Andrew Bird no Cinema São Jorge



Dois anos volvidos desde que vi Andrew Bird pela primeira vez, houve direito a uma reincidência. Se, no Theatro Circo, em Braga, o rapaz vinha apresentar o álbum Armchair Apocrypha, agora o álbum é Noble Beast, saído há apenas uns meses.
Domingo à noite, rumei até ao Cinema São Jorge, mais a cara-metade, para um concerto que foi adicionado à agenda da passagem do músico por Portugal, uma vez que o concerto do dia seguinte já se encontrava esgotado há algum tempo. E a segunda data, embora não tenha esgotado (acho eu!), andou lá bem perto.
O São Jorge, como sala de concertos, até não é mau. O grande problema, já sentido em visitas anteriores, é o calor, provavelmente devido à inexistência de ar condicionado. Ou, se o há, não se sente. Mas passemos ao mais importante.
Andrew Bird apresentou-se num registo "one man show", acompanhado do seu habitual violino e, ocasionalmente, de guitarra. Para não falar do omnipresente assobio, qual rouxinol! O rapaz é um virtuoso do violino, disso não há qualquer dúvida. Mas a decisão de não vir acompanhado de banda e ter a seu cargo todo o espectáculo acabou por não resultar inteiramente. As músicas tornaram-se muito mais simples e perderam carga emocional, pelo que o concerto girou à volta de um anti-clímax - como que se esperando a qualquer momento a catarse, mas sem nunca lá chegar. É pena, porque o último álbum é realmente muito bom, mais consistente do que o anterior. Aconselho vivamente a sua audição. Há lá pelo meio momentos em que faz lembrar Nick Drake e tudo...
Mas o concerto de há dois anos foi melhor.

O Sal da Língua - Eugénio de Andrade

Resolvi dar uma vista de olhos a um livro lindo que me foi oferecido há uns anos pelo meu padrinho, e que é uma antologia poética de Eugénio de Andrade. Nele encontrei este poema fantástico, que aqui partilho com vocês.


O Sal da Língua

Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar.
Para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.

in O Sal da Língua
Eugénio de Andrade

Arredores de Viseu

Este fim-de-semana que passou foi passado pelas belas terras de Viriato. Como vocês sabem (ou não), é uma zona que me é muito querida mas, ainda assim, há muito que me é desconhecido.
Assim, como destino de domingo à tarde, rumámos em direcção a norte (de Viseu). Primeira paragem em Vila Nova de Paiva, vila calma situada nas margens do rio Paiva (como seria de esperar...). A zona à beira-rio é bonita e agradável, e a vila muito pequenina, com as suas ruas empedradas.
Depois, seguimos em direcção a Tarouca. A paisagem é tipicamente beirã, o que me enche o coração. Mesmo antes de chegar a Tarouca, virámos à direita, para onde uma placa indica "Ucanha". Lugar onde existe uma torre e uma ponte medievais, que remontam ao século XII, segundo se especula. Para lá chegar, é preciso descer até ao rio, Varosa de seu nome, de águas límpidas. E lá chegados, o ambiente é digno de ser apreciado, com calma. Nunca imaginei que houvesse um lugar assim, perdido no meio dos montes que rodeiam os sítios por onde cresci. A imaginação consegue levar-nos para tempos antigos, para outras realidades e histórias. Muito bonito, rodeado de sabugueiros em flor, arbustos espampanantes e cheirosos.
Vale realmente uma visita.


Tarouca


Vista geral de Ucanha


Torre medieval de Ucanha


Em Ucanha


Ponte medieval de Ucanha

Fotografias por Rita Barbosa