Dormimos sem despertador, mas nem por isso o sono foi reparador. Às vezes é assim.
Arranjámo-nos rapidamente para pedirmos pequeno-almoço, algo que não deixámos organizado no dia anterior. As expectativas para a comida da Geórgia são muitas, e para começar não saímos defraudados. Tivemos direito a omolete com pão, e depois um prato gigante de crepes, que degustámos com doce de morango e iogurte. Que barrigada!
Para pagar a nossa estadia, tivemos uma animada conversa via telefone com ajuda do Google tradutor - as novas tecnologias acabam por ser práticas neste país onde nem sempre é fácil encontrar quem fale inglês. Mas o que importa é que as pessoas se entendam!
Esperamos pelo motorista que nos levará a Mestia, também organizado pelos nossos anfitriões. Acaba por ser o mesmo de ontem, embora nos pareça um pouco diferente. E não podemos deixar de reparar na arma que traz à cintura, enfiada nas calças de ganga. Disseram-nos eles que é polícia, há que confiar.
Mestia é o nosso primeiro destino na Geórgia, uma vila perdida nas montanhas do Alto Cáucaso, no norte do país. É o ponto de partida para explorarmos as montanhas dessa região chamada Svaneti. Optámos por contratar alguém para nos levar até lá porque os transportes públicos demoram muito tempo e, para tal, teríamos que acordar muito cedo. Preferimos não o fazer.
A viagem, de uns 250/300Km, faz-se primeiro pela estrada de ontem, mas em sentido contrário. É uma estrada recta, que convida à velocidade, se bem que de forma controlada. Vou prestando atenção ao que nos rodeia, apesar do cansaço que me faz pesar os olhos. Há postos de gasolina por todo o lado, já tinha reparado ontem. Haverá petróleo nas imediações? Lembro-me do Sr. Gulbenkian e do petróleo de Baku - não é muito longe.
Vamos seguindo viagem, e por todo o lado se vêem vacas a pastar nas bermas da estrada. A determinada altura, encontramos umas quatro ou cinco que decidiram deitar-se bem no meio da faixa de rodagem! E a tudo isto o nosso motorista vai respondendo com destreza, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Se calhar é... Motorista interessante esse, que vai passando CDs atrás de CDs com músicas variadas, desde os últimos hits, incluindo Despacito, até música que creio ser local. Tudo a uma velocidade estonteante, músicas a passar à frente, CDs a serem trocados constantemente. A determinada altura, reparo que ele se benze profusamente sempre que passamos uma igreja. Rapaz religioso, portanto. Mas voltemos aos bichos: para além das vacas, também vemos porcos pelas bermas, embora menos numerosos. Pastarão também? A certa altura, ao passarmos uma pequena localidade, nada mais nada menos que um javali fêmea atravessa a estrada. E na passadeira! Cena completamente surreal.
Mas nem só de animais é feita esta viagem. Reparo na arquitectura das casas de campo, todas muito semelhantes, com um estilo que me parece colonial. Casas grandes, de linhas rectas, com grandes varandas. Tenho que pesquisar sobre elas.
Depois de passarmos Zugdidi, o cenário muda, torna-se mais acidentado e, a dada altura, damos por nós a serpentear um rio de um azul eléctrico impressionante.
Depois de uma breve paragem para desentorpecer as pernas, continuamos a viagem, que no total durou quase 5 horas.
Chegámos moídos e saturados. E foi difícil encontrar o nosso alojamento, bem na extremidade da vila. Alojamento esse que desilude e cria frustração numa altura em que não há grande paciência para ela.
Depois de deixarmos as nossas coisas, fomos explorar o centro da vila à procura de comida - não comíamos nada desde o pequeno almoço e já o sol estava a desaparecer! Não há muita escolha, por isso arriscamos num café bem central, com muitas pessoas na esplanada. Sentamo-nos lá dentro, prontos para degustar umas iguarias da região. Pedimos katchapouri, um pão em forma de barco recheado com queijo, manteiga e ovo (!), um outro pão recheado com carne, e beringela com uma pasta de nozes. Outra barrigada, acompanhada de música típica ao vivo, que uns rapazes estavam a tocar ao fundo da sala. Bela experiência antes de regressarmos ao nosso alojamento, uns bons vinte minutos a pé, e de enfrentarmos o frio que se faz sentir lá fora. Afinal de contas, estamos nas montanhas.
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