Antigone (das tragédias da vida)


E para terminar um ciclo de quatro idas ao Barbican em menos de duas semanas, fui ver uma interpretação da tragédia grega Antígona. A versão que deu origem a esta peça não é a original da mitologia grega, mas antes uma "adaptação" feita por Sófocles, em que tudo começa com Antígona a quebrar a lei por querer dar um enterro digno ao seu irmão Polinices. Morto em batalha com o seu irmão Eteocles pelo direito a reinar em Tebes, Polinices não tem por lei direito a ser enterrado por ser considerado um traidor (porquê, não percebi muito bem). Mas Antígona não se coíbe de desafiar as leis e o rei Creon, seu tio, para poder adequadamente chorar a morte do seu irmão.
Daqui para a frente a tragédia só se adensa, como será de esperar, ou não fosse esta uma tragédia grega. A cenografia da peça optou pela simplicidade, com um cenário minimalista, bem ao estilo moderno. E o guarda-roupa das personagens também, a roçar o austero. O que posso, então, dizer sobre aquilo que vi?
Primeiro, claro que é uma emoção ver uma peça cuja interpretação principal fica a cargo da Juliette Binoche. Vê-la ali, à minha frente, no palco, quase parece mentira. Claro que acaba por desmistificar um pouco a figura, porque ela é, como seria de esperar, uma pessoa normal, tal como as outras. Agora em relação à peça, não fiquei completamente satisfeita. Nunca antes tinha vista uma peça desse género, não sei se tragédias são bem o meu estilo... E definitivamente a abordagem super moderna aos clássicos também não me caiu bem no goto. Mas pronto. Sem dúvida uma experiência muito interessante.

Carmina Burana, finalmente (ainda que em versão estudante)

Depois de anos e anos a namorar a ideia, finalmente surgiu a oportunidade de ouvir Carmina Burana, obra maior do compositor alemão Carl Orff. Calhou de ser no dia a seguir ao concerto de jazz de homenagem à Strata East, mas isso é um pormenor. 
Assim, em dias consecutivos, lá rumei eu mais uma vez até ao Barbican, a minha segunda casa. Para concertos, perceba-se.
Ainda que fosse interpretada pelo coro e orquestra da Westminster School (logo não completamente profissional), deu para tirar a barriga de misérias e realizar um desejo de há muito tempo. É uma obra da qual gosto realmente muito. Tem muita energia, algo que aprecio em música clássica. Faz-me sentir mais viva.

Um bocadinho de jazz para fechar o fim-de-semana

Há coisa de um mês atrás, naquele que foi o início de uma saga de concertos sobre a qual falarei muito por cá, fui mais uma vez até ao Barbican ver um concerto de jazz para descontrair. Domingo à noite, vinha mesmo a calhar.
O concerto foi de alguma forma uma homenagem à editora Strata East Records, fundada no início dos anos 1970 por Charles Tolliver e Stanley Cowell, tendo como principal objectivo o lançamento de obras de jazz um pouco mais obscuras e menos mainstream. No concerto pudemos contar com os dois fundadores, acompanhados ainda pelo baixista Cecil McBee, o saxofonista Billy Harper e o baterista Alvin Queen, e ainda com algumas presenças vocais. 
O concerto, curado por Gilles Peterson (o senhor que praticamente me "apresentou" ao mundo da world music há mais de 10 anos atrás - e sim, o jogo de palavras é propositado), foi muito agradável e interessante. Mais uma vez, momentos de muito introspecção (que podem ou não ser úteis...).

O virtuosismo do violino

Já lá vai quase um mês que regressei aos concertos de música clássica. Desafiada pela minha ex-companheira de casa, rumei até ao Southbank Centre para ouvir a Philarmonia Orchestra interpretar três peças de Jean Sibelius, compositor finlandês do final do século XIX, compostas especialmente para violino (instrumento da sua predilecção, aparentemente).
A minha relação com a música clássica é semelhante àquela que tenho com a arte em geral: não percebo muito, apenas estou ali para sentir. E é nisso que normalmente me concentro. Com a música clássica, desde que de alguma forma me toque, é um sentimento muito interessante. Perco-me completamente nos meus pensamentos, vagueio por realidades imaginadas, abandono-me quase por completo... Altamente terapêutico, na minha opinão. É por isso que gosto tanto de ir a este tipo de concertos. Faz-me bem à alma. 

(Uma nota em relação à música: nada contemplativa, bem proporcionada, forte e acutilante. Muito bom.)

Gaston Dorren - Lingo

O último livro que li foi este Lingo, de Gaston Dorren, autor holandês (ao que consegui apurar). O autor, linguista, jornalista e, principalmente, poliglota, escreveu este livro que se auto-intitula como um guia das línguas faladas na Europa.
Quando vi este livro na Waterstones, o interesse foi imediato. Fascina-me a linguagem, seja em que língua for. Fascina-me principalmente perceber um bocadinho mais da sua evolução, o porquê de diferentes países falarem línguas diferentes, e a influência que essas línguas têm da história e geografia do país. Assim, esta foi quase a leitura perfeita. Interessante, curiosa, cheia de exemplos engraçados, desta leitura ficou apenas a vontade de saber mais porque, ao fim e ao cabo, a abordagem acaba por ser um pouco superficial para poder cobrir todas a línguas europeias (que descobri serem muito mais do que eu anteriormente imaginava).
Posso contar-vos um bocadinho do que podem encontrar neste livro, algo que é mencionado no capítulo dedicado ao Português. Fiquei a saber que, em Português, substituímos tendencialmente o pl do latim por ch. Como plumbum e chumbo. Ou pluvia e chuva. Porquê, não sei. Mas que isto das línguas é interessante, não haja dúvida.