Ternura

Sim, sou distraída. E só agora me apercebi que ontem foi o Dia Mundial da Poesia. Sinto-me culpada por não ter assinalado convenientemente o dia, mas vou tentar remediar ao deixar aqui um dos meus poemas favoritos (alguns de vocês, se calhar, já conhecem).



Ternura

Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

David Mourão-Ferreira, in "Infinito Pessoal"


(E, já agora, fica uma ;) ao meu pequenino)

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