Clubbing Optimus - Fevereiro 2011, ou o rapaz de Tondela seguido pelo virtuoso da guitarra (ainda com tempo para ouvir o amor que nos separa)



Fim-de-semana de rumo a Norte, com planos variados e muita vontade de passear! Entre esses planos, constava este Clubbing de Fevereiro, na agenda há quase um mês... A companhia alterou-se ligeiramente (em relação ao último), mas nem por isso foi menos interessante. Numa noite de revivalismos, começámos por rumar até à sala 2, por onde tocava Samuel Úria, o música orgulhosamente tondelense, embora vendido a terras lisboetas... 45 minutos de voz e guitarra, a tocar o seu álbum "Nem lhe tocava". Muito simpático e falador, a honrar as suas origens beirãs (ficou todo contente quando a Marta gritou "Viseu" - há aí alguém de Viseu?, perguntou o rapaz), munido de todo o seu charme para seduzir uma plateia de cerca de 100 pessoas. Que desapareceram ainda antes da última música, porque na sala Suggia começava Peter Hook a tocar o álbum emblemático dos Joy Division, "Unknown Pleasures", em homenagem aos 30 anos que passaram pela morte de Ian Curtis. Já eu, para ser diferente, fiquei mesmo por lá, para ver Norberto Lobo, o rapazito da guitarra. Bem, mas que transformação! Da fragilidade do seu aspecto à pujança da música que extrai de uma simples guitarra. Momentos de reflexão, portanto, que muita falta fazem nestes dias... No final, ainda deu para ir até à Suggia, onde consegui apanhar o fim do concerto, com direito a ouvir "Transmission" e "Love will tear us apart" - a cereja no topo do bolo. Para acabar, ainda fomos até ao restaurante no último piso, abanarmo-nos ao som de DJ Kitten. Assim se passou um serão, cheio de música.

Pena que o Clubbing de Março não pareça minimamente interessante...

Sexo sem compromisso



Na semana passada, com tantos filmes candidatos ao Oscar, resolvemos simplificar e ir ver um filme levezinho, porque ninguém estava a querer pensar demasiado... A escolha acabou por recair neste "Sexo sem compromisso", com a agora vencedora do Oscar Natalie Portman e Ashton Kutcher, o sr. Demi Moore. Claro que a história é previsível, claro que é a típica comédia romântica. Não estava à espera de outra coisa. Os actores estão bem nos seus papéis, ela médica, ele qualquer-coisa na produção televisiva. Conhecem-se enquanto adolescentes e vão-se cruzando ao longo da vida. Já adultos, encetam uma relação sem compromisso - são amigos única e exclusivamente para sexo. Claro que isto não irá correr bem e, a determinada altura, começam a criar expectativas em relação um ao outro, seguidas de encontros e desencontros que culminam no habitual final feliz.

(longo suspiro)

Quer dizer, para quem não queria ver filmes deprimentes... Não é que este me tenha deixado particularmente bem disposta. Mas, se calhar, já tem mais a ver comigo, do que propriamente com o filme. Para a semana será melhor.

Luísa Tender e Jill Lawson - Duo de pianos


No passado fim-de-semana, fui assistir a uma recital de piano que ocorreu na Culturgest, pelas mãos de Luísa Tender e Jill Lawson. O programa, embora em grande parte desconhecido para mim, pareceu-me interessante. Principalmente, porque incluía Tchaikovsky, que é um autor do qual gosto muito.
Assim, tivemos direito a quatro peças. O recital começou com excertos de "O Quebra-Nozes", de Piotr Tchaikovsky, com transcrições para dois pianos de Nicolas Economou. Seguiu-se uma obra mais densa, "La Valse", de Maurice Ravel, com transcrição de compositor. Após o intervalo, foi a vez de uma obra contemporânea, da autoria de Fernando Lapa, compositor português nascido em Vila Real. "Storyboard - seis miniaturas para piano a 4 mãos" foram algo enfadonhas, principalmente para quem não aprecia o género musical mais contemporâneo... Para finalizar, tivemos direito a ouvir "Suite nº2, op. 17" de Sergei Rachmaninov, da qual muito gostei.
Foi um final de tarde calmo e interessante. E diferente.

Os miúdos estão bem



Pronto, dá para perceber que a inspiração não tem sido muito... Que fazer?
Este "Os miúdos estão bem" foi o filme da semana passada. Escolha feita a pensar no facto de ser um filme que não se iria aguentar muito mais tempo em cartaz (e, realmente, saiu na semana seguinte). A crítica foi muito favorável a este filme que conta a história de um casal de irmãos, filhos de duas mães, que vão à procura do seu pai biológico. E, ao encontrá-lo, esse encontro irá colocar as vidas de todos de pernas para o ar.
Primeiro: soberbas interpretações, principalmente de Annette Bening (nomeada ao Oscar por este papel), completamente masculinizada. Mark Ruffalo foi um pouco de uma desilusão, porque tempos houve (em que estava maluquinha, só pode) em que achei esse senhor interessante. Não. O senhor é apenas canastrão. Não é mau actor. Mas não é bonito, isso com certeza. Bem, mas isso é pouco relevante para o caso. A personagem de Ruffalo, pai/dador de esperma, é quem vai pôr toda a acção na história. Nic e Jules têm uma relação sólida, em que cada uma delas teve um filho pôr inseminação artifical (ambos filhos de Paul). No entanto, a sua relação não passa pela melhor fase, uma vez que Jules não se sente realizada profissionalmente e acha que Nic não a apoia a 100% neste campo. O aparecimento de Paul vai destabilizar ainda mais a relação entre as duas, e a relação que têm com os filhos, Joni e Laser.
Assim, é um filme sobre a família, basicamente. Sobre o casamento. Sobre a idade. Sobre as exigências que a vida nos vai impondo. Muito bem conseguido, apenas tenho um reparo a fazer e que se prende com o facto de, algo bruscamente, Paul desaparecer da vida de todos. Pareceu-me algo estranho, uma vez que ele pertence a grande parte do filme. Mas, no fim, os miúdos estão bem. E isso é que interessa.

Cisne Negro



Mais uma semana, mais um filmezinho! É quase como que uma montanha-russa, estas sessões de cinema...
"Cisne Negro" é o mais recente filme de Darren Aronofsky, autor de filmes marcantes como "Requiem for a Dream" ou "The Wrestler", entre outros. Garantido era, assim sendo, um filme para não deixar ninguém indiferente. A história não é muito rebuscada. Nina, bailarina, atinge o sonho de uma vida: ser escolhida para o papel principal de "O Lagos dos Cisnes", obra emblemática de Tchaikovsky. Se Nina é perfeita para encarnar a personagem do Cisne Branco, o mesmo não se pode dizer da sua interpretação da "irmã das trevas", o Cisne Negro. Na procura do bailado perfeito, Nina arrasta-se até aos limites da sua sanidade mental.
Se a história não é rebuscada, a sua narração neste filme é intrincada e brilhante. Mestre dos thrillers psicológicos, Aronofsky persegue (quase literalmente) Natalie Portman na sua prestação de Nina. Os pormenores artísticos da realização são belos (jogos de luzes, fotografia, posicionamento das câmaras, ângulos de filmagem), o que faz deste "Cisne Negro" um filme belo. Mas desenganem-se desde já. Confrontada com a pergunta habitual "gostaste do filme?", respondo: deste filme não se gosta. É um filme lindo, bem feito, soberbamente interpretado. Tem tudo. Mas não é um filme de que se goste. É um filme que se admira.
Quanto a Portman, tem aqui, provavelmente, o papel da sua vida. Se não levar agora o Oscar para casa, não imagino quando isso possa acontecer.

Bravo!

As rosas de Atacama



Mais uma semana, mais um livro lido. Outro de Luís Sepúlveda, e outro livro de pequenas histórias, pequenas crónicas de vida. Muito na mesma onda de Histórias daqui e dali, este "As rosas de Atacama" colecciona histórias sobre o autor, sobre a sua vida no exílio, sobre pessoas que foi conhecendo aqui e ali, por entre o mundo de locais por onde passou. É, assim, um testemunho de uma vida cheia, daquelas vidas que nos fazem inveja, que nos põem a pensar na nossa vida que levámos por cá...
Sepúlveda é um contador de histórias. Capta as situações e pessoas com emoção, transmitindo toda a carga emocional inerente.
Assim, são livros muito agradáveis, que se lêem num ápice.

Bernardo Sassetti em concerto ou a aula sobre a história dos blues



Aconteceu, durante a última semana, um ciclo musical na Culturgest, organizado por Ruben de Carvalho, que, este ano, foi dedicado aos blues. Da oferta proposta, decidi ir ver o concerto de Bernardo Sassetti. Mas não foi de um concerto que se tratou. Foi antes uma aula sobre a origem dos blues, as suas temáticas, as suas raízes musicais. Sassetti falou com o público, mostrou exemplos, tocou trechos musicais relacionados com a temática em questão. Isto intercalado com passagens do documentário que Martin Scorsese dedicou a este género musical tão presente nas nossas vidas.
Foi um exercício muito interessante. Claro que eu, para não variar, não tinha lido a descrição do evento e, como tal, fui convencida de que iria apenas assistir a um concerto... Mas não. Ouvi boa música ao mesmo tempo que aprendi. Sendo que aprender é um dos verbos mais bonitos, não?...
Assim sendo, gostei muito desse serão. Pena é que não haja mais iniciativas deste género. Uma pessoa está sempre desejosa de aprender.

E, graças a este "concerto", relembrei-me de um gosto que já vai sendo antigo, que é o pelos blues africanos do Mali. Sendo que Ali Farka Touré é o meu intérprete mais favorito de todos. Esse grande músico...

Um ano mais



O mais recente filme de Mike Leigh (o mesmo de Happy Go Lucky, revisto neste blog) é, como não poderia deixar de ser, um filme sobre pessoas. Começo a chegar à conclusão que são esses os meus filmes favoritos, os que se debruçam sobre pessoas, mas pessoas a sério, com defeitos e qualidades e, acima de tudo, com limitações.
Tom e Gerri (isso mesmo) compõem um casal de meia-idade que vive confortavelmente a sua vida e a sua relação. Pessoas afáveis e sociáveis, vão vivendo rodeados de amigos, ao longo de um qualquer ano mais... Particular ênfase para Mary, uma mulher também de meia-idade que carrega o peso de ter vivido um casamento que não resultou, seguido de uma relação que também não teve pernas para andar, tendo chegado aos dias presentes sozinha e algo desequilibrada. Mary sente a sua relação com Tom e Gerri como um substituto de tudo aquilo que ela não alcançou, nomeadamente o ter uma família sua.
Mas, então, sobre o que trata este filme?
Precisamente sobre esta dinâmica: família vs amigos, vida própria vs vida dos outros, a percepção do nosso lugar no mundo. É um filme simples. Não há um enredo, princípio ou fim. Há apenas estas pessoas que se relacionam, com o que isso acarreta. E está tão bem conseguido, tão bem filmado e interpretado, que é um filme maravilhoso. Mas não é para qualquer pessoa.