Paul Bowles - The Spider's House



Já não é a primeira vez que falo sobre Paul Bowles neste blog. Por esta altura, já devem ter percebido que é um autor que gosto muito, muito. Já vou tendo é poucos livros dele para ler...
A acção deste "The Spider's House" passa-se (como não poderia deixar de ser) em Marrocos, mais particularmente em Fez, durante a década de 1950. Um escritor americano, John Stenham, vive há já alguns anos no país, apaixonado pela cultura marroquina. No entanto, grandes mudanças adivinham-se. Uma revolta nacionalista contra a ocupação francesa põe em causa tanto a permanência de estrangeiros no país como, mais importante, a própria identidade cultural do país. É no meio destes tumultos que o caminho de Stenham se cruza com o de Amar, um jovem marroquino que também se sente à margem dos acontecimentos...
Este livro é um retrato da rotina e cultura marroquinas, ao mesmo tempo que nos narra um período bastante conturbado da história desse país. Assim, é interessante pela temática e pelo tipo de escrita, mas também porque nos ensina algo. Sem ser marroquino, e nem sequer árabe, Bowles consegue retratar vividamente tudo isto.
Já disse que gosto muito dele?...

Não há família pior



Aqui está um filme que não precisa de grandes apresentações. Terceiro filme da saga "Meet the...", é uma comédia tipicamente hollywoodesca, com um elenco de luxo (DeNiro, Ben Stiller, Dustin Hoffman, entre outros). O tema, esse, é recorrente: famílias controladoras, genros-sogros que se odeiam, peripécias altamente improváveis que se repetem.
Posto isto, não há muito a esperar de um filme assim, para além de umas boas duas horas de descontracção e boa disposição. E foi exactamente isso que tivemos. E foi assim que uma perturbada tarde de terça-feira de repente se transformou num belo domingo... Ou, pelo menos, foi assim que me senti, quando saí do cinema!
É, então, um bom filme para entreter numa tarde aborrecida, principalmente se forem em boa companhia (tal como eu fui). E ainda mais se depois aproveitarem para comer um crepezinho salgado. Bem bom.

O Concerto



Meus amigos, agora sim posso dizer que tenho andado arredia. Não me apetece escrever e não tenho feito um esforço. Mas tem que ser, senão as histórias vão acumulando-se e quanto mais tarde, pior.
Há já algum tempo, escolhi este "O Concerto" como programa de domingo à tarde. Nada o género, no entanto. Filme francês de Radu Mihaileanu, maioritariamente falado em russo, conta a história de Alexei Filipov, famosíssimo antigo maestro da orquestra Bolshoi que, graças ao regime, é nos presentes dias empregado de limpeza no mesmo local onde antes dirigia a orquestra... Um dia, intercepta um fax vindo do Teatro Châtelet, em Paris, convidando a Bolshoi a ali efectuar um concerto. E decide reunir os seus antigos músicos, fazendo-se passar pela orquestra actual, para retomar aquilo que lhe foi retirado, 30 anos antes.
"O Concerto" é, como seria de esperar, um filme que respira música. Culmina numa interpretação do Concerto para Violino de Tchaikovsky, cheia de emoção. E, por entre peripécias engraçadas, mostra-nos como há paixões maiores do que uma vida. E como a vida faz mais sentido com elas.
E, já agora, relembrou-me os anos em que aprendi música e toquei piano. Saudades...

I'm still here




Depois de quase dois anos de interregno, o regresso de Joaquin Phoenix, neste filme/documentário sobre uma celebridade de Hollywood que decide retirar-se da carreira de actor e tentar a sua sorte no rap... Há dois anos, foi isso que Joaquin anunciou e, desde logo, a dúvida instalou-se: seria verdade ou apenas um projecto cinematográfico? Passado este tempo, provou-se que era a segunda hipótese a verdadeira. Realizado por Casey Affleck, cunhado de Phoenix, este projecto é uma inovadora forma de fazer cinema. Phoenix encarna a personagem JP, uma espécie de bad boy que vai chocando tudo e todos com as suas opções de vida, a forma como trata os seus colaboradores e a sua vida sem nexo - sexo, drogas e rap, há de tudo um pouco.
Qual a minha opinião sobre isso?...
Bem, é um exercício de cinema interessante, sem dúvida. Phoenix está muito bom na sua performance ou o que se queira chamar. Mas só espero que seja tudo um esquema, realmente. Porque, senão, que vida deprimente a dele. Assustador, mesmo. Que assim não seja.

O mito do jazz na sala demasiado grande




Ando a demorar muito tempo para escrever neste blog. Cansaço, falta de vontade... Um pouco dos dois. Mas cá estou eu a contrariar a tendência!!!
Na passada terça-feira (não ontem, mas na passada semana) fui ver o concerto de Herbie Hancock no Campo Pequeno. Hancock é um marco incontornável da música moderna, por isso há já algum tempo que ansiava vê-lo ao vivo. Lembro-me, em particular, de um concerto que deu, há uns anos, na Casa da Música, em que os bilhetes tinham o preço único de 60€... razão pela qual não fui. Desta vez, os bilhetes não estavam muito mais baratos, mas uma vez que o senhor já está com 70 anos, achei por bem abrir os cordões à bolsa e lá fui eu.
Primeira observação: o Campo Pequeno não é, nem de longe nem de perto, uma sala adequada para um concerto de jazz. Muito ampla, muito "fria", muito distante... Teria sido mais adequado fazer o concerto na Culturgest, ou mesmo na Aula Magna - não sei se cabia lá toda a gente, mas seria com certeza melhor. Não obstante, o concerto começou bem, apenas com parte instrumental, Mr. Hancock a dominar nas teclas. Depois veio a menina que cantava.
Segunda observação: a menina não cantava muito bem. Quer dizer, ela cantar bem, cantava. Mas tinha um timbre de voz que em nada se adequava ao registo. Muito agudo, muito límpido, sem "corpo". Não sei se me faço entender... É difícil de explicar. Mas, pronto, não gostei muito. Tocaram/cantaram algumas músicas no novo projecto, "The Imagine Project", em que colabora com músicos de todo o mundo para expressar uma mensagem comum, de paz. O próprio "Imagine", de John Lennon, foi cantado em palco, assim como "Don't give up", de Peter Gabriel, e "The times, they are a' changin'", de Bob Dylan.
Terceira observação: faltou, nitidamente, um saxofone ao conjunto musical. Um som jazz não é a mesma coisa sem um saxofone...
Bem, apesar destas críticas todas, gostei do concerto!!! Foi uma honra ouvir Mr. Hancock tocar durante quase 2 horas, sempre sem perder o fôlego, e com uma energia contagiante. E é o tipo de concerto que me faz "bem", porque me permite pôr muitas ideias no lugar. Ou tirá-las, dependendo do ponto de vista.

Uma semana do outro lado do mundo

16.000Km é muito quilómetro. O necessário para me levar até São Paulo e me trazer de volta. Uma semana do outro lado do mundo - um outro continente, hemisfério sul, quase Verão. Uma experiência nova, num país que nunca me seduziu particularmente... Mas que me despertou o interesse depois destes dias. Um país de contrastes, uma cidade cosmopolita e vibrante. Bons restaurantes, lojas de cair para o lado, e um nível de vida que surpreendeu por ser bastante mais alto do que estava à espera.

Nada mau.


O amigo Sérgio e os seus rascunhos





Já passou mais de uma semana desde que pude assistir, pela primeira vez, a um concerto de Sérgio Godinho. A espera ia longa, e a vontade mais do que muita. Altas expectativas, portanto.
O concerto, apelidado de "Final de Rascunho", propôs ao público estar um bocadinho presente no processo criativo da escrita de canções. Sérgio veio "treinar" as canções para o novo álbum, a sair em 2011 (espero eu). Veio também cantar canções mais velhinhas, mas com novas roupas. Porque cada canção renasce em cada interpretação. E nós renascemos em cada canção.

O alinhamento já estava mais ou menos definido. Começou com as músicas novas. Novas, mas algumas não inéditas. Novas versões de projectos antigos, novos arranjos musicais, alguns feitos por amigos (como Bernardo Sassetti ou António Serginho, ambos presentes no concerto e que actuaram ao lado de Sérgio e da sua banda, "Os Assessores"). Depois começaram a vir as músicas mais antigas (para delírio do público) e a magia completou-se. Recordo em particular o momento em que cantou "Espalhem a notícia" - senti os olhos a humedecerem-se de emoção. Percebi, como que num momento de clarividência, que Sérgio Godinho é um dos meus cantores favoritos. A simplicidade das músicas, aliada a letras que são verdadeiros poemas, enche-me o coração. É difícil de descrever melhor do que isto...


Agradeço à "minha" Mena, que me acompanhou neste programinha de sábado à noite. Foi muito bom, obrigada. :)