Paul Bowles - The Spider's House



Já não é a primeira vez que falo sobre Paul Bowles neste blog. Por esta altura, já devem ter percebido que é um autor que gosto muito, muito. Já vou tendo é poucos livros dele para ler...
A acção deste "The Spider's House" passa-se (como não poderia deixar de ser) em Marrocos, mais particularmente em Fez, durante a década de 1950. Um escritor americano, John Stenham, vive há já alguns anos no país, apaixonado pela cultura marroquina. No entanto, grandes mudanças adivinham-se. Uma revolta nacionalista contra a ocupação francesa põe em causa tanto a permanência de estrangeiros no país como, mais importante, a própria identidade cultural do país. É no meio destes tumultos que o caminho de Stenham se cruza com o de Amar, um jovem marroquino que também se sente à margem dos acontecimentos...
Este livro é um retrato da rotina e cultura marroquinas, ao mesmo tempo que nos narra um período bastante conturbado da história desse país. Assim, é interessante pela temática e pelo tipo de escrita, mas também porque nos ensina algo. Sem ser marroquino, e nem sequer árabe, Bowles consegue retratar vividamente tudo isto.
Já disse que gosto muito dele?...

Não há família pior



Aqui está um filme que não precisa de grandes apresentações. Terceiro filme da saga "Meet the...", é uma comédia tipicamente hollywoodesca, com um elenco de luxo (DeNiro, Ben Stiller, Dustin Hoffman, entre outros). O tema, esse, é recorrente: famílias controladoras, genros-sogros que se odeiam, peripécias altamente improváveis que se repetem.
Posto isto, não há muito a esperar de um filme assim, para além de umas boas duas horas de descontracção e boa disposição. E foi exactamente isso que tivemos. E foi assim que uma perturbada tarde de terça-feira de repente se transformou num belo domingo... Ou, pelo menos, foi assim que me senti, quando saí do cinema!
É, então, um bom filme para entreter numa tarde aborrecida, principalmente se forem em boa companhia (tal como eu fui). E ainda mais se depois aproveitarem para comer um crepezinho salgado. Bem bom.

O Concerto



Meus amigos, agora sim posso dizer que tenho andado arredia. Não me apetece escrever e não tenho feito um esforço. Mas tem que ser, senão as histórias vão acumulando-se e quanto mais tarde, pior.
Há já algum tempo, escolhi este "O Concerto" como programa de domingo à tarde. Nada o género, no entanto. Filme francês de Radu Mihaileanu, maioritariamente falado em russo, conta a história de Alexei Filipov, famosíssimo antigo maestro da orquestra Bolshoi que, graças ao regime, é nos presentes dias empregado de limpeza no mesmo local onde antes dirigia a orquestra... Um dia, intercepta um fax vindo do Teatro Châtelet, em Paris, convidando a Bolshoi a ali efectuar um concerto. E decide reunir os seus antigos músicos, fazendo-se passar pela orquestra actual, para retomar aquilo que lhe foi retirado, 30 anos antes.
"O Concerto" é, como seria de esperar, um filme que respira música. Culmina numa interpretação do Concerto para Violino de Tchaikovsky, cheia de emoção. E, por entre peripécias engraçadas, mostra-nos como há paixões maiores do que uma vida. E como a vida faz mais sentido com elas.
E, já agora, relembrou-me os anos em que aprendi música e toquei piano. Saudades...

I'm still here




Depois de quase dois anos de interregno, o regresso de Joaquin Phoenix, neste filme/documentário sobre uma celebridade de Hollywood que decide retirar-se da carreira de actor e tentar a sua sorte no rap... Há dois anos, foi isso que Joaquin anunciou e, desde logo, a dúvida instalou-se: seria verdade ou apenas um projecto cinematográfico? Passado este tempo, provou-se que era a segunda hipótese a verdadeira. Realizado por Casey Affleck, cunhado de Phoenix, este projecto é uma inovadora forma de fazer cinema. Phoenix encarna a personagem JP, uma espécie de bad boy que vai chocando tudo e todos com as suas opções de vida, a forma como trata os seus colaboradores e a sua vida sem nexo - sexo, drogas e rap, há de tudo um pouco.
Qual a minha opinião sobre isso?...
Bem, é um exercício de cinema interessante, sem dúvida. Phoenix está muito bom na sua performance ou o que se queira chamar. Mas só espero que seja tudo um esquema, realmente. Porque, senão, que vida deprimente a dele. Assustador, mesmo. Que assim não seja.

O mito do jazz na sala demasiado grande




Ando a demorar muito tempo para escrever neste blog. Cansaço, falta de vontade... Um pouco dos dois. Mas cá estou eu a contrariar a tendência!!!
Na passada terça-feira (não ontem, mas na passada semana) fui ver o concerto de Herbie Hancock no Campo Pequeno. Hancock é um marco incontornável da música moderna, por isso há já algum tempo que ansiava vê-lo ao vivo. Lembro-me, em particular, de um concerto que deu, há uns anos, na Casa da Música, em que os bilhetes tinham o preço único de 60€... razão pela qual não fui. Desta vez, os bilhetes não estavam muito mais baratos, mas uma vez que o senhor já está com 70 anos, achei por bem abrir os cordões à bolsa e lá fui eu.
Primeira observação: o Campo Pequeno não é, nem de longe nem de perto, uma sala adequada para um concerto de jazz. Muito ampla, muito "fria", muito distante... Teria sido mais adequado fazer o concerto na Culturgest, ou mesmo na Aula Magna - não sei se cabia lá toda a gente, mas seria com certeza melhor. Não obstante, o concerto começou bem, apenas com parte instrumental, Mr. Hancock a dominar nas teclas. Depois veio a menina que cantava.
Segunda observação: a menina não cantava muito bem. Quer dizer, ela cantar bem, cantava. Mas tinha um timbre de voz que em nada se adequava ao registo. Muito agudo, muito límpido, sem "corpo". Não sei se me faço entender... É difícil de explicar. Mas, pronto, não gostei muito. Tocaram/cantaram algumas músicas no novo projecto, "The Imagine Project", em que colabora com músicos de todo o mundo para expressar uma mensagem comum, de paz. O próprio "Imagine", de John Lennon, foi cantado em palco, assim como "Don't give up", de Peter Gabriel, e "The times, they are a' changin'", de Bob Dylan.
Terceira observação: faltou, nitidamente, um saxofone ao conjunto musical. Um som jazz não é a mesma coisa sem um saxofone...
Bem, apesar destas críticas todas, gostei do concerto!!! Foi uma honra ouvir Mr. Hancock tocar durante quase 2 horas, sempre sem perder o fôlego, e com uma energia contagiante. E é o tipo de concerto que me faz "bem", porque me permite pôr muitas ideias no lugar. Ou tirá-las, dependendo do ponto de vista.

Uma semana do outro lado do mundo

16.000Km é muito quilómetro. O necessário para me levar até São Paulo e me trazer de volta. Uma semana do outro lado do mundo - um outro continente, hemisfério sul, quase Verão. Uma experiência nova, num país que nunca me seduziu particularmente... Mas que me despertou o interesse depois destes dias. Um país de contrastes, uma cidade cosmopolita e vibrante. Bons restaurantes, lojas de cair para o lado, e um nível de vida que surpreendeu por ser bastante mais alto do que estava à espera.

Nada mau.


O amigo Sérgio e os seus rascunhos





Já passou mais de uma semana desde que pude assistir, pela primeira vez, a um concerto de Sérgio Godinho. A espera ia longa, e a vontade mais do que muita. Altas expectativas, portanto.
O concerto, apelidado de "Final de Rascunho", propôs ao público estar um bocadinho presente no processo criativo da escrita de canções. Sérgio veio "treinar" as canções para o novo álbum, a sair em 2011 (espero eu). Veio também cantar canções mais velhinhas, mas com novas roupas. Porque cada canção renasce em cada interpretação. E nós renascemos em cada canção.

O alinhamento já estava mais ou menos definido. Começou com as músicas novas. Novas, mas algumas não inéditas. Novas versões de projectos antigos, novos arranjos musicais, alguns feitos por amigos (como Bernardo Sassetti ou António Serginho, ambos presentes no concerto e que actuaram ao lado de Sérgio e da sua banda, "Os Assessores"). Depois começaram a vir as músicas mais antigas (para delírio do público) e a magia completou-se. Recordo em particular o momento em que cantou "Espalhem a notícia" - senti os olhos a humedecerem-se de emoção. Percebi, como que num momento de clarividência, que Sérgio Godinho é um dos meus cantores favoritos. A simplicidade das músicas, aliada a letras que são verdadeiros poemas, enche-me o coração. É difícil de descrever melhor do que isto...


Agradeço à "minha" Mena, que me acompanhou neste programinha de sábado à noite. Foi muito bom, obrigada. :)

Mistérios de Lisboa




Bem, já que fui ver o filme, tenho que falar um bocadinho sobre ele. Escolhido como programa de domingo à tarde (as quase 5h de duração impedem que se veja à noite, a não ser que se saia do cinema de madrugada), este "Mistérios de Lisboa" foi, a modos que, uma desilusão. Sim, o filme está bem feito (se é fiel ao livro de Camilo Castelo Branco, isso já não sei dizer...) e os actores são bons (com algumas excepções, como João Baptista no papel de D. Pedro da Silva...). Mas não há nada na história que justifique o martírio de passar tanto tempo numa sala de cinema. A primeira parte da história é interessante e até promete mais do que aquilo que, efectivamente, nos é trazido pela segunda parte, que é apenas chata.
Enfim, estou desiludida. Pode ser que a versão mini-série seja mais interessante. Como filme, não faz grande sentido.

Dos Homens e dos Deuses



O filme desta semana foi este recém-estreado "Dos Homens e dos Deuses", filme francês realizado por Xavier Beauvois que venceu o Grande Prémio do Júri no Festival de Cannes, e que será o candidato francês ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Muitos atributos para, pelo menos, despertar o interesse dos cinéfilos.
A história desenrola-se no início dos anos 1990, durante um período conturbado (que ainda assim continua) da Argélia. Num mosteiro perdido nas montanhas do Atlas, oito monges cristãos franceses vivem em plena harmonia com os habitantes da aldeia que os rodeia, muçulmanos. Mas a crescente agitação que abala o país, acompanhada por um fundamentalismo religioso, vai colocar em risco esta co-existência harmoniosa. A dúvida instala-se sobre o futuro do mosteiro e dos seus monges: devem ficar ou partir de regresso a suas casas?... E essa dúvida, aparentemente simples, acaba por ser uma questão "maior do que a vida", um símbolo de fé e de idealismo.
Inspirado em acontecimentos reais, ocorridos em Tibhirine, sul da Argélia, entre 1993 e 1996, o filme tenta dar a perspectiva dos monges destes acontecimentos trágicos. Não sei se é propositado, mas a forma como o faz é de tal forma distanciada, que o espectador não sente uma especial comoção. Pelo menos, foi o que aconteceu comigo, e creio que é uma forma de mostrar que, na vida, devemos ter ideais a seguir, e que, se os seguirmos, estaremos em paz connosco e com as consequências que daí advierem. O que, por si só, já é uma mensagem muito importante que nos é transmitida por este filme.
Outro ponto que gostei foi as paisagens. Filmado em Marrocos (suponho que na Argélia fosse impossível filmar), nas encostas do Atlas, tem planos de uma beleza absoluta.
O que me lembra da falta que sinto de paisagens assim, que me façam sentir pequenina e admirar a grandeza do mundo à minha volta...

Uma Família Moderna




A sessão de cinema desta semana levou-me a ver este filme italiano, "Uma família moderna", de Ferzan Ozpetek. O filme conta a história da família Cantone, uma daquelas famílias tradicionais do sul de Itália, onde toda a gente fala alto e ninguém se ouve (um pouco como muitas famílias portuguesas, já agora...).
O filho mais novo da família, Tommaso, regressa a casa para um importante jantar em que será firmada uma nova sociedade da empresa da família. A viver em Roma na ânsia de se tornar escritor, Tommaso está decidido a pôr tudo em pratos limpos com a família, que pensa que ele se formou em Gestão - e a firme decisão é contar, durante o jantar, que é gay. No entanto, os seus planos vão por água abaixo quando o irmão mais velho, Antonio, resolve ele mesmo revelar os seus segredos, o que resulta numa sucessão de acontecimentos que ninguém esperaria. Tommaso é, assim, empurrado para a gestão do negócio da família - tudo o que ele não queria.
Um dos grandes temas deste filme é, sem dúvida, a homossexualidade, tema que é retratado de uma forma bastante desempoeirada. O outro grande tema é a relação que as gerações mais novas têm com as expectativas que a família tem sobre elas. Algo que me oferece uma reflexão bastante interessante. Não obstante, é um filme divertido, descomplexado e bonito, porque Itália é um país com uma luz e umas cores fantásticas! Gostei muito do filme, saí do cinema muito bem disposta, algo que nem sempre é fácil. É, realmente, um filme que bem dispõe.


Ah, e a actriz Nicole Grimaudo é tão bonita que mete inveja.

Estoril Film Festival - Copie Conforme




Este ano vive-se a quarta edição do Estoril Film Festival - e a primeira em que, finalmente, fui ao festival (muito embora já noutros anos houvesse bons motivos para passar por lá). São vários os filmes que despertaram o meu interesse, nesta edição, mas constrangimentos de disponibilidade (e vontade) fizeram com que este "Copie Conforme", o mais recente filme de Abbas Kiarostami, fosse o único a constar dos meus visionamentos (até ao momento mas, provavelmente, também até ao final do evento).
Abbas Kiarostami, realizador iraniano de renome, conta com uma vasta carreira cinematográfica, do cimo dos seus 70 anos de vida. Embora reconheça o seu valor, creio não conhecer muito da sua obra. Aliás, na minha cabeça paira ainda (e sempre, talvez) a confusão sobre ter ou não visto "1o", filme de 2002... Não consigo perceber se foi este o filme que vi, ou antes "O Círculo", filme do também iraniano Jafar Panahi... As temáticas não são muito diferentes, devo dizer, em abono da minha pessoa.
"Copie Conforme" é quase que uma Torre de Babel. Filmado em Itália, tem como protagonistas uma actriz francesa e um actor inglês. Os diálogos vão percorrendo as três línguas, sem grandes fronteiras. Ele, William Shimell, é um escritor autor de um livro sobre o valor e dignidade das cópias enquanto veículos da arte em si. Ela, Juliette Binoche, é dona de uma loja de antiguidades e uma mulher intrigante. A história, esse, vamos percebendo com o desenrolar do filme e, como tal, não convém aqui desvendá-la. Apenas posso dizer que é um filme sobre a natureza das relações a dois e suas expectativas. Muito bem filmado, muito bem interpretado, cenicamente muito bonito, e extremamente tocante. Muito bom, assim sendo. A sua edição em circuito comercial está para breve, pelo que soube, por isso estejam atentos.
Depois da exibição do filme, seguiu-se um sessão de perguntas e respostas com o realizador, que durou cerca de 1 hora e meia, e que foi muito interessante. Kiarostami é um artista de uma simplicidade que assombra.

Ondine




As sessões de cinema voltaram a ser mais frequentes, o que me deixa muito feliz. Na passada quarta-feira foi a vez do último filme do irlandês Neil Jordan, "Ondine" - filmado na Irlanda e com actores maioritariamente irlandeses. Uma maravilha para quem gosta tanto desse país verde, como eu.
Syracuse é pescador numa terra perdida nas verdes colinas do sul da Irlanda. Toda a população trata-o por "Circus", numa alegoria ao seu comportamento passado. Homem sem sorte, tem a luz dos seus dias na filha Annie, gravemente doente com uma insuficiência renal. Um dia, Syracuse apanha nas suas redes um bela rapariga, Ondine. E, a partir desse dia, a sua sorte muda - redes cheias de peixe, um novo alento. Como se de um conto de fadas se tratasse. Mas qual será a realidade?...
Ondine é um belo trabalho cinematográfico, tanto a nível fotográfico, como de história e interpretação. Colin Farrell está espantosamente bem na pele do pescador desalentado, olhar triste e incrivelmente magro. E Alison Barry, na pela da filha Annie, mais parece um anjinho, de tão doce.
Uma fábula moderna que vale a pena ver, que apenas peca pela quase "hiper" realidade que insiste em nos mostrar o que realmente está por trás da história. E os Sigur Rós tinham mesmo que estar presentes, num filme que elogia as criaturas do mar... :)

Arrependimentos




Belo título para um filme. E depois de ver o trailer, fiquei cheia de curiosidade de ver o filme. A história de um homem e uma mulher que se encontram 15 anos depois de terem vivido um grande amor parecia-me, no mínimo, interessante. Mas a realidade pode ser outra, completamente diferente...
O filme começa engraçado: as personagens principais, Mathieu e Maya, interpretadas por Yvan Attal e Valeria Bruni-Tedeschi, reencontram-se, em Nantes, o lugar de origem de ambos. Mathieu, arquitecto de algum sucesso, está ali devido à morte da sua mãe. Em breve, a mulher virá ter com ele. Mas isso não o impede de retomar com Maya a relação que tinha ficado pendente alguns anos antes. Começa, assim, uma vida dupla de mentiras e encontros fugazes. Ok. E então? Onde está o interesse da questão? Nitidamente, o que une Mathieu e Maya é a lembrança de algo que não se resolveu, uma vez que a sua separação aconteceu em circunstâncias que nenhum dos dois percebeu. Tudo o que se vê no ecrã é a ânsia de outros dias, nada os une nos dias que correm... Já para não falar na loucura que, entretanto, se instala.
Assim, o que podia ser um bom filme, não o é. Nem sequer é um bom objecto de entretenimento. É apenas uma perda de tempo. Salvo o facto de ser um filme francês (e ser sempre um prazer ouvir essa língua melodiosa) e de ter, lá pelo meio, o Sinnerman da Nina Simone. Valha-nos isso. Senão, seria apenas um arrependimento. Como tantos na vida.

Todos os Outros




Regresso às sessões de cinema, farta que estava de andar a pagar um cartão sem dele usufruir... Regresso, igualmente, ao King, onde já não ia há algum tempo. Muito agradável para uma sessão solitária num domingo à tarde. O filme, alemão, conta a história da relação de Chris e Gitti, um jovem casal de namorados de férias na casa dos pais dele, na Sardenha. A história é apenas essa, a relação deles, as suas cumplicidades, os seus problemas... De uma simplicidade extrema, portanto. E assim se consegue um retrato fiel do que é um casal, com todas as suas limitações. É, então, um daqueles filmes que não dá propriamente para descrever. Só mesmo vendo. E ver as lutas interiores das duas personagens fez-me relembrar uma coisa: nenhuma relação a dois é fácil. As pessoas não são perfeitas...


A propósito, e como dizem os Radiohead numa das suas muitas músicas brilhantes:


"If I could be who you wanted, all the time"...

Istambul debaixo de chuva

Vida das gentes da ciência tem destas coisas. Volta e meia há congressos, e alguns acontecem em sítios bonitos e interessantes. Foi o que aconteceu comigo este ano e que me possibilitou um regresso a Istambul, sete anos depois. Quatro dias de congresso, seis dias de férias. Dois continentes, uma cultura. E muita chuva.

Istambul foi tudo isto. Gente por todo o lado, trânsito caótico. Pessoas simpáticas e prestáveis, que não falam muito inglês. Bazares, muitas lojas. Souvenirs para todos os gostos.
Palácios deslumbrantes, uma herança cultural riquíssima, história respirada a cada esquina. Muezins que nos acordam de madrugada, relembrando-nos dessa forma de viver a religião, tão diferente da nossa...
Comida maravilhosa, kebabs às dezenas, e chá, muito chá, em todas as horas e ocasiões.
Deixo-vos com algumas imagens. Para aguçar o apetite.

Primeira ponte sobre o Bósforo - vista de passeio de barco

Aya Sophia

Mesquita Nova, por fora...

... e o pátio interior

Vista da parte antiga a partir da ponte Galata, no único dia de sol da estadia

Uma igreja cristã

No Grand Bazaar, a loucura do comércio

Fotografias por RB. E tantas que ficam por mostrar...

Richard Zimler - Meia-Noite ou o Princípio do Mundo




Prenda de aniversário que me suscitou alguma desconfiança, derivada do facto de nunca ter lido nada do autor, este "Meia-Noite ou o Princípio do Mundo", de Richard Zimler, foi uma agradável surpresa. O livro conta-nos a história de John Zarco Stewart, desde a sua infância até ao início da meia-idade, no início do século XIX. E que viagem será esta!
John é filho de uma judia portuguesa e de um escocês, e vive no Porto. Devido à perseguição religiosa ainda presente no país, John desconhece a sua herança cultural, mas não deixa de ser uma criança de uma sensibilidade extrema. E as suas experiências de infância vão marcá-lo e persegui-lo para o resto da vida. Nós, leitores, somos convidados a acompanhar esse percurso, a desvendar os mistérios que lentamente se vão desenrolando...
Toda esta meada está muito bem enredada, e a forma como a história evolui acontece no ritmo ideal para manter o leitor interessado e ávido de respostas. Assim, a leitura deste livro de mais de 500 páginas foi feita num ápice, e com muito prazer. Recomendo vivamente.

Eels ao vivo no Coliseu dos Recreios, ou a noite do Blues Rock




O regresso de Mr. E a palcos portugueses, passados 9 anos de ausência, ocorreu no passado dia 19 de Setembro, com um concerto único no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.
A noite estava calma, com pouca afluência de público aquando das 2 primeiras-partes a que o concerto teve direito. Só depois das 22h é que Mr. E e sua banda, todos barbudos e com óculos-de-sol, subiram ao palco, agora com mais público na audiência - primeiro mais calmamente, mas foi "sol de pouca dura". Ao fim da segunda ou terceira música, entraram na onda de blues rock electrizante que viria a caracterizar o concerto. Um concerto de pura energia, quase sem interrupções - o que facilitou a vida a pessoas como eu, que não conhecem assim tão bem a discografia do senhor. Do pouco que reconheci, Mr. E's beautiful blues teve direito a uma roupagem que quase a deixou irreconhecível, cantada ao som de La Bamba...
Mr. E, com o seu fato-de-macaco branco e lenço na cabeça (ao estilo ZZ Top!), esteve muito bem. Diferente do que estava à espera (um concerto mais intimista), mas muito bem. Antes assim. Pelo menos, não temos que nos preocupar com a sua depressão. Não enquanto houver esta catarse pelo rock. Para já, está a salvo.

Solércia




Há coisa de pouco mais de uma semana, fui, por sugestão da família, ver este espectáculo de nome Solércia. Representado pela companhia teatral TapaFuros, tem como espaço cénico a Quinta da Regaleira, em Sintra, onde diferentes obras de Gil Vicente vão sendo abordadas em diferentes espaços da Quinta.

O espectador segue os actores, por entre jogos de luz e sombra. Confesso que, ao início, havia naquele ambiente algo que me assustou: a capela recortada, habitada por seres mascarados, quase que me transportou no tempo...

Apesar da estranheza inicial, é uma experiência que vale muito a pena. A Quinta da Regaleira é um espaço lindo, perdido entre contos de fadas e rituais de iniciação. Tudo é simbolismo, lembrando, talvez, um significado maior para a vida. É, assim, uma forma priveligiada de visitar a quinta, ainda mais mágica, guiada por esses seres de outros tempos...

O espectáculo estará em cena até dia 10 de Outubro, de quinta a sábado às 22h, e aos domingos às 21h. Na Quinta da Regaleira, um serão bem passado.

O norte de França numa viagem de carro

O início do mês trouxe consigo uma viagem por terras alheias, há muito ansiada. Os detalhes serão pouco, ficam apenas as imagens, testemunho da beleza do mundo.


Bordéus, junto ao rio


Mont St. Michel (como que um conto de fadas)


Omaha Beach, uma das praias normandas do dia D


Jardim do pintor Claude Monet, em Giverny


Dune du Pylat, a maior duna da Europa
Fotos por R. B. e R. G.

Mia Couto - Na berma de nenhuma estrada




Já lá vai algum tempo desde que li esta compilação de contos de Mia Couto, intitulada "Na berma de nenhuma estrada". Como já podem ter dado conta, Mia Couto é um escritor que muito aprecio, tanto ao nível da prosa, como ao nível da poesia. Talvez por isso mesmo este livro me tenha deixado desiludida. Habituada à riqueza de expressão do autor moçambicano, achei este livro pobre, principalmente no que se refere à construção das (pequenas) histórias. Ficámos sempre à superfície, sem vontade de mergulhar. Talvez porque não haja profundidade suficiente...

Ainda assim, não é por isso que deixarei de seguir a obra deste autor, o qual claramente merece a minha atenção. Mesmo que, de vez em quando, apareça uma obra menor.

O Escritor Fantasma




Depois de "A Origem" (um óptimo filme) veio este "O Escritor Fantasma", o mais recente filme de Roman Polanski.
Ewan McGregor interpreta o papel principal do escritor que é contratado para rescrever as memórias do antigo primeiro-ministro britânico, Adam Lang. Contrato esse que surge depois de a pessoa que estava inicialmente encarregada dar à costa sem vida. Esta tarefa, aparentemente "inofensiva", parece, afinal, acarretar sérios riscos - há todo um enorme mistério em volta da vida de Lang e do início do seu percurso político...
As premissas são, então, boas para o filme de suspense que se apresenta. Mas a pena é que o filme promete mais do que aquilo que realmente dá. Em termos de história, está claro, porque achei que as interpretações foram bastante boas, com um Ewan McGregor de volta à boa forma (em todos os aspectos...). De resto, não consegui sentir um verdadeiro crescendo do mistério, a culminar no final, o qual, ainda para mais, não achei particularmente interessante!
Mas pronto, não posso dizer que não seja um filme interessante. Um bom passa-tempo, com certeza. Mas não muito mais do que isso.

A Origem




Regresso aos filmes. E que grande regresso, por sinal. Quis o destino que este "A Origem" (Inception, no original), o mais recente filme de Christopher Nolan, estreasse em pleno Verão, altura pouco propícia a cinema de qualidade. Nolan, esse, que eu muito aprecio e que realizou, há uns anos atrás, o filme que dá nome a este blog. Entre outros filmes (que eu vi quase todos...). Pronto, já deu para perceber que sou, digamos, uma fã.
A história talvez já conheçam: numa realidade em que é possível entrar na mente das pessoas através dos sonhos, há uma pessoa, Cobb (interpretado por Leonardo Dicaprio), cujo talento é ímpar em tal tarefa. Afastado dos E.U.A. por um crime misterioso, é-lhe dada a oportunidade de se redimir através de um pedido único: gerar uma memória na mente de alguém.
E por estes caminhos, de realidade em realidade, somos levados, pelo mundo dos sonhos. É engraçado como certas cenas parecem tão familiares, sugerindo sentimentos que normalmente nos são trazidos pelos sonhos.
O filme é muito bom e vale uma (ou mais) ida ao cinema, por isso não vou tecer mais comentários à trama. Apenas digo que foi dos melhores filmes que vi nos últimos tempos, daqueles que nos faz sair do cinema com a adrenalina em alta. Acho que ainda o vou ver outra vez.

A minha rica terrinha

Porque o tempo foi de férias em Cinfães, coisa que já não acontecia há muito, muito tempo, quero partilhar aqui alguns dos momentos vividos por lá. Se bem que nem todos tenham sido, propriamente, em Cinfães!


O jardim Serpa Pinto, florido

As minhas Aveleiras, onde houve uns mergulhos bem bons

No caminho para as Aveleiras - Açoreira


Os anos da Marta

Chaves

Gato trasmontano

Em Chaves (se alguém precisar...)

Pedras Salgadas


Um coração a bater de amor - no casamento do ano :)
Fotografias por Rita Barbosa

Um homem na escuridão - Paul Auster





As minhas leituras não têm andado particularmente prolíferas. Muita preguiça é no que dá. Mas este "Homem na Escuridão", de Paul Auster, conseguiu retirar-me momentaneamente desse marasmo e, durante uma semana, andei entretida com a sua leitura.
O livro é bem ao jeito de Auster (como algumas pessoas dizem, todos os seus livros são vagamente semelhantes...) - um narrador que facilmente se identifica com o escritor, e que conta uma história dentro da história.
August Brill é um homem nos seus 70, 80 anos, que vive com a filha e a neta. Crítico literário, vive atormentado com o seu passado, se bem que lá não está nenhum segredo oculto. Há apenas as memórias e as ausências do presente. E para não pensar nelas, August conta-se histórias, inventa enredos e personagens. Que ganham vida na sua imaginação. Assim passa as noites de insónia, que teimam em persegui-lo. E que perseguem também a sua neta, essa sim atormentada por acontecimentos recentes.
Estão lá, assim, todos os ingredientes típicos de Auster. Os enredos familiares (mais ou menos desfeitos), a procura da catarse por auto-inflingido sofrimento, as histórias em espiral sem que se perceba muito bem onde está a realidade...
Gostei do livro, que é bom de se ler. E também gostei de ter ultrapassado a minha apatia, mesmo que tenha sido por apenas uma semana. Pode ser que lhe ganhe o gosto.

São Miguel - Açores

Estou de regresso ao continente, depois de uma bela semana de férias nos Açores, mais precisamente em São Miguel. Foi a minha primeira incursão às nossas ilhas, e devo dizer que gostei muito. Estou apaixonada pelos campos verdes e pelo mar azul - tudo uma imensidão.

Fica a vontade de conhecer mais e mais. Toda a beleza do mundo. :)

Aqui estão algumas amostras das belas paisagens que vi por lá.

Lagoa das Sete Cidades

Vila Franca do Campo


As belas e omnipresentes hidrângeas


Portas da cidade, Ponta Delgada



Plantações de chá da Gorreana


Lagoa do Fogo


Vista do miradouro de Santa Íria



Fotografias por Rita Barbosa

Partir



Regresso ao cinema, para ver este "Partir", que estava na calha basicamente desde a sua estreia. A história não é muito complicada. Suzanne e Samuel são um casal, ela inglesa, ele francês. Vivem em Nîmes, no sul de França (saudades...), têm dois filhos adolescentes. Ele é médico, ela é fisioterapeuta, mas deixou a profissão com o casamento. Banal, portanto. Suzanne decide retomar a sua actividade e, para tal, fazem obras num anexo da casa, que irá dar lugar ao consultório. Ivan, catalão, é o trolha encarregue da obra. E tudo desmorona quando Suzanne e Ivan se apaixonam. Ainda assim, a história continua sem grande novidade.
Então, o que tem de interessante este filme? (na minha opinião pessoal, está bom de ver...)
Primeiro, a paixão entre Suzanne e Ivan é uma coisa física. Ardente e incontrolável, é certo, mas parece não passar do primeiro patamar. Não obstante, juntos, mas principalmente ela, irão enfrentar tudo, desde as recriminações sociais até às dificuldades económicas.
Este tipo de relação coloca-me sérias reservas. Assim, é um filme para reflectir. Até sobre o que se quer da vida. Sobre a forma como nos relacionamos com os outros. Sobre o que significa VIVER.

Às tantas, ainda acho que era assim que o filme se deveria chamar...




Duas pequenas notas:

1 - é engraçado ver os dois protagonistas a falar francês, quando nenhum dos dois o é.

2 - há um pequeno diálogo, completamente secundário, em que é possível ouvir o sotaque do sul de França - lindo!