A árvore da vida



O filme estreou e é claro que, com todo o alvoroço (e pouco depois de ter ganho a Palma de Ouro em Cannes), uma pessoa tinha que o ver. Mr. Terrence Malick, o senhor dos 5 filmes em 30-e-não-sei-quantos anos, teve, supostamente, um regresso em grande.
Ora, sobre isso, não posso tecer comentários, porque acho que não vi nenhum dos 4 filmes anteriores. Mas este "A árvore da vida" é um obra deveras estranha e que não me agradou. Não digo "nem um bocadinho", porque tem partes que até me emocionaram, mas no geral só me tirou um bocado do sério.
Então, porquê? Não sei bem explicar. Sejam as filmagens demasiado perfeitas, a falta de diálogo, os pensamentos esotéricos em voz off, tudo contribuiu para que não tenha gostado do filme. Mas o que realmente me desagradou profundamente foram os interlúdios dedicados à origem da vida, com imagens planetárias e afins... Por amor da santa, não há paciência. A história (sim, porque há uma, no meio disto tudo) concentra-se, principalmente, nos acontecimentos da vida que levam à perda da inocência e conduzem ao crescimento e maturidade. Apesar da premissa ser interessante, também não achei que a execução fosse particularmente brilhante, porque insiste em ser explícita em situações em que deveria deixar o espectador chegar às suas próprias conclusões.
Portanto, não gostei. Mas os meus manos adoraram, o que só mostra que o filme é capaz de suscitar todo o tipo de paixões. Ao menos isso.

PJ Harvey e o concerto mais curto da história



Bem, talvez não tenha sido o concerto mais curto da história da música, mas foi curto que chegue para os espectadores notarem. Miss PJ fez os seus primeiros concertos de sempre na capital do país (por aquilo que me foi dado a perceber), a propósito do seu novo álbum, "Let England Shake". Um álbum muito interessante e diferente do que a senhora tem feito até agora, mas do qual tenho gostado muito. O concerto incidiu, principalmente, nas músicas do último álbum. Mas, quando digo "principalmente", significa que apenas reconheci duas músicas que não fossem desse mesmo álbum, a saber "Down by the water" e "C'mon Billy". É provável que tenha havido mais umas quantas, mas não as reconheci, até porque a roupagem estava bastante diferente.
Ainda assim, o espectáculo foi um bom espectáculo, a senhora é realmente uma profissional (nem se esperaria outra coisa). Mas foi um espectáculo frio, sem grande sentimento. Miss PJ recusou-se a dirigir a palavra ao público até o concerto chegar ao fim, altura em que disse algo como "thank you and goodnight". Quando voltaram para o encore, apresentou a banda - os suspeitos do costume John Parish e Mick Harvey, e Jean-Marc Butty na bateria. Eles foram responsáveis por uma das partes muito boas deste concerto, a competência instrumental. Era tanta que às vezes nem parecia estarmos num concerto, mas sim a ouvir algo gravado em estúdio, tamanha era a "perfeição" estética das músicas. Isto foi, ao mesmo tempo, um ponto positivo e negativo, uma vez que fez com que o concerto perdesse alguma força e espontaneidade.
Foi, acima de tudo, um concerto competente de um álbum com fortes raízes no folk, com uma sonoridade que muito me agrada. Agora que a senhora anda deslumbrada com os agudos que é capaz de produzir, anda. E isso não é muito positivo...

Volta, PJ gutural! Tens mais jeito para cabra do rock do que para ser etéreo e angelical.

Indie Lisboa - La BM du seigneur



Imagine-se lá que já passaram mais de duas semanas desde que vi este filme francês na edição deste ano do Indie Lisboa. Só por aí, podem também imaginar que a impressão deixada não é muito favorável...
Então, este "La BM du seigneur" é um filme/documentário sobre um grupo particular de ciganos franceses (loiros de olhos azuis...), que vivem num parque de roulottes e que têm como ganha-pão roubar BMW's a gente rica. Certo dia, um deles tem uma aparição de Deus, que lhe deixa um cão, e a partir daí decide mudar de vida e nunca mais roubar. Mas a sua determinação irá ser colocada à prova...
Que posso dizer? Não muito. O filme é fraquinho, os actores (não sendo profissionais) são igualmente fracos e a história não convence. Ainda para mais, não é que o realizador estava presente na sala e houve sessão de perguntas a seguir à projecção do filme?!?...

Bem, se com pouca vontade andava de ir ao cinema, com menos fiquei depois disto. Preciso urgentemente de um bom filme para poder purgar esta experiência.

Max Frisch - Homo Faber



Prenda de Natal, chegou agora a vez deste "Homo Faber" saltar da secretária para a mesinha-de-cabeceira, e assim fazer parte das minhas leituras. Não conhecia nem este livro em particular, nem o seu autor, o suíço Max Frisch. Assim, as expectativas em relação a esta leitura eram praticamente nulas, não fosse o comentário de contra-capa aludir a Camus.... Aí, a minha curiosidade aguçou-se.
Ao ler este livro, depressa percebi o porquê das alusões a Camus - o sentimento do eu, enquanto ser volúvel que responde ao que se passa à sua volta, mas também as noções de coincidência e fatalismo, são temas que muitas vezes vemos nas obras do escritor argelino. Mas também a luminosidade da escrita é algo que vejo em ambos os escritores. "Homo Faber" é um romance escrito na primeira pessoa, voz activa de Walter Faber, um engenheiro pragmático, funcionário da UNESCO, que viaja pelo mundo em trabalho. Com uma mente puramente tecnológica e racional, Walter vê-se confrontado com uma série de acontecimentos inacreditavelmente coincidentes, que irão mudar o curso da sua vida.
Para além dos paralelismos com Camus, este foi um livro que também me lembrou Paul Bowles, outro dos meus autores de eleição. Talvez seja pelo movimento da escrita, semelhante à escrita de viagens.
É claro que, se num único autor consigo ter pontos de referência a dois dos meus escritores favoritos, gostei muito deste "Homo Faber". Por isso, levou-me apenas uma semana a lê-lo. Fico agora com muita vontade de ler outras obras de Max Frisch. O que se revela difícil, uma vez que não consta muito das prateleiras das livrarias portuguesas. Mas fica a vontade.

(Já agora: obrigada, João.)

Henry David Thoreau - Civil Disobedience and Other Essays



Quase três meses depois, finalmente terminei de ler a outra obra emblemática de Henry David Thoreau. Devo dizer, em abono da verdade, que ao mesmo tempo que lia este "Civil Disobedience", reli "Walden, ou a vida nos bosques", a propósito de um clube de leitura organizado em conjunto pela Fundação Calouste Gulbenkian e a Embaixada dos EUA. Foi, portanto, uma dose dupla de Thoreau!!!
Esta obra inclui 4 ensaios, para além do que lhe dá o nome (Civil Disobedience): "Life without principle", "Slavery in Massachussetts", "A Plea for Captain John Brown" e "Walking". Este último vai buscar um pouco de inspiração a Walden, e é um ensaio interessante. Mas os que achei mais inspiradores foram Civil Disobedience e Life without principle. No geral, é uma obra muito rica e actual, faz-nos reflectir sobre temas bastantes actuais, como o capitalismo e o consumismo desenfreado (que começava, naquela altura, a dar os primeiros passos, após a Revolução Industrial). É para mim uma verdadeira inspiração ler uma obra como esta, visto que me revejo em muitas considerações feitas por Thoreau. É, na minha opinião, uma obra menos utópica do que Walden, mais ligada a pessoas e acontecimentos reais.

Deixo-vos com algumas citações (em inglês, porque é a língua em que foi escrito e em que o li), para vos, possivelmente, aguçar o apetite para futuras leituras.

"A man has not every thing to do, but something; and because he cannot do every thing, it is not necessary that he should do something wrong."

"Under a government which imprisons any unjustly, the true place for a just man is also a prison."

"It costs us nothing to be just."

"... for in order to die you must first have lived."

"There is no more fatal blunderer than he who consumes the greater part of his life getting his living. All great entreprises are self-supporting."

"Surface meets surface. When our life ceases to be inward and private, conversation degenerates into mere gossip."