois de muitas combinações e descombinações, lá rumámos ao El Corte Inglés para ver o filme quando, para nossa surpresa, não havia exibição à hora desejada naquele dia... No calor do momento e na posição de ter que escolher um filme substituto, a escolha recaiu neste Hitchcock, filme que retrata os métodos pouco convencionais do realizador por altura das filmagens de Psico.
Apesar das críticas que tinha lido até então não serem propriamente positivas, resolvi arriscar. Até porque a curiosidade em ver o filme existia de facto. Mas, para mal dos meus pecados, as críticas tinham razão. O filme é pobrezinho - Anthony Hopkins está estranhíssimo no papel de Hitchcock (parece que só se vê o silicone e a maquilhagem do "disfarce"), a história está demasiada simplificada (acharam que o espectador não teria capacidade para mais...) e tudo se desenrola à superfície, sem nunca ousar ir mais além. Hitchcock é retratado como um excêntrico, viciado em comida e bebida, voyeur e control freak - se corresponde ou não à realidade, não sei. O melhor do filme é, provavelmente, a interpretação de Helen Mirren, no papel de Alma Reville, esposa de Hitchcock. Aí sim, vê-se um pouco de profundidade, de sentimento... Tirando isso, é "produto acabado, da sociedade de consumo imediato. Mastiga. Deita fora. Sem demora."

Django Libertado

Já li de tudo um pouco sobre o mais recente filme de Quentin Tarantino. Desde descrições que o põem num pedestal, qual oitava maravilha do mundo cinematográfico, a críticas acérrimas relativamente ao conteúdo racista e pouco dignificante da história da escravatura nos Estados Unidos. Tenho que confessar que me custa perceber tanto umas como outras opiniões...
Para mim, que não sou propriamente a maior seguidora de Tarantino, embora aprecie bastante o género, os filmes dele são uma desconstrução da violência - está sempre presente, mas é uma violência um pouco à desenho-animado, não é para levar muito a sério. 
Django, exercício com quase 3h de duração, conta a história de... Django, está claro, interpretado por Jamie Foxx (actor que não gosto), escravo libertado pelo Dr. King Schultz (interpretação fantástica de Christoph Waltz), um alemão nos EUA, para juntos partirem pelo Sul caçando prémios e procurarem a mulher de Django, Broomhilda, ainda escrava. Pelo caminho, temos muito pedaço de corpo arrancado a tiro, muita polpa de tomate espalhada pelo cenário - o que apenas me consegue arrancar umas verdadeiras gargalhadas. Pelo caminho iremos encontrar, igualmente, o esclavagista Calvin Candie, numa interpretação de Leonardo DiCaprio que não me encheu propriamente as medidas (não é que esteja mal, mas não acho que seja a melhor interpretação que ele já fez, como também já li por aí). Claro que não poderia faltar a cena de carnificina, tão amada por Tarantino, e que, neste caso, chega já quase no final do filme. Mas mesmo a tempo de nos extasiar com tanta tinta vermelha no ecrã!!! Ah, e o papel de Samuel L. Jackson é, no mínimo, inesperado.
Mas, então, qual é o veredicto?... Adorei. Apesar das 3h (e de ter momentos um pouco mais murchos), é um filme que nos prende do início ao fim, seja pela banda sonora fabulosa, seja pelo humor acutilante, a adrenalina é garantida. Desenganemos, Tarantino não é (na minha opinião, claro está) um intelectual e não faz exercícios de intelectualidade cinematográfica. Faz sim filmes controversos, amados por uns, odiados por outros, mas aos quais ninguém fica indiferente. Eu acho-lhe piada, é um provocador. Com muito bom gosto musical.

Seis Sessões

Uma ida familiar ao cinema trouxe consigo a visualização deste "Seis Sessões", filme baseado na história de vida de Mark O'Brien, a quem a poliomielite em criança ditou uma profunda atrofia muscular para o resto da sua vida. Assim, Mark é obrigado a viver parte dos seus dias dentro de um "pulmão de ferro", equipamento que permite aos seus pulmões imobilizados respirarem. Contra todas as expectativas (baseadas naquilo que acabei de escrever), Mark é um homem dinâmico e com um óptimo sentido de humor. Jornalista e poeta, é um homem que enfrenta as suas limitações. E é precisamente o enfrentar de uma destas limitações, a de um relacionamento sexual, que é abordado neste filme. 
Para qualquer pessoa que tenha visto o trailer, é fácil perceber do se está aqui a falar. Mark, sob aconselhamento do seu padre, resolve recorrer aos préstimos de uma terapeuta sexual de forma a poder lidar mais eficazmente com a sua sexualidade (Mark pode ter os músculos atrofiados, mas todas as suas capacidades sensoriais estão operacionais) e assim perder a virgindade, aos 38 anos. 
Uma história como esta está "condenada" a arrancar muitas gargalhadas aos espectadores, tanto pelo inusitado das situações, como pelo próprio bom humor com que Mark vai lidando com elas. Mas esta é, acima de tudo, uma história comovente. Alguém que vive prisioneiro do seu próprio corpo ser capaz de viver uma vida, apesar de tudo, normal, cheia de afectos... é inspirador, no mínimo. Faz-nos pensar em tudo aquilo que vemos como problemas no nosso dia-a-dia e que se tornam limitações sérias à forma como vivemos as nossas vidas. A grande maioria de nós talvez não viva prisioneira do seu corpo, mas muitos vivem, sem sombra de dúvida, presos à sua mente.
Pelo menos,é essa a mensagem com que fico.

Gostei também das interpretações. Deve ser especialmente difícil fazer um filme em que se está o tempo todo deitado, a falar de lado, e por isso acho que John Hawkes está particularmente bem - credível, frágil mas forte. Helen Hunt, no papel de terapeuta sexual, está um pouco estranha, fisicamente falando - inteiraça, é verdade, mas a contrastar com todas as rugas do rosto... O padre de William H. Macy é muito divertido, num papel algo diferente do que estou habituada a vê-lo fazer. E todos os outros secundários também estão bastante bem.

Conclusão final: gostei do filme, é muito interessante, dentro do estilo. Despretensioso, acima de tudo. 

A vida de Pi

Durante a minha estadia em Lisboa, fui também ver a adaptação cinematográfica de uma obra que muito de impressionou. Estou a falar de A vida de Pi, livro de Yann Martel. Quando soube que a obra estava a ser adaptada ao cinema, fiquei algo surpreendida, porque não é uma história nada óbvia para passar para a grande tela... No entanto, Ang Lee conseguiu, na minha opinião, fazer um óptimo trabalho, quer na transposição da história, quer na gestão de tempo e ritmo dessa mesma história. Como podem ler no que escrevi sobre o livro, grande parte da acção é passada em alto mar, com apenas duas personagens. Logo por aí podem perceber que é provavelmente difícil manter o espectador interessado e contar a história de forma a que as pessoas se mantenham acordadas! Mas o que às vezes é provável, nem sempre se verifica. Claro que Ang Lee optou por fazer um filme muito mais condensado (em relação ao livro) e de certa forma bem menos violento. Porque talvez o objectivo principal fosse dar ênfase àquela que é a grande questão do filme/história: a fé como motor de vida. Nesse aspecto, a adaptação ao grande ecrã de A vida de Pi está virtualmente fiel ao seu original literário. E talvez por isso tenha gostado muito do filme. Está lá tudo, para quem quiser ver. Ou, alternativamente, pode ser "apenas" a história de como um miúdo sobreviveu a um naufrágio em alto mar na companhia de um tigre de Bengala.