Concerto em família


Na sexta-feira passada, fui mais uma vez até ao Barbican, desta vez para assistir ao concerto de Toumani Diabaté, o virtuoso da kora maliano, na companhia do seu filho, Sidiki. Há muito tempo que ansiava vê-lo em concerto, mas nunca tinha acontecido. Estar em Londres tem destas coisas. Há concertos para todos os gostos. 
O concerto foi lindo. Étereo. Pai e filho, cada um com a sua kora. Estilos bastante diferentes, mostrando como as interpretações da música são únicas e personalizadas. A simplicidade de dois instrumentos que, no fundo, são apenas um, tocado a quatro mãos. Gosto particularmente da abstracção que me proporciona. Uma terapia, diria.
No final do concerto, fiz fila para que me autografassem os recém-adquiridos álbuns. E qual não é o meu espanto quando, ao chegar a minha vez, tive o sr. Toumani a perguntar-me se não nos conhecíamos de algum lado... muito bom. Porque a vida tem destes momentos algo surreais. A fechar uma noite especial.

29 de Maio

29 de Maio. Um dia com significado.

Primeiro, porque é o dia de nascimento do meu avô Bernardino, que hoje faria 93 anos, se estivesse entre nós. Fisicamente, porque sinto a sua presença muitas vezes, principalmente quando as saudades apertam. De quando me chamava de "olho branco".

Depois, há o 29 de Maio de há 17 anos atrás. Por essa altura, andava a estudar para as provas globais do 9ºano. Mais precisamente, para a prova global de Físico-Química, com o primo Fernando. Ouvíamos a Antena 3, música para inspirar ao estudo. E foi nessa altura que soube da morte de Jeff Buckley. Desde então tem acompanhado a minha existência, 17 anos de cumplicidade, canções que tecem a banda sonora da minha vida adolescente e adulta. 

Por isso, 29 de Maio é um dia algo especial. Que passo com estes dois homens na cabeça - um por todas as memórias que guardo com carinho, as histórias, a boa disposição; o outro, pela música que me deixou e que dá um pouco mais de significado aos meus dias. Importâncias diferentes, mas que eles não se hão-de importar de partilhar. Onde quer que estejam.

Susheela Raman no concerto da semana

Já tinha mencionado que estava aberta a época de concertos. O que, trocado por miúdos, significa que tenho, basicamente, um concerto por semana nos próximos tempos. Cada tolo com a sua mania.
Esta semana, e no seguimento do festival Alchemy, a decorrer no Southbank Centre, fui ver Susheela Raman, cantora inglesa de origens indianas. Já a tinha visto há alguns anos, no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, e gostei muito.
Desta vez, o concerto foi um pouco diferente porque a cantora "apenas" apresentou o seu mais recente álbum, Queen Between. Achei a sonoridade um bocadinho diferente, mais ocidentalizada, por assim dizer. Mas muito interessante, sem dúvida. Repito a ideia que deixei no último post - a música tem um poder enorme em trazer bem-estar à nossa vida. E é engraçado como, mais uma vez, tinha portugueses ao meu lado num concerto no Southbank Centre. Devemos gostar todos do mesmo...

Um judeu na Índia (ou as maravilhas que se descobrem por estes lados)

Está aberta a época dos concertos. E num dia em que a preguiça fez cair a matinée teatral, o serão trouxe um belo concerto deste rapaz israelita que "emigrou" para Índia, de onde tira grande parte da inspiração para a sua música. Shye Ben-Tzur canta Qawwali, um estilo musical religioso sufista do qual Nusrat Fateh Ali Khan era um dos expoentes máximos. 
Não sei se é a dimensão poética da música que a torna tão especial. Ou o seu cariz religioso. Não sei o que é, mas sei que ressoa cá dentro da alma e me faz sentir muito, mas mesmo muito feliz. Adoro música e poder ouvir a música que gosto ao vivo. Mas há momentos em que o sentimento transcende esse gosto, e ultrapassa em muito a função de entretenimento. É difícil pôr em palavras essa sensação, por isso espero que consigam compreender ao que me refiro. Dou por mim a sorrir espontaneamente. Dou por mim a sorrir, mesmo contra a minha vontade. 

A meia idade do Kronos Quartet


O Kronos Quartet está a festejar os seus 40 anos. Bela idade, diria eu. O que melhor conheço da obra desses 40 anos são as bandas sonoras que fizeram, nomeadamente para o filme Requiem for a dream, de Darren Aronofsky. Um quarteto de cordas com um som pujante e emotivo.
No concerto que deram hoje no Barbican, o repertório era quase todo novo, ou pelo menos bastante recente. Com convidados que compuseram especialmente para eles, a diversidade foi o sentimento geral. Começaram por um conjunto de peças da autoria de Terry Reily, uma daquelas coisas altamente contemporâneas e que soam, de alguma forma, assíncronas. Como se as notas não batessem certo umas com as outras. Depois, Philip Glass, com uma composição mais melódica e mais ao jeito daquilo que reconheço com o som do quarteto. De seguida, veio o momento que mais gostei - juntou-se ao quarteto Bryce Dessner, dos The National, para a cinco tocarem as composições que Dessner fez para eles. Muito interessante e cativante. Tenho que ver se arranjo o álbum, quero ouvir com mais atenção. Depois do intervalo, um curto momento com uma composição de Jarvis Cocker, um pouco mais conceptual, para depois acabar com uma colaboração com a cantora ucraniana Mariana Sadovska, num registo muito diferente, com vocalizações a lembrar Dead Can Dance. 
Como podem perceber, houve sem dúvida espaço para um leque alargado de estilos. Gostei.

Henri Matisse: the Cut-Outs


Hoje foi dia de arte. Passeio até à Tate, para ver uma exposição dedicada ao pintor francês Henri Matisse, mais concretamente às obras que produziu por recurso à sua técnica (tardia) de corte e colagem. Desde os primeiros trabalhos, pequenas experimentações com reproduções de pinturas, até telas gigantescas cobertas de colagens coloridas, passando por ilustrações de livros e revistas e vitrais. Sim, vitrais. O senhor fez um pouco de tudo. Preenchendo paredes com cor e movimento. Com 80 anos. Impressionante, sem dúvida.
Foi um consolo para olhos (e também para alma) submergir em toda essa criatividade. Quase parece simples. Se calhar, até é bastante simples. Daí o prazer que se sente ao entrar nesse mundo. Quais crianças a brincar com papéis coloridos e tesouras. Fosse assim a vida.

Nemesis - Jo Nesbo

Como seria de prever, o regresso a livros policiais, particularmente tratando-se de uma obra de Jo Nesbo (mais de um ano depois), quebrou o enguiço das leituras prolongadas. Parece ser uma receita de sucesso, sem lugar para falhas. Duas semanas bastaram para devorar as 700 páginas de Nemesis, capítulo quatro da saga Harry Hole. Desta vez, o carismático investigador da polícia vê-se a braços com uma morte ocorrida durante um assalto a um banco. Claro que o crime tem ramificações inesperadas e mantém o suspense quase até ao fim, mas tenho que confessar que desta vez já não achei tão interessante como é costume. Talvez seja por ter começado a ler esta saga pelos capítulos mais recentes, as obras anteriores parecem-me um pouco naïves em determinados pormenores... Talvez um dia tenha tempo e vontade para ler os livros todos pela ordem certa. Mas, para já, continuo numa espécie de leitura hop-on hop-off. Viagem turística pela obra de Jo Nesbo. :)