Um bocadinho do rectângulo numa noite inesperada de sábado

Inspirada pela dita experiência londrina de ir a concertos em bares (ou talvez não, porque os bilhetes estavam comprados há já algum tempo), no passado fim-de-semana fui ver, bem pertinho de casa, os lisboetas PAUS actuar.
Tem sempre um sabor especial ver uma banda portuguesa a tocar quando se está num país estrangeiro. Mais ainda quando realmente gostamos da música. Por isso, sábado foi um dia realmente especial. Já não me sentia assim feliz num concerto há algum tempo.
Foi a primeira vez que vi PAUS ao vivo e achei-os muito bons. Têm uma energia fantástica, daquelas que, de alguma forma, nos deixam manietados, com espaço apenas para sentir (e abanar a cabeça ao ritmo maluco da música). Sim, a música é muito energética, fruto da dita bateria-siamesa - é uma música definitivamente dominada pela bateria.
Como podem ver, gostei muito do concerto. Foi uma noite um bocado estranha, com companhia inesperada para o concerto e estranhas combinações... O que só vem reforçar o meu gosto pelas combinações de última hora. Dizem que não sou uma pessoa espontânea, mas gosto muito de espontaneidade.

Clara Royer - Csillag

Este é um livro especial. Foi-me oferecido por um amigo muito querido, por altura do Natal. E é especial porque foi escrito por uma pessoa muito especial para ele. Há aqui uma certa circularidade de argumento, mas é importante explicar como o livro veio parár às minhas mãos e qual eram as minhas expectativas antes de o ler.
A história é bastante interessante: Ethel, jovem ilustradora, vê nos arquivos do amigo Côme sobre crianças deslocadas durante a 2ª Guerra Mundial uma fotografia da sua avó. Até aqui nada de especial (talvez), a não ser pelo facto de a criança na fotografia usar uma cruz ao pescoço. E a avó de Ethel ser judia, e ter transmitido à filha e à neta a sua cultura religiosa. Ethel sente-se de alguma forma traída pela descoberta, e decide tentar perceber o que está por detrás daquela fotografia, a verdadeira história da sua avó (que, ainda viva, sucumbiu à amnésia do Alzheimer).
O livro é muito interessante (aparentemente baseado em acontecimentos da vida da autora Clara) e está definitivamente bem escrito (apesar de ter uma linguagem por vezes desnecessariamente rebuscada; li o  livro na versão original, em francês, e embora não tenha sentido dificuldades, percebo que a linguagem utilizada não é a mais comum). Acaba quase por ser uma história de mistério, de investigação à volta de factos desconhecidos. Tentar juntar informação suficiente para encontrar o sentido de uma fotografia. Que consigo carrega o sentido de várias vidas.
Muito interessante, sem dúvida, e teve ainda a mais-valia de me pôr a ler com gosto, com avidez. 

Será que cumpro a resolução de ler um livro por mês este ano?...

A experiência londrina (com muito sono à mistura)


Há umas semanas atrás, em plena noite de semana (e depois de um dia de trabalho), embarquei com a colega de trabalho M. numa experiência que, no meu imaginário, considero muito londrina - concertos de bandas quase desconhecidas em bares esconsos algures na cidade. Esta primeira experiência levou-nos até Dalston, naquilo que pareceu uma viagem quase interminável de autocarro (ok, foram apenas 40 minutos, mas pareceu uma eternidade), para ver os londrinos Happyness, num concerto incluído na série dos NME Awards.
Foi engraçado. Primeiro comer/beber qualquer coisa no piso de cima do bar, normal, vista para a rua, para depois descer as escadas até à cave e entrar numa sala algo claustrofóbica, tectos baixos, muitos corpos alinhados, para ver os rapazes (jovens, muito jovens) tocar durante pouco mais de uma hora. Não conhecia (e ainda não conheço) muito bem a música deles. Ouvi umas duas músicas antes do concerto, e pareceu-me consideravelmente bem (daí a decisão de ir ao concerto). Mas o grande inimigo da noite foi, nitidamente, o cansaço. Podia ser um pouco melodramática e dizer que a idade já não permite a estes devaneios durante a semana de trabalho, mas acho que não é tanto a idade mas mais o cansaço acumulado durante os longos dias no laboratório. Assim quero acreditar.
A experiência foi uma boa experiência e funcionou quase como um desbloqueador - agora já tenho uma ideia melhor de como a cena musical por cá funciona. Por isso, será mais fácil de a aproveitar. London Calling.

Egon Schiele, ou a viagem a um mundo despido

Foi já há algum tempo que vi esta exposição de Egon Schiele, artista austríaco do início do século XX. A exposição, intitulada "The Radical Nude", foi dedicada ao manancial de obras do artista sobre o estudo do nu. Schiele foi um pintor de cariz expressionista, e uma considerável parte da sua obra está relacionada, precisamente, com pinturas de nus - Schiele inspirou-se na irmã, na esposa, mas também em amigos e prostitutas, construindo assim uma obra muito interessante. Altamente provocador na forma como capta a natureza humana, Schiele faz também um uso muito interessante da cor. Morto prematuramente aos 28 anos vítima da gripe espanhola, Schiele deixou ainda assim uma obra vasta e muito, muito interessante. 
Um belo fim de tarde de Janeiro, a provar que sair (mais) cedo do trabalho pode ser uma bela ideia.