Dez anos depois


Dez anos depois, o regresso à capital irlandesa. Então Março, desta feita Fevereiro. Duas semanas depois e teria sido o "círculo perfeito". 
Embora comece este post de forma algo enigmática, a minha segunda visita a Dublin foi planeada calmamente, tendo como objectivo a visita a uma amiga querida que lá está a morar. Sabem alguns que a primeira visita foi rodeada de contornos improváveis, como os atentados de Madrid a acontecerem no mesmo dia em que voei para lá. Será uma viagem para nunca esquecida. Ou, pelo menos, enquanto a memória durar. Ou isso era o que eu achava. Porque o regresso a Dublin mostrou-me que, afinal, havia todo um conjunto de memórias de alguma forma recalcadas no meu subconsciente, e que, claro está, resolveram ver a luz do dia ao voltarem a esses lugares familiares! Assim, aquele cujo plano era ser um fim-de-semana entre amigas, viu-se agitado por um turbilhão de emoções. A cada passo, a exclamação "mas eu já estive aqui!" - o que se tornou com certeza maçador a determinada altura (desculpem, meninas). Qual foi, então, a minha visão da cidade passada uma década? Dublin mudou provavelmente, assim como eu também mudei. Achei a cidade um pouco triste, talvez dado o tempo cinzento. Cara, muito cara (e para quem mora em Londres isso quererá dizer muito). Mas também aprendi, não pela primeira vez mas talvez com mais atenção, um pouco da história da cidade, do país e do seu povo. E não é uma história fácil. Visitei sítios que não conhecia. Tirei muitas fotografias (a preto-e-branco, a condizer com o sentimento geral). Calcorreei a cidade para visitar museus que estavam fechados (malditas segundas-feiras). E cheguei à conclusão que a Irlanda tem que ser um país muito especial, a julgar (quanto mais não seja) pela quantidade de escritores fantásticos que já ofereceu ao mundo (de leitores ávidos, como eu).
Foi um bom fim-de-semana, para repetir com certeza. Que se está aqui tão perto.
Ah, e finalmente percebi a geografia da cidade. Ao fim de dez anos.

Her

Na semana passada houve nova ida ao cinema. A ideia original era ver o Dallas Buyers Club, mas acabamos por ir ver este Her, o mais recente filme de Spike Jonze. A premissa de juntar Jonze na realização e Joaquin Phoenix na interpretação é sem dúvida interessante e promissora, conhecido que é o registo de "estranheza" que ambos partilham.
Nesse respeito, Her não desiludiu. Mas vamos, então, à história. Estamos em 2025. Theodore é um homem calmo a atravessar um doloroso processo de divórcio. Decide comprar um novo sistema operativo, o qual tem capacidades evolutivas e de adaptação ao utilizador. Por iniciativa de Theodore, o seu terá uma voz feminina e escolhe para si próprio o nome de Samantha. Claro que, após esta interacção inicial, ficamos logo a perceber que a relação entre os dois, Theodore e o sistema operativo Samantha, será especial. Mas não faz mal, essa é a ideia principal do filme: um homem que se apaixona e enceta uma relação com o seu sistema operativo.
Ok, claro que é estranho. Mas vamos por partes. Primeiro, o filme em si - a interpretação de Phoenix é muito boa, para ser comedida nos elogios, principalmente se consideramos que ele representa sozinho na grande parte das cenas. Há nele uma fragilidade latente quase irresistível. Depois, a estética - no futuro, tudo é retro, desde a decoração ao vestuário. E terrivelmente colorido. Como se o futuro fosse uma combinação dos anos 1960 com tecnologia de ponta. Por último, e deveras interessante, é a parte de crítica social subjacente ao tema abordado (e aqui tenho que fazer a ressalva de esta ser a minha interpretação muito pessoal do filme) - a falta de comunicação e envolvimento emocional que carateriza as relações humanas de hoje em dia, em detrimento de interacções mais distantes e emocionalmente resguardadas em formato "digital". Apesar de ter à distância de uma mão relações possíveis e com sentido, Theodore "prefere" embarcar numa relação com o seu sistema operativo. E porquê? A meu ver, a resposta é relativamente simples. Porque, no seu sistema operativo, Theodore tem "alguém" que é uma imagem daquilo que ele procura. Adaptado a ele. Sem conflitos, sem voltes de face. E isso é algo que considero muito comum hoje em dia - a cedência ao facilitismo, como se tudo o que custe um bocadinho não valesse a pena o esforço. Eu, como sou da escola contrária, acho isso uma tremenda parvoíce. Mas a ver vamos. O filme, esse, vale muito a pena.

The book thief

Na semana passada fui ao cinema à borla. Foi, aliás, a primeira borla do género em Londres. Mas o mérito não é meu - a minha colega de casa ganhou bilhetes para a ante-estreia deste "The Book Thief" (em português, "A rapariga que roubava livros"), e eu fui acompanhar. 
Tenho que dizer que as opiniões que chegaram até mim sobre o filme não eram as melhores. Isto vindo de pessoas que leram o livro e que ficaram tremendamente desiludidas (para dizer o mínimo) com a adaptação cinematográfica. Eu que não li o livro, não posso fazer comparações. Mas posso dizer que não fiquei muito entusiasmada com a versão que chegou aos cinemas. Primeiro, a temática Segunda Guerra Mundial não é algo que me interesse particularmente, para além de estar um bocadinho gasta em termos de cinema (veja-se que, neste momento, há pelo menos um outro filme em exibição que retrata a mesma época, ainda que focado em temas diferentes). Segundo, e motivações à parte, o filme tem "tiques" que me desagradam profundamente, como por exemplo o facto de todas as personagens falarem inglês com pronúncia alemã. Já vi isto acontecer em muitos filmes, mas continuo a achar que não faz sentido - ou bem que o filme é em alemão (língua original das personagens), ou bem que é em inglês. Maneirismos linguísticos é algo que não me agrada. O que faz com que tenha ficado de pé atrás desde o início do filme.
Os dois pontos que foco são provavelmente a razão de não ter gostado nem desgostado do filme. Não me disse muito. Não me despertou interesse. Pela positiva, as interpretações de Geoffrey Rush e Emily Watson são muito boas. Valha-nos isso. Porque, ainda para mais, o filme é longo.