Inventing Impressionism

Tenho a mania de dizer que há duas coisas boas de viver em Londres: os concertos e as exposições. Será fácil de perceber isso por aquilo que vou escrevendo por aqui... Desta vez, quero falar um pouco da última exposição que vi por cá, e que teve como mote homenagear a corrente Impressionista e aquele que foi o seu grande impulsionador, o comerciante de arte francês Paul Durand-Ruel. Através de práticas até então nunca utilizadas, Durand-Ruel financiou produção artística a nomes como Monet, Renoir ou Manet. Comprou obras em largas quantidades, pagou salários mensais aos artistas... realmente um visionário.
Esta exposição engloba assim um conjunto de obras de alguma forma ligadas a Durand-Ruel, desde retratos por Renoir até decorações feitas por Monet na sua casa, passando claro está por obras por ele comercializadas. Uma exposição vasta, bem organizada (acompanhada de um livro com contextualizações das obras expostas) e, acima de tudo, cheia de beleza. O Impressionismo é uma das minhas correntes favoritas em termos de pintura, por isso foi uma daquelas vezes em que fiquei de alma cheia.

Andanças polacas

E porque os domingos são dias tendencialmente deprimentes/deprimidos, nada como preenchê-los com um pouco de música. Música, sempre a música... ou quase sempre. 
Desta vez éramos um grupo grande, para ver um rapaz polaco, "arrastadas" pela Magda que nos quis mostrar música feita no país dela. Mais um espaço de concertos a conhecer, desta vez em Highbury. Sempre a conhecer novos cantos à cidade...
Quando chegámos, tocava o rapaz que fazia a primeira parte. Um bocadinho estranho, sozinho em palco com a sua guitarra eléctrica. Depois veio então o rapaz cujo nome artístico é Fismoll, que é algo que em polaco se refere à escala de Fá sustenido, segundo consigo perceber. Acho que tem a ver com o tom em que o rapaz canta, mas não tenho a certeza... Vinha acompanhado da irmã, no violoncelo, e de um amigo na guitarra eléctrica. Não me lembro de haver bateria... mas a memória já me falha. A música, essa, é daquelas bem melancólicas, no jeito usual de alguns cantautores. Interessante, assim se passou um serão de forma diferente. Ou então não, com tantos concertos já se vai tornando essa a norma (e não a excepção).

O segundo round do sofá

Passado cerca de um mês da primeira sessão, fomos novamente escolhidas para os sons do sofá, desta vez na zona sul da cidade. Nunca tinha ido para aqueles lados, tão a sul do rio... mas há que explorar, por mais intimidante que por vezes seja.
Desta vez, fomos parar a um contentor. Sim, um daqueles armazéns que por cá são muito comuns por baixo das linhas de comboio... Aparentemente, neste caso específico, é um contentor onde se faz arte. Onde em cada canto de vêem peças por acabar, pedaços de instalações... um pouco pseudo-artístico para meu gosto, mas tenho que deixar de ser tão crítica. Um palco pequenino, em jeito de caramanchão, estava instalado numa das pontas do armazém, com o público a acumular-se sentado pelo chão. Como é costume.
No primeiro acto, Sophie Jamieson, miúda de ar muito tímido a esconder-se atrás da guitarra (e dos rapazes que com ela tocavam). Música muito interessante até porque, ainda que inesperado, a miúda tem um vozeirão impressionante. Segundo acto, troca o estilo. Ao anunciar o nome, Nina Miranda, uma vaga sensação de familiaridade. Mas não foi até à segunda canção, quando ela cantou Under Water Love, que eu percebi que tinha à minha frente a antiga vocalista dos ingleses Smoke City. Brasileira de origem, Nina trouxe um pouco mais de ritmo à sessão. Uma surpresa muito agradável. Para fechar, mais um vozeirão: dois rapazes, um com uma guitarra, outro com o seu cabelo. Seafret de seu nome. A mim fez-me lembrar tremendamente Simon & Garfunkel, não por causa do estilo musical, mas mesmo por causa do estilo físico dos dois rapazes: não muito altos, um mais tímido e (também ele) escondido atrás da guitarra, enquanto o outro anda obviamente a copiar alguém, com o seu cabelo loiro quase em afro. Som muito cru, com a voz a ressoar pelos espaços vazios. E o pessoal a arrepiar. Som deveras interessante, sem dúvida, bem mais interessante do que o que descobri no dia seguinte através do Spotify, em que soou um bocadinho mais pop do eu gostaria...
Enfim, uma noite muito interessante, em que fui dormir de coração cheio. Às vezes acontece.

O rapaz da folk ao vivo na Junta de Freguesia

(... eu é que sou o presidente da Junta...)

Por insistência da Magda, e numa altura de muitos concertos, fui ver este rapaz, Sam Amidon, num espaço algo diferente: a assembleia da Câmara Municipal/Junta de Freguesia de Islington (a organização por cá é diferente, por isso não sei bem o que é). Domingo à noite, muita preguiça, um bocadinho a condizer com a música do rapaz - melódica, folk calminho, quase para relaxar.
Conhecia pouco da sua obra, mas foi um concerto muito interessante. Diria até que é daquele tipo de música que funciona melhor ao vivo do que em álbum. Ganha mais corpo, mais nuances, quando em estúdio parece quase... aborrecida. Por vezes é assim, por vezes ao contrário. Há que saber aproveitar o melhor.

Maria Iordanidou - Loxandra

O último livro que li foi-me oferecido pela minha antiga companheira de casa e é, aparentemente, um clássico da literatura grega do século XX.  Que ela, enquanto grega, quis partilhar comigo. O que teve que ser feito através de uma edição em francês uma vez que, também aparentemente, não existem edições em inglês (e parece-me que em português também não). Uma boa desculpa para matar saudades da língua francesa.
O livro conta, como seria de esperar, a história de Loxandra, nascida e criada em Istambul numa altura em que ainda não existia essa designação. Seguindo a vida de Loxandra em toda a sua extensão, este livro é, ao mesmo tempo, uma ode ao poder matriarcal e uma lição da história do final no século XIX naquela parte do mundo. 
Com um forte ênfase nas relações familiares e na sua dinâmica, Loxandra é também uma homenagem à cultura (nomeadamente gastronómica) grega. Não faltam descrições pormenorizadas de refeições típicas gregas, difíceis de ler em alturas de maior apetite!
Assim, sob a ideia relativamente simples de contar a história da vida de uma mulher em Istambul, encontra-se um relato muito rico e que nos ensina muito sobre a sociedade daquele tempo e a cultura de um povo. Foi um leitura sem dúvida interessante e estimulante, a qual espero que me tenha posto de novo no bom caminho da leitura. De volta a bons hábitos. 

Mais uma primeira vez

A minha vida em Londres tem sido profícua em "primeiras vezes". O que, na casa dos trintas, é com certeza um facto digno de ser assinalado, apesar da minha ubíqua má-vontade em relação a esta cidade.
Certo é também que, na generalidade, estas "primeiras vezes" têm estado relacionadas com concertos. E esta vez não foi excepção.
Já não sei bem quando começou a minha relação com Calexico, nem em que contexto. Sei que quando estava na faculdade em Coimbra eles eram uma das minhas bandas preferidas. E também me lembro de eles tocarem em Lisboa sem que eu pudesse ter ido. 
A faculdade já vai lá longe, por isso podem imaginar que esta é uma relação de longa data. Como tendem a ser. Há já alguns meses que tinha visto o anúncio do concerto dos Calexico em Londres, na O2 Shepherd's Bush Empire, mas foi apenas a umas duas semanas do concerto que me decidi a ir. Pelos velhos tempos. Para não perder a oportunidade. 
Embora haja momentos mais "adequados" para fazer determinadas coisas na nossa vida, é sempre um prazer quando ouvimos músicas que nos dizem muito, ao vivo. Houve momentos neste concerto de felicidade pura, se é que posso arriscar dizer que conheço esse sentimento. A música é algo muito poderoso, sem dúvida. E, assim, uma noite de terça-feira transformou-se num regresso ao passado - não o passado de quando ouvia avidamente estes senhores, mas um passado mais longínquo, quando a vida era fácil.

A gala de Tchaikovsky, ou fogo-de-artifício dentro do Royal Albert Hall

Há umas semanas atrás fui a mais um concerto, desta vez um pouco diferente - uma gala dedicada ao compositor russo (que eu tanto gosto) Tchaikovsky, no Royal Albert Hall.
A companhia era extensa (éramos um grupo grande, graças às promoções da TimeOut) e os lugares interessantes, lá em cima nas galerias, com uma boa vista de toda a sala. 
O concerto foi muito interessante, incluindo excertos do Lago dos Cisnes e do Quebra-Nozes, mas também a 1812 Overture. É comum haver fogo-preso quando esta obra é tocada, facto que eu desconhecia até este dia, quando de repente há lançamento de canhões bem por cima das nossas cabeças, seguido de fogo-preso que lançou uma onda de fumo pela audiência... Digamos que não achei toda a piada do mundo. A obra é sem dúvida muito interessante, inspirada na derrota da armada de Napoleão na Rússia (e daí incluir partes da Marselhesa, facto que me confundiu de início). 
Em suma, adorei ouvir as peças de Tchaikovsky, foi uma tarde muito bem passada, mas por favor deixem-se de tiros de canhão e fogo-de-artifício. Completamente démodé.

A pigeon sat on a branch reflecting on existence

Depois de meses sem ir ao cinema (já não me lembro quando foi a última vez...), resolvi fazer valer a anuidade do Barbican e matar saudades do escurinho.
O escolhido para tal ocasião foi este filme sueco, com um título bem sugestivo - em português, será algo como "um pombo pousou num ramo reflectindo sobre a existência". Não sei qual é o título em português porque, segundo consegui apurar, ainda não estreou em Portugal. Para além do título, o filme vem com o pormenor de ter vencido o Leão de Ouro do festival de Veneza no ano passado. Não é para todos.
Bem, o filme, com a maior das certezas, não é para todos também. Se bem que as críticas falem em humor negro, história bizarra, entre outras coisas, nada fazia antever o que se passou naquela sala de cinema do Barbican - foi provavelmente o filme mais estranho que vi até hoje. E não, não gostei. Filmes estranhos acho que já vi muitos, mas este, apesar de ser uma comédia, não me fez rir. Mesmo que não seja pessoa de riso fácil. É simplesmente estranho, difícil de perceber. Dizem os entendidos que só quem não tem capacidade de perceber faz este género de comentários, porque o filme é genial. Isso não sei. Mas eu, definitivamente, não gostei.

Ah, e se alguém perceber sobre o que é que o filme trata, por favor avise-me. Gostava de saber também.

Sofar Sounds, o início


Veio como uma dica da amiga homónima T e soou bem a ideia. Concertos secretos, em localizações bizarras, tais como a sala de estar de alguém. Claro que me juntei ao clube e esperei por ser seleccionada. O que não demorou muito tempo a acontecer, mas calhou numa data pouca jeitosa. Quis então o destino que a Magda, que entretanto aceitou a sugestão de se juntar ao clube também, fosse escolhida daí a uns dias. E assim tivemos o nosso baptismo de Sofar Sounds
Tudo aconteceu naquilo que eu acho que era um antigo celeiro reconvertido numa casa espectacular. O piso de baixo, em plano aberto, albergou as bandas e os ouvintes. Sim, tivemos direito a 3 bandas, cada uma a tocar cerca de 30 minutos. Parece ser esse o formato. Primeiro, Miss Baby Sol, cantora originária do antigo Zaire, actualmente a residir em Londres. Depois, Lail Arad, cantora britânico-israelita. Para terminar, ouvimos Bella Figura, colectivo também londrino. Em termos de estilos sonoros, são todos bastante distintos. Miss Baby Sol com uma sonoridade mais soul, spoken word; Lail Arad a típica cantautora de guitarra na mão; e os rapazes Bella Figura com um som mais denso, por assim dizer.
Foi uma experiência verdadeiramente diferente. Estar ali, no meio de umas 50 pessoas, na sala de estar de alguém, a ouvir música até então desconhecida... Muito interessante. Muita única.
Obrigada Sofar Sounds pela iniciativa. E até à próxima.

Sinkane @ XOYO

Há exactamente um mês atrás, estava eu num sítio mais agradável do que hoje, a aprontar-me para ver Sinkane, rapaz nascido em Londres, com raízes no Sudão e educado nos EUA. Mistura interessante.
A "recomendação" veio da Magda, com a etiqueta de ter colaborado com os Yeasayer. Que são uns gajos de quem eu até gosto bastante. Assim, lá rumámos nós até mais um dos milhentos sítios onde se realizam concertos nesta cidade, mais precisamente o XOYO, na zona este da cidade. Muito in, portanto.
O rapaz tem jeito para a coisa. O arranjo é simples, entre guitarra, baixo, bateria e muito sintetizador. As músicas têm ritmo, o rapaz tem presença, o espaço é interessante, logo foi mais uma boa experiência musical nesta cidade que tem muito para oferecer nesse campo. Valha-nos isso. Para combater a má-disposição.

As histórias dos irmãos Grimm

E uns dias mais tarde, no habitual excesso de actividades culturais que por vezes inunda as minhas semanas, fui ver um espectáculo algo diferente - uma peça de teatro composta por dramatizações de várias histórias (infantis) dos irmãos Grimm em diferentes ambientes (e salas) de um mesmo edifício. O público segue os actores nas transições entre histórias, escada acima, escada abaixo. Um conceito muito interessante. As salas estão decoradas de forma a aludirem a cada uma das diferentes histórias, a baixa luz, como que a convidar à imersão no ambiente alegórico. Para nos transportarem com eles ao centro de cada uma das histórias. 
Tivemos direito a 5 histórias (O Príncipe Rã ou Henrique de Ferro, Hansel e Gretel, Pele-de-bicho, A pastorinha de gansos, e Os três homenzinhos na floresta). Não sei se estes nomes são os usados em português, mas fica a ideia. A maioria de nós cresceu a ouvir histórias dos irmãos Grimm, por muito estranhas que elas por vezes pareçam (principalmente como histórias infantis). Por isso é quase como que um sonho entrar no imaginário dessas histórias que povoaram a nossa infância. 
Gostei muito, de tudo - das dramatizações, da decoração, da ideia, dos espaços. Foi uma noite muito interessante e bem passada. No final, tivemos ainda direito a explorar o espaço, estudar os recantos. Pena que não tinha a minha máquina fotográfica comigo...

Nigéria º Hamburgo º Londres

Há um mês atrás, recém-chegada das férias da Páscoa no belo rectângulo, fui ver Nneka, cantora nigeriana radicada na Alemanha, ao Village Underground.
Sugestão do amigo Ilias, revelou-se uma experiência muito interessante. A música de Nneka anda à volta da mistura entre sonoridades de raiz africana, como o afrobeat de Fela Kuti, e uma tendência mais hip-hop. O resultado é bastante interessante, embora tenha que confessar que sou pouco conhecedora do seu repertório musical. O que faz com que os concertos assistidos nestes moldes sejam, de alguma forma, estranhos. Este não foi excepção, mas foi, sem dúvida, muito divertido. Estávamos todos bem-dispostos, com um grau de "maluqueira" q.b. que é mesmo o que se precisa. O Village Underground é um espaço muito interessante, espécie de antigo armazém, com uma atmosfera diferente. Descobri que também há um em Lisboa... coincidências.

Antigone (das tragédias da vida)


E para terminar um ciclo de quatro idas ao Barbican em menos de duas semanas, fui ver uma interpretação da tragédia grega Antígona. A versão que deu origem a esta peça não é a original da mitologia grega, mas antes uma "adaptação" feita por Sófocles, em que tudo começa com Antígona a quebrar a lei por querer dar um enterro digno ao seu irmão Polinices. Morto em batalha com o seu irmão Eteocles pelo direito a reinar em Tebes, Polinices não tem por lei direito a ser enterrado por ser considerado um traidor (porquê, não percebi muito bem). Mas Antígona não se coíbe de desafiar as leis e o rei Creon, seu tio, para poder adequadamente chorar a morte do seu irmão.
Daqui para a frente a tragédia só se adensa, como será de esperar, ou não fosse esta uma tragédia grega. A cenografia da peça optou pela simplicidade, com um cenário minimalista, bem ao estilo moderno. E o guarda-roupa das personagens também, a roçar o austero. O que posso, então, dizer sobre aquilo que vi?
Primeiro, claro que é uma emoção ver uma peça cuja interpretação principal fica a cargo da Juliette Binoche. Vê-la ali, à minha frente, no palco, quase parece mentira. Claro que acaba por desmistificar um pouco a figura, porque ela é, como seria de esperar, uma pessoa normal, tal como as outras. Agora em relação à peça, não fiquei completamente satisfeita. Nunca antes tinha vista uma peça desse género, não sei se tragédias são bem o meu estilo... E definitivamente a abordagem super moderna aos clássicos também não me caiu bem no goto. Mas pronto. Sem dúvida uma experiência muito interessante.

Carmina Burana, finalmente (ainda que em versão estudante)

Depois de anos e anos a namorar a ideia, finalmente surgiu a oportunidade de ouvir Carmina Burana, obra maior do compositor alemão Carl Orff. Calhou de ser no dia a seguir ao concerto de jazz de homenagem à Strata East, mas isso é um pormenor. 
Assim, em dias consecutivos, lá rumei eu mais uma vez até ao Barbican, a minha segunda casa. Para concertos, perceba-se.
Ainda que fosse interpretada pelo coro e orquestra da Westminster School (logo não completamente profissional), deu para tirar a barriga de misérias e realizar um desejo de há muito tempo. É uma obra da qual gosto realmente muito. Tem muita energia, algo que aprecio em música clássica. Faz-me sentir mais viva.

Um bocadinho de jazz para fechar o fim-de-semana

Há coisa de um mês atrás, naquele que foi o início de uma saga de concertos sobre a qual falarei muito por cá, fui mais uma vez até ao Barbican ver um concerto de jazz para descontrair. Domingo à noite, vinha mesmo a calhar.
O concerto foi de alguma forma uma homenagem à editora Strata East Records, fundada no início dos anos 1970 por Charles Tolliver e Stanley Cowell, tendo como principal objectivo o lançamento de obras de jazz um pouco mais obscuras e menos mainstream. No concerto pudemos contar com os dois fundadores, acompanhados ainda pelo baixista Cecil McBee, o saxofonista Billy Harper e o baterista Alvin Queen, e ainda com algumas presenças vocais. 
O concerto, curado por Gilles Peterson (o senhor que praticamente me "apresentou" ao mundo da world music há mais de 10 anos atrás - e sim, o jogo de palavras é propositado), foi muito agradável e interessante. Mais uma vez, momentos de muito introspecção (que podem ou não ser úteis...).

O virtuosismo do violino

Já lá vai quase um mês que regressei aos concertos de música clássica. Desafiada pela minha ex-companheira de casa, rumei até ao Southbank Centre para ouvir a Philarmonia Orchestra interpretar três peças de Jean Sibelius, compositor finlandês do final do século XIX, compostas especialmente para violino (instrumento da sua predilecção, aparentemente).
A minha relação com a música clássica é semelhante àquela que tenho com a arte em geral: não percebo muito, apenas estou ali para sentir. E é nisso que normalmente me concentro. Com a música clássica, desde que de alguma forma me toque, é um sentimento muito interessante. Perco-me completamente nos meus pensamentos, vagueio por realidades imaginadas, abandono-me quase por completo... Altamente terapêutico, na minha opinão. É por isso que gosto tanto de ir a este tipo de concertos. Faz-me bem à alma. 

(Uma nota em relação à música: nada contemplativa, bem proporcionada, forte e acutilante. Muito bom.)

Gaston Dorren - Lingo

O último livro que li foi este Lingo, de Gaston Dorren, autor holandês (ao que consegui apurar). O autor, linguista, jornalista e, principalmente, poliglota, escreveu este livro que se auto-intitula como um guia das línguas faladas na Europa.
Quando vi este livro na Waterstones, o interesse foi imediato. Fascina-me a linguagem, seja em que língua for. Fascina-me principalmente perceber um bocadinho mais da sua evolução, o porquê de diferentes países falarem línguas diferentes, e a influência que essas línguas têm da história e geografia do país. Assim, esta foi quase a leitura perfeita. Interessante, curiosa, cheia de exemplos engraçados, desta leitura ficou apenas a vontade de saber mais porque, ao fim e ao cabo, a abordagem acaba por ser um pouco superficial para poder cobrir todas a línguas europeias (que descobri serem muito mais do que eu anteriormente imaginava).
Posso contar-vos um bocadinho do que podem encontrar neste livro, algo que é mencionado no capítulo dedicado ao Português. Fiquei a saber que, em Português, substituímos tendencialmente o pl do latim por ch. Como plumbum e chumbo. Ou pluvia e chuva. Porquê, não sei. Mas que isto das línguas é interessante, não haja dúvida.

O fado de ser português

Começo a descobrir que isto de ter nascido em Portugal tem muito que se lhe diga. Somos um povo tendencialmente complicado, emotivo, pessimista. E, para onde quer que vamos, carregamos essa carga emocional connosco. Talvez não seja a ideia que outros povos têm de nós, talvez não se apercebam. Porque, mais importante, somos tendencialmente boas pessoas, de bom coração (embora, está claro, haja de tudo por aí).
Faço esta pequena introdução para vos contar do meu primeiro concerto de fado. A Mariza veio cá cantar ao Barbican e, muito embora não seja grande apreciadora do estilo (sacrilégio!), não poderia faltar. Para não manchar por completo a minha herança lusa, tenho que dizer em minha defesa que tenho uma grande, quase completa, predilecção por vozes masculinas, e isso inclui também o fado. Dêem-me um Carlos do Carmo e a coisa muda de figura.
Gostei muito de ver a sala cheia, seja de portugueses ou não. Gostei de ouvir a minha língua ser cantada e homenageada durante quase 2 horas. Gera um conforto cá dentro que é difícil de explicar. É bom ver o público a vibrar, a bater palmas, a tentar acompanhar. Apesar do dramatismo (ah, também somos muito dramáticos, é verdade), ressoa cá dentro a força dos sentimentos transmitidos pelo fado. Porque isto de ser português traz consigo toda a nostalgia do mundo. 

O que vale é que daqui a nada vou matar saudades...

Chuva de pequenos cometas

Para não variar, está este blog um pouco atrasado em publicações, que começam a acumular-se na pasta dos rascunhos... Não sei porquê, mas o tempo não dá para tudo.
Há umas semanas atrás, embarquei numa outra "aventura" de explorar a cena musical londrina. Mais uma vez a um dia de semana, mais uma vez com muito cansaço acumulado. Desta vez rumámos até Camden, a um sítio sobre o qual já muito tinha ouvido falar, mas onde ainda não tinha ido: KOKO. Local de concertos, bar, discoteca, mas principalmente um sítio onde se vê todo o tipo de pessoas e estilos. Uma entidade. Os Little Comets, banda que fui ver/ouvir, são ingleses de estilo musical diversificado. Indie rock, com certeza, mas umas vezes mais funk, outras vezes mais mainstream. Têm piada os rapazes e ainda consegui ter energia suficiente para abanar um pouco mais do que a cabeça. O que, tendo em conta as circunstâncias, é um feito considerável. Gostei, embora tenha sido um nadinha repetitivo, mas talvez soe assim quando não se conhece bem o repertório da banda. É o que dá quando se anda por aí a explorar...

Conflict Time Photography

Vamos lá aproveitar a calma deste sábado cinzento para escrever um pouco sobre uma exposição de fotografia que vi há umas semanas atrás, num particularmente triste e chuvoso domingo.
O tema da exposição suscitou, desde cedo, o meu interesse. Fotografia de guerra sempre me interessou, mais particularmente dos cenários de devastação pós-guerra. A premissa da exposição era precisamente essa: retratar, através da fotografia, as consequências da guerra, em diversos espaços temporais diferentes. Premissa muito interessante, sem dúvida. 
Ora se a ideia era boa, a execução deixou-me um pouco desiludida. Faltou impacto visual, até mesmo um pouco de organização. As fotografias estavam organizadas por período de tempo após guerra/situação de conflito em que tinham sido captadas, desde poucos minutos (como no caso da bomba de Hiroshima) até muitos anos depois. Bem pensado, mas talvez mais interessante se houvesse algum tipo de agrupamento por conflito, porque assim se teria sem dúvida a noção do tempo passado e uma perspectiva mais "poética" do assunto. Minha opinião, está claro. 
Exposição interessante e definitivamente de valor, com aprendizagem à mistura, mas que pecou por defeito. Faltou intensidade.

Um bocadinho do rectângulo numa noite inesperada de sábado

Inspirada pela dita experiência londrina de ir a concertos em bares (ou talvez não, porque os bilhetes estavam comprados há já algum tempo), no passado fim-de-semana fui ver, bem pertinho de casa, os lisboetas PAUS actuar.
Tem sempre um sabor especial ver uma banda portuguesa a tocar quando se está num país estrangeiro. Mais ainda quando realmente gostamos da música. Por isso, sábado foi um dia realmente especial. Já não me sentia assim feliz num concerto há algum tempo.
Foi a primeira vez que vi PAUS ao vivo e achei-os muito bons. Têm uma energia fantástica, daquelas que, de alguma forma, nos deixam manietados, com espaço apenas para sentir (e abanar a cabeça ao ritmo maluco da música). Sim, a música é muito energética, fruto da dita bateria-siamesa - é uma música definitivamente dominada pela bateria.
Como podem ver, gostei muito do concerto. Foi uma noite um bocado estranha, com companhia inesperada para o concerto e estranhas combinações... O que só vem reforçar o meu gosto pelas combinações de última hora. Dizem que não sou uma pessoa espontânea, mas gosto muito de espontaneidade.

Clara Royer - Csillag

Este é um livro especial. Foi-me oferecido por um amigo muito querido, por altura do Natal. E é especial porque foi escrito por uma pessoa muito especial para ele. Há aqui uma certa circularidade de argumento, mas é importante explicar como o livro veio parár às minhas mãos e qual eram as minhas expectativas antes de o ler.
A história é bastante interessante: Ethel, jovem ilustradora, vê nos arquivos do amigo Côme sobre crianças deslocadas durante a 2ª Guerra Mundial uma fotografia da sua avó. Até aqui nada de especial (talvez), a não ser pelo facto de a criança na fotografia usar uma cruz ao pescoço. E a avó de Ethel ser judia, e ter transmitido à filha e à neta a sua cultura religiosa. Ethel sente-se de alguma forma traída pela descoberta, e decide tentar perceber o que está por detrás daquela fotografia, a verdadeira história da sua avó (que, ainda viva, sucumbiu à amnésia do Alzheimer).
O livro é muito interessante (aparentemente baseado em acontecimentos da vida da autora Clara) e está definitivamente bem escrito (apesar de ter uma linguagem por vezes desnecessariamente rebuscada; li o  livro na versão original, em francês, e embora não tenha sentido dificuldades, percebo que a linguagem utilizada não é a mais comum). Acaba quase por ser uma história de mistério, de investigação à volta de factos desconhecidos. Tentar juntar informação suficiente para encontrar o sentido de uma fotografia. Que consigo carrega o sentido de várias vidas.
Muito interessante, sem dúvida, e teve ainda a mais-valia de me pôr a ler com gosto, com avidez. 

Será que cumpro a resolução de ler um livro por mês este ano?...

A experiência londrina (com muito sono à mistura)


Há umas semanas atrás, em plena noite de semana (e depois de um dia de trabalho), embarquei com a colega de trabalho M. numa experiência que, no meu imaginário, considero muito londrina - concertos de bandas quase desconhecidas em bares esconsos algures na cidade. Esta primeira experiência levou-nos até Dalston, naquilo que pareceu uma viagem quase interminável de autocarro (ok, foram apenas 40 minutos, mas pareceu uma eternidade), para ver os londrinos Happyness, num concerto incluído na série dos NME Awards.
Foi engraçado. Primeiro comer/beber qualquer coisa no piso de cima do bar, normal, vista para a rua, para depois descer as escadas até à cave e entrar numa sala algo claustrofóbica, tectos baixos, muitos corpos alinhados, para ver os rapazes (jovens, muito jovens) tocar durante pouco mais de uma hora. Não conhecia (e ainda não conheço) muito bem a música deles. Ouvi umas duas músicas antes do concerto, e pareceu-me consideravelmente bem (daí a decisão de ir ao concerto). Mas o grande inimigo da noite foi, nitidamente, o cansaço. Podia ser um pouco melodramática e dizer que a idade já não permite a estes devaneios durante a semana de trabalho, mas acho que não é tanto a idade mas mais o cansaço acumulado durante os longos dias no laboratório. Assim quero acreditar.
A experiência foi uma boa experiência e funcionou quase como um desbloqueador - agora já tenho uma ideia melhor de como a cena musical por cá funciona. Por isso, será mais fácil de a aproveitar. London Calling.

Egon Schiele, ou a viagem a um mundo despido

Foi já há algum tempo que vi esta exposição de Egon Schiele, artista austríaco do início do século XX. A exposição, intitulada "The Radical Nude", foi dedicada ao manancial de obras do artista sobre o estudo do nu. Schiele foi um pintor de cariz expressionista, e uma considerável parte da sua obra está relacionada, precisamente, com pinturas de nus - Schiele inspirou-se na irmã, na esposa, mas também em amigos e prostitutas, construindo assim uma obra muito interessante. Altamente provocador na forma como capta a natureza humana, Schiele faz também um uso muito interessante da cor. Morto prematuramente aos 28 anos vítima da gripe espanhola, Schiele deixou ainda assim uma obra vasta e muito, muito interessante. 
Um belo fim de tarde de Janeiro, a provar que sair (mais) cedo do trabalho pode ser uma bela ideia.

Regresso ao tricot



Depois de uma prolongadíssima pausa, consegui arranjar vontade e engenho para voltar aos trabalhos manuais, mais particularmente ao tricot. E assim, por altura do Natal, concluí duas golas (que vêem nas fotografias), que foram aquecer o pescoço de duas pessoas muito especiais... A primeira gola (a castanha) demorou praticamente 2 anos a terminar. Sim, é verdade. Passeou de Lisboa para Berlim, e de Berlim veio para Londres, intocada. E já em Londres esteve praticamente parada durante um ano, até que este Inverno voltou a vontade de produzir algo, ser capaz de fazer algo com as minhas mãos. E finalmente a dita gola viu o dia em que foi terminada. Já a segunda gola (a mais colorida) foi feita num ápice, quase em contra-relógio, para poder ser oferecida a tempo e horas. Também ajudou o facto de ser um ponto mais simples, em que não é preciso estar tão atenta. Isso e as infindáveis viagens de avião atrasadas!

Para já, tenho estes dois projectos acabados, o que me deixa muito feliz. Mas tenho outros projectos entre mãos, para os quais trouxe muita lã de Portugal. Vamos a ver como correm. Manter-vos-ei informados por cá. :)

Chimamanda Ngozi Adichie - Americanah

Depois de Mia Couto veio Chimamanda Ngozi Adichie, autora nigeriana de quem li anteriormente Half Of a Yellow Sun. Livro que adorei, por sinal. Este Americanah, o seu mais recente livro, é um bocado diferente. Mantêm-se, algo naturalmente, as raízes nigerianas bem no centro da história, mas neste caso estamos num período de tempo mais recente. Ifemelu é uma jovem nigeriana que se vê obrigada a emigrar para os Estados Unidos de modo a poder continuar a sua educação universitária. Na Nigéria deixa Obinze, seu grande amor de juventude. A vida nos Estados Unidos será, no entanto, bem longe do ansiado sonho da terra das oportunidades - e é esse evoluir da história que nós, leitores, vamos seguindo. Seguimos Ifemelu e Obinze, paralelamente. Andamos um pouco para trás e para a frente. Com a certeza que haverá um reencontro, mas sem perceber em que circunstâncias.
Assim resumindo, é capaz de parecer um romancezinho inconsequente. Mas não é. Do meu ponto de vista (de emigrante, obviamente), a história é precisamente sobre o desfasamento de realidades quando se vai viver para um país que não é o nosso. O que se aprende, o que se perde. As dificuldades, como se processa o dia-a-dia, como a pouco e pouco, eventualmente, nos vamos adaptando (habituando?) à nova realidade. Tudo isso tem custos, deixa marcas. Talvez por isso tenha gostado muito do livro, o qual li avidamente. Devido ao sentimento de pertença nessas questões. Países diferentes, culturas diferentes, contextos diferentes. Mas, no fundo, há questões completamente transversais nesta coisa de emigrar. Sempre com a esperança de uma vida melhor (o que quer que isso queira dizer).

Mia Couto - O outro pé da sereia

Para não variar, lá estou eu atrasadíssima na escrita deste blogue... ainda não é desta que os dias se tornaram melhores. Mas aqui vamos, desta vez para falar do último livro que li. Já lá vão umas semanas, mas a verdade é que ainda não comecei a ler mais nada. Também essa parte não está famosa.
Este livro do Mia Couto, um dos meus autores favoritos, é um pouco diferente daquilo que dele li anteriormente. A acção tem dois tempos diferentes: um mais no presente (2000 e picos) e outro por alturas pós-Descobrimentos. No entanto, os dois tempos da acção estão intimamente ligados, pelo que por vezes se perde um bocado a sua noção. 

E pronto, já lá vão (mais) umas semanas desde que comecei a escrever este post, sem que o tivesse terminado. Entretanto já li mais um livro, e tenho que confessar que a memória deste ficou um pouco para trás. O que posso dizer é que gosto muito do Mia Couto, mas este não é o meu livro favorito dele. Nem de longe, nem de perto. O livro é interessante e está bem escrito, mas não me passa a emoção a que estou acostumada com os livros dele. Falta-lhe uma certa profundidade, por assim dizer.
E assim, desta forma um pouco abrupta, fica a minha crítica ao livro. Sei que não é bem o que costumo fazer, mas é preciso seguir em frente.

Regresso ao passado (ou como teria sido bom ver dEUS há uns 10 anos atrás)


Aproveito a manhã de domingo, silenciosa, para pôr alguma ordem na casa. E com "casa" quero dizer este blogue, cujas publicações têm andado ligeiramente erráticas. A ver se isso muda (resolução de ano novo?...)
Há coisa de um mês atrás, em meados de Dezembro, vi pela primeira vez ao vivo uma banda que povoou o meu universo musical de jovem adulta: os belgas dEUS. Tive oportunidade de, no passado, ter visto um showcase deles, bem como um concerto de Tom Barman a solo, mas a banda completa num concerto a sério nunca tinha acontecido. Assim, quando vi que eles tocariam no dito-mítico Scala, a uns escassos metros de minha casa, achei que tinha que aproveitar a oportunidade. E assim aconteceu que, numa noite de Dezembro, voltei uns 10, 15 anos atrás no tempo para ouvir músicas como Serpentine, Suds & Soda, ou Little Arithmetics...
O concerto não foi mau em termos de alinhamento. Tocaram as mais conhecidas dos álbuns mais recentes e deram um grande ênfase ao emblemático In a bar, under the sea, de 1996. O problema é que os rapazes, nos seus 40 e qualquer coisa anos, estão apagados. Acredito que, no passado, houve ali energia, mas neste momento parece que estão a fazer um frete, ansiosos para que o concerto acabe e eles possam ir para casa. Foi triste sentir isso, porque me deixa com a sensação (correcta, de qualquer forma) que houve um tempo (para eles? para mim?) que já passou e que não dá para voltar atrás. Nostalgias de uma juventude... ou como é melhor fazer as coisas na altura certa (como ver dEUS quando eles eram uns gajos porreiros; ou, simplesmente, mais novos).

Pequenos nadas


Estas transições de ano civil são dadas a uma certa introspecção, aliadas a um exercício de resumo do que se passou no ano que entretanto terminou. Eu não sou excepção, até porque acredito que há benefícios nesse género de exercícios.
2014 foi um ano de pequenos nadas. Quase um oposto de 2013, ano recheado de emoções, boas e más. 2014 não teve (felizmente, por um lado) essa montanha-russa emocional. Foi o ano da continuidade - criaram-se hábitos nessa que é a minha condição de emigrante, consolidou-se o sentimento de não-pertença. Sem dramatismos. Acho que é condição sine qua non de viver num país que não é o nosso por nascimento ou educação. Aliás, essa é uma das pequenas conquistas de 2014 - ter encontrado, de alguma forma, a paz de perceber que é assim mesmo. O sentimento de desfasamento faz parte e não há que fazer disso um problema. 
2014 foi um bom contra-ponto a 2013, mas ficou a sede de mais. Mais conquistas, mais viagens, mais concertos. Mais. E, talvez até, mais pessoas. Será que me vejo escrever mais socialização?... Terei descoberto o meu "animal-social" depois de todo este tempo?... Desconfio. Mas começo este novo ano (transições arbitrárias, bem sei, mas todos gostamos de limites/limitações imaginárias - não?) com uma energia boa. Aquela energia de querer fazer muito, mas aos pouquinhos. Identificando, primeiro, o que são essas coisas que gosto de e quero fazer. E dedicando-me também a elas. Porque somos mais nós quando fazemos aquilo de que gostamos. 

Por isso, venha 2015. Peito aberto. Sem reservas.


E sim, há vários posts em atraso, pertencentes a 2014. Mas esses ficarão para a próxima.