Amigos Improváveis

As idas ao cinema têm sido poucas, como provavelmente já se deram conta. Mas a última teve como objectivo ver este "Amigos Improváveis", em cartaz há já alguns meses mas que continua a ter um número de espectadores bastante aceitável...
Descrito como o "filme sensação do ano", e sendo um filme francês, a curiosidade era mais do que muita! Não é muito comum ver estas duas ideias juntas numa só frase (e referindo-se ao mesmo filme, claro está).
A história. Philippe é um homem de meia idade que ficou paraplégico em virtude de um acidente enquanto praticava parapente. Dono de uma situação financeira muito confortável, contrata Driss, um jovem dos bairros sociais, para cuidar de si, diariamente. A amizade que se desenvolve entre os dois é, com certeza, uma relação improvável (daí o título), mas que proporciona todo um conjunto de situações hilariantes e, ao mesmo tempo, tocantes. Aliás, é nestas duas tónicas que o filme assenta. Muito bem filmado, com interpretações muito boas e uma história fora-de-série, principalmente se pensarmos que é baseado em factos verídicos (eles existem mesmo!!!). Recomendo para lá de tudo o que possa aqui verbalizar. Vale muito a pena.

The terrible privacy of Maxwell Sim - Jonathan Coe

Outro presente dos 30 anos, outra leitura de férias. Este, no entanto, já estava há muito na calha da vontade, muito por culpa de um qualquer artigo lido no Ypsilon...
The terrible privacy of Maxwell Sim conta a história (como não poderia deixar de ser) de Maxwell Sim, homem de meia-idade recentemente divorciado e que se vê a braços com o terrível vazio que assola a sua vida, num mundo em que, supostamente, todos vivemos "em companhia".
Ora bem, até aqui, tudo bem. Aliás, foi precisamente esta a premissa que me levou a interessar pelo livro. A "exploração" da solidão nos dias que correm, com tantas redes sociais, grupos e clubes de todo o tipo. Mas a ideia acerta um bocadinho ao lado, na minha opinião, porque não é que Maxwell se veja dessa forma, só no meio da multidão. Não, ele tenta desesperadamente fazer parte dessa mesma multidão. E é aí que eu começo a entrar ligeiramente em rota de colisão com a história.
Não posso dizer que o livro seja mau, apenas "promete" algo que não cumpre. E o final parece realmente estar um pouco fora do contexto, qual anti-clímax... Resumindo e baralhando: não gostei. (sem qualquer prejuízo para a pessoa que, com tão boa vontade, mo ofereceu)

Nunca me deixes - Kazuo Ishiguro

Esta prenda de 30º aniversário veio mesmo a calhar, visto que não tinha propriamente nenhum livro em vista para as férias. Não conhecia o autor e nunca antes tinha lido algo da sua autoria, embora Os Despojos do Dia me fosse um título familiar...

Primeiro, convém dizer que há neste livro um toque de ficção científica, que muito me fez lembrar o estilo de Aldous Huxley em Admirável Mundo Novo. Digamos que é o mesmo grau de ficção, por assim dizer. Nunca me deixes conta a história de Kathy, Ruth e Tommy, três adolescentes que cresceram no colégio interno de Hailsham, algures no meio da província inglesa, educados de forma, no mínimo, especial. Kathy tem agora 31 anos e recorda os tempos que ali passou, fazendo com que  acção alterne entre esses dois períodos temporais. Aos poucos, Kathy vai percebendo o porquê da sua educação estrita, onde o futuro a irá conduzir...
Esta é uma história particularmente comovente, emocionante mesmo. Devo confessar que não estava preparada para o desenrolar da história, mesmo. Embora o início seja difícil e demore até despertar a atenção do leitor, a partir de determinada altura o difícil é parar de ler! Li mais de metade do livro numa tarde de preguiça...
Agora, mal posso esperar para ver o filme que resultou da adaptação cinematográfica desta história.

Uma leitura que recomendo.

Moonrise Kingdom

Antes das férias, houve uma sessão de cinema "obrigatória" para ver o mais recente filme de Wes Anderson, que é um dos meus realizadores favoritos. Moonrise Kingdom conta a história de dois adolescentes (ou deveria dizer pré-adolescentes?...) que resolvem fugir para poderem estar juntos e que, assim, desencadeiam todo um conjunto de peripécias associadas às buscas que são, entretanto, postas em marcha.

Em termos formais, este é um típico filme de Wes Anderson - visualmente muito forte, muito icónico. Nada é deixado ao acaso, ou pelo menos assim parece. Os uniformes dos escuteiros, o colorido da roupa dos anos 1960 (ou por volta dessa época), tudo faz parte do filme e o filme vive disso. Disso e da história comovente dos adolescentes que descobrem o amor (não em sentido literal, amigos!). Sinto-me voltar um pouco aos tempos de "The Royal Tenenbaums", filme de 2001 que vi no início da faculdade (já lá vai tanto tempo...). Foi esse o filme que me fez apaixonar pela estética de Wes Anderson e a sua forma de filmar a disfuncionalidade das emoções do ser humano. Com Moonrise Kingdom temos um regresso em grande a essa temática, depois de os últimos filmes terem sido um pouco diferentes. Conta, igualmente, com alguns dos actores "fetiche" de Anderson, como Bill Murray e Jason Schwartzman, mas também com nomes algo imprevistos, como Edward Norton e Bruce Willis. Mas que se adaptam lindamente ao estilo de Anderson. Uma palavra sobre os desempenhos de Kara Hayward e Jared Gilman, estreantes nestas lides do cinema e que estão impecáveis nos papéis principais.

Gostei muito. Não sei se ainda se encontra em cartaz, mas, se sim, não deixem passar. Faz querer voltar atrás no tempo...

Fim-de-semana de música e história


No último fim-de-semana de Julho fui até ao Alentejo, regressando ao Festival Músicas do Mundo (FMM), em Sines, após 4 anos. A ida ao FMM foi também desculpa para uma estadia no Eco Suites Resort, perto de Santiago do Cacém, um sítio muito bonito e agradável. Assim, para além da música, houve passeio, banhos de sol e (muito!) boa comida.

Na sexta-feira, o palco no Castelo de Sines acolheu (entre outros, mas só vimos estes) Dhafer Youssef, Mari Boine e Zita Swoon Group. O que mais gostei foi Dhafer Youssef, com um jazz quente e envolvente. Devo confessar que fiquei um pouco desiludida com o novo projecto de Stef Kamil Carlens, gosto bem mais dos Zita Swoon sozinhos, do que a mistura que faz com sonoridades mais africanas. Na minha opinião, os dois estilos não se coadunam. Não obstante, adorei voltar a Sines e ao FMM, é um ambiente do qual gosto muito, muito descontraído e menos pseudo-intelectual que outros festivais de música que se vêm pelo país fora.

Para além da música, a parte cultural do fim-de-semana foi complementada por uma visita a Santiago do Cacém e às ruínas de Miróbriga. Santiago é uma vila (acho eu!) bonita, onde se come bem, e as ruínas, situadas a uma curta distância, são muito dignas de uma visita. Descobri que estou a ficar fã de sítios arqueológicos. Se bem que este gosto não seja particularmente recente, acho que sempre gostei, mas agora começo a descobrir um certo fascínio... 

Em conclusão, um fim-de-semana muito bem passado e em bela companhia. E a provar que o nosso pequeno país tem muito para nos mostrar e ensinar.