Mistérios de Lisboa




Bem, já que fui ver o filme, tenho que falar um bocadinho sobre ele. Escolhido como programa de domingo à tarde (as quase 5h de duração impedem que se veja à noite, a não ser que se saia do cinema de madrugada), este "Mistérios de Lisboa" foi, a modos que, uma desilusão. Sim, o filme está bem feito (se é fiel ao livro de Camilo Castelo Branco, isso já não sei dizer...) e os actores são bons (com algumas excepções, como João Baptista no papel de D. Pedro da Silva...). Mas não há nada na história que justifique o martírio de passar tanto tempo numa sala de cinema. A primeira parte da história é interessante e até promete mais do que aquilo que, efectivamente, nos é trazido pela segunda parte, que é apenas chata.
Enfim, estou desiludida. Pode ser que a versão mini-série seja mais interessante. Como filme, não faz grande sentido.

Dos Homens e dos Deuses



O filme desta semana foi este recém-estreado "Dos Homens e dos Deuses", filme francês realizado por Xavier Beauvois que venceu o Grande Prémio do Júri no Festival de Cannes, e que será o candidato francês ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Muitos atributos para, pelo menos, despertar o interesse dos cinéfilos.
A história desenrola-se no início dos anos 1990, durante um período conturbado (que ainda assim continua) da Argélia. Num mosteiro perdido nas montanhas do Atlas, oito monges cristãos franceses vivem em plena harmonia com os habitantes da aldeia que os rodeia, muçulmanos. Mas a crescente agitação que abala o país, acompanhada por um fundamentalismo religioso, vai colocar em risco esta co-existência harmoniosa. A dúvida instala-se sobre o futuro do mosteiro e dos seus monges: devem ficar ou partir de regresso a suas casas?... E essa dúvida, aparentemente simples, acaba por ser uma questão "maior do que a vida", um símbolo de fé e de idealismo.
Inspirado em acontecimentos reais, ocorridos em Tibhirine, sul da Argélia, entre 1993 e 1996, o filme tenta dar a perspectiva dos monges destes acontecimentos trágicos. Não sei se é propositado, mas a forma como o faz é de tal forma distanciada, que o espectador não sente uma especial comoção. Pelo menos, foi o que aconteceu comigo, e creio que é uma forma de mostrar que, na vida, devemos ter ideais a seguir, e que, se os seguirmos, estaremos em paz connosco e com as consequências que daí advierem. O que, por si só, já é uma mensagem muito importante que nos é transmitida por este filme.
Outro ponto que gostei foi as paisagens. Filmado em Marrocos (suponho que na Argélia fosse impossível filmar), nas encostas do Atlas, tem planos de uma beleza absoluta.
O que me lembra da falta que sinto de paisagens assim, que me façam sentir pequenina e admirar a grandeza do mundo à minha volta...

Uma Família Moderna




A sessão de cinema desta semana levou-me a ver este filme italiano, "Uma família moderna", de Ferzan Ozpetek. O filme conta a história da família Cantone, uma daquelas famílias tradicionais do sul de Itália, onde toda a gente fala alto e ninguém se ouve (um pouco como muitas famílias portuguesas, já agora...).
O filho mais novo da família, Tommaso, regressa a casa para um importante jantar em que será firmada uma nova sociedade da empresa da família. A viver em Roma na ânsia de se tornar escritor, Tommaso está decidido a pôr tudo em pratos limpos com a família, que pensa que ele se formou em Gestão - e a firme decisão é contar, durante o jantar, que é gay. No entanto, os seus planos vão por água abaixo quando o irmão mais velho, Antonio, resolve ele mesmo revelar os seus segredos, o que resulta numa sucessão de acontecimentos que ninguém esperaria. Tommaso é, assim, empurrado para a gestão do negócio da família - tudo o que ele não queria.
Um dos grandes temas deste filme é, sem dúvida, a homossexualidade, tema que é retratado de uma forma bastante desempoeirada. O outro grande tema é a relação que as gerações mais novas têm com as expectativas que a família tem sobre elas. Algo que me oferece uma reflexão bastante interessante. Não obstante, é um filme divertido, descomplexado e bonito, porque Itália é um país com uma luz e umas cores fantásticas! Gostei muito do filme, saí do cinema muito bem disposta, algo que nem sempre é fácil. É, realmente, um filme que bem dispõe.


Ah, e a actriz Nicole Grimaudo é tão bonita que mete inveja.

Estoril Film Festival - Copie Conforme




Este ano vive-se a quarta edição do Estoril Film Festival - e a primeira em que, finalmente, fui ao festival (muito embora já noutros anos houvesse bons motivos para passar por lá). São vários os filmes que despertaram o meu interesse, nesta edição, mas constrangimentos de disponibilidade (e vontade) fizeram com que este "Copie Conforme", o mais recente filme de Abbas Kiarostami, fosse o único a constar dos meus visionamentos (até ao momento mas, provavelmente, também até ao final do evento).
Abbas Kiarostami, realizador iraniano de renome, conta com uma vasta carreira cinematográfica, do cimo dos seus 70 anos de vida. Embora reconheça o seu valor, creio não conhecer muito da sua obra. Aliás, na minha cabeça paira ainda (e sempre, talvez) a confusão sobre ter ou não visto "1o", filme de 2002... Não consigo perceber se foi este o filme que vi, ou antes "O Círculo", filme do também iraniano Jafar Panahi... As temáticas não são muito diferentes, devo dizer, em abono da minha pessoa.
"Copie Conforme" é quase que uma Torre de Babel. Filmado em Itália, tem como protagonistas uma actriz francesa e um actor inglês. Os diálogos vão percorrendo as três línguas, sem grandes fronteiras. Ele, William Shimell, é um escritor autor de um livro sobre o valor e dignidade das cópias enquanto veículos da arte em si. Ela, Juliette Binoche, é dona de uma loja de antiguidades e uma mulher intrigante. A história, esse, vamos percebendo com o desenrolar do filme e, como tal, não convém aqui desvendá-la. Apenas posso dizer que é um filme sobre a natureza das relações a dois e suas expectativas. Muito bem filmado, muito bem interpretado, cenicamente muito bonito, e extremamente tocante. Muito bom, assim sendo. A sua edição em circuito comercial está para breve, pelo que soube, por isso estejam atentos.
Depois da exibição do filme, seguiu-se um sessão de perguntas e respostas com o realizador, que durou cerca de 1 hora e meia, e que foi muito interessante. Kiarostami é um artista de uma simplicidade que assombra.

Ondine




As sessões de cinema voltaram a ser mais frequentes, o que me deixa muito feliz. Na passada quarta-feira foi a vez do último filme do irlandês Neil Jordan, "Ondine" - filmado na Irlanda e com actores maioritariamente irlandeses. Uma maravilha para quem gosta tanto desse país verde, como eu.
Syracuse é pescador numa terra perdida nas verdes colinas do sul da Irlanda. Toda a população trata-o por "Circus", numa alegoria ao seu comportamento passado. Homem sem sorte, tem a luz dos seus dias na filha Annie, gravemente doente com uma insuficiência renal. Um dia, Syracuse apanha nas suas redes um bela rapariga, Ondine. E, a partir desse dia, a sua sorte muda - redes cheias de peixe, um novo alento. Como se de um conto de fadas se tratasse. Mas qual será a realidade?...
Ondine é um belo trabalho cinematográfico, tanto a nível fotográfico, como de história e interpretação. Colin Farrell está espantosamente bem na pele do pescador desalentado, olhar triste e incrivelmente magro. E Alison Barry, na pela da filha Annie, mais parece um anjinho, de tão doce.
Uma fábula moderna que vale a pena ver, que apenas peca pela quase "hiper" realidade que insiste em nos mostrar o que realmente está por trás da história. E os Sigur Rós tinham mesmo que estar presentes, num filme que elogia as criaturas do mar... :)