Passados três anos, o regresso à Festa do Cinema Francês. Não que não goste (qualquer um que leia este blog consegue perceber que gosto bastante de cinema francês), mas o facto de ser em Outubro costuma implicar uma certa falta de disponibilidade da minha parte. Felizmente, este ano isso não aconteceu e até tive a sorte de ganhar bilhetes para a sessão à qual já tencionava ir. Os astros conspiraram, portanto.
Este "Un homme qui crie", Prémio do Júri do Festival de Cannes na última edição, é realizado e escrito por Mahamat-Saleh Haroun, originário do Chade (confesso que não sei como se designa alguém que nasceu no Chade...). É também no Chade que se passa a acção do filme: Adam é um sexagenário, antigo campeão de natação, que actualmente trabalha como "guardião" da piscina de um hotel chique da cidade. Reestruturações na gestão do hotel fazem com que Adam seja despromovido, em favor do seu único filho, Abdel, algo que irá deixar Adam destroçado. E, nem de propósito, o clima de insegurança que se vive no país começa a aproximar-se da guerra civil, exigindo a todos sacrifícios...
A dinâmica deste filme é uma daquelas complicadas, que filmada de uma outra forma poria meio mundo a chorar baba e ranho. Mas não. Apesar de tocante (Youssouf Djaoro, que interpreta Adam, tem um desempenho belíssimo), não entra por caminhos de sentamentalismos baratos. É um filme estóico, e também sobre o estoicismo da vida. Que aqui raia o egoísmo em muitas das suas vertentes. A vida é complicada, assim como as escolhas que se têm que fazer.
O título do filme, "Un homme qui crie" (um homem que grita), acaba por ser um paradoxo - porque o homem em questão nunca grita, mas gritam antes os seus olhos. Uma bela metáfora.
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