A primeira visita


O final do mês de Outubro trouxe consigo a minha primeira visita por terras de Sua Majestade. A prima Catarina veio festejar o fim de uma etapa muito importante (parabéns!!!) e aproveitar para descansar um pouco - e arejar, claro está!
O tempo foi curto, já se sabe que um fim de semana para pouco dá. Mas passeamos pelos parques e pelo canal, vimos a guarda real, aprendemos sobre os costumes ingleses em forma de exposição de fotografia, comemos bem e bebemos... muito chá! O tempo deu um ar de sua graça e tanto houve chuva como muito sol - para as fotografias, está tudo controlado. Foi um fim de semana bem aproveitado e que soube muito bem, especialmente pela companhia. Foi muito bom ter família por cá, para poder mostrar parte daquele que é agora o meu canto do mundo. Ficou muito para ver. Claro. Mas esse é o truque que uso para "obrigar" as pessoas a voltar. Agora é esperar para ver se faz efeito.

Tindersticks @ Barbican


Porto, Lisboa, Londres. Depois de 2003 e 2009, chegou a vez de ver os Tindersticks pela terceira vez, quase exactamente 10 anos depois da primeira. Nada é por acaso, poderia dizer. Todos os concertos tiveram circunstâncias muito diferentes, companhias diferentes, idades e maturidades muito diferentes também. Mas há algo na minha relação com esta banda inglesa que se mantém intemporal. Creio que é a capacidade que eles têm de me transmitir emoções (vulgo, emocionar). Como se a voz de Stuart Staples fosse capaz de activar qualquer coisa dentro de mim, algo maior do que o tempo ou as experiências de vida. Talvez por isso tenha sentimentos contraditórios em vê-los ao vivo, porque por vezes é mais fácil fugir ao que se passa cá dentro...
O concerto do passado dia 25 não foi excepção. Houve lágrima no canto do olho e queixo a tremer (engolindo em seco para ninguém notar). Porque as emoções são difíceis ou simplesmente porque é difícil sentir. É uma escolha que tem que se fazer por vezes, esta de enfrentar o passado, as memórias e até nós mesmos. Porque fazem parte de nós.
E assim, apesar do tumulto, é bom perceber como há coisas que não mudam. Como a ressonância dessa voz, Mr. Staples.

E porque devo um comentário à minha colega de casa (que me acompanhou nesta "aventura"), aqui vai uma pequena apreciação em inglês.

10 years after that first time in Porto, back in October 2003, I came to see Tindersticks for the third time. Now in London - different country, different company, a different "me" perhaps. All true, but somethings never really change. And inside me, it is always that same turmoil when I listen to that deep voice that seems to go directly into my brain (and never wanting to leave). And even though the setting was completely different, the feeling was exactly the same when I got to Barbican and listened to those songs that are part of my past, my memories of something that once was. I do not really know if I should be happy or sad about it, but I guess sometimes you do need to step from the numbness and face the world. And this was one of those moments.

Je dis: M

A grande maioria de vocês nunca terá, provavelmente, ouvido falar do cantor francês Matthieu Chedid - mais conhecido pelo seu alter ego -M-. Alguns já terão ouvido músicas dele, mas dificilmente o sabem. Eu sou uma "sortuda" porque há uns bons dez anos atrás conheci este senhor através da prima Carol (nessa altura a viver em Paris) e foi uma espécie de amor-à-primeira-ouvida (e sim, fui pesquisar e esta palavra existe no dicionário!).
Claro que oportunidades para ver este senhor ao vivo não houve muitas - com a excepção de um concerto em Montpellier enquanto lá morava, mas ao qual não consegui ir. Por isso, qual não foi o meu espanto ao descobrir que -M- faria um concerto aqui em Londres! Primeiro ainda estive um pouco indecisa, mas depois lá me decidi a comprar bilhete. Que se lixe a falta de companhia! Esta provou ser uma decisão acertada - o concerto foi muito divertido, ele é realmente um homem do espectáculo. Esteve em palco durante duas horas e só não ficou mais tempo porque não o deixaram (ou, pelo menos, foi isso que disse). Sempre cheio de energia, dentro da personagem (qual espécie de super-homem) que criou aparentemente para superar a sua timidez.
Foi engraçado perceber que era das únicas pessoas não-francesas dentro daquela sala de espectáculos. Tal como foi bom voltar a ouvir essa língua que me é tão querida. E ter a confirmação de que a música é verdadeiramente um veículo poderoso de emoções - há já algum tempo que não me sentia tão bem-disposta.

Filth

A primeira incursão às salas de cinema londrinas levou-me até à adaptação cinematográfica de uma outra obra literária de Irvine Welsh, 17 anos depois de Trainspotting. Falo, portanto, de Filth. Tenho que admitir que não fiz imediatamente a ligação entre os dois filmes... mas as parecenças são, sem dúvida, muitas. Desta vez, temos James McAvoy no papel principal - Bruce Robertson, detective de polícia em Edimburgo. O seu principal objectivo? Ser  promovido a inspector. E é neste momento que começamos a seguir os seus passos, o seu dia-a-dia algo alucinado (o início do filme lembra realmente Trainspotting no seu ritmo). Aos poucos, vamos percebendo que algo não está bem, não bate certo... A forma como se relaciona com colegas e demais pessoas à sua volta indicia uma falta de valores abismal. Mas prognósticos só no final do jogo. Ou do filme, neste caso. Da minha parte, posso dizer que é preciso ter estômago, não é um filme fácil de se ver. É controverso e chocante. Claro que, tendo visto o filme sem legendas (diz que se fala inglês aqui nesta terra e, por isso, não é preciso) e dado o cerradíssimo sotaque escocês do Sr. McAvoy e demais actores, houve partes que nada percebi do que eles diziam! Preciso habituar o ouvido. Mas gostei. Às vezes é bom ver um filme que mexe connosco, que nos põe a pensar e nos incomoda. Até porque a vida é mesmo assim. Dura.

A vida num turbilhão

O último mês foi confuso. Fui a Portugal passar duas semanas de férias, que consigo trouxeram uma epifania difícil de aceitar. Mudar de país, por muito glamouroso que pareça à distância, tem consequências nas nossas relações que é preciso enfrentar. Ao estar longe da vista, fica-se também, invariavelmente, um pouco longe do coração. Perde-se um certo fio condutor que só existe quando conseguimos, melhor ou pior, ir acompanhando de perto a vida uns dos outros. É-me difícil aceitar, embora saiba e perceba que é uma verdade incontornável. Claro que os amigos continuam amigos, pelo menos alguns. Mas as amizades tornam-se diferentes. Crescem ou implodem. Esta é, portanto, uma altura complicada para mim - muitas mudanças, pouco apoio, mas com a certeza/esperança que será passageiro.

Há precisamente uma semana atrás, recebi uma notícia difícil de digerir - a morte do meu Alberto, gato que acompanhou a minha vida nos últimos sete anos. Quem não "aprecia" animais, o melhor é parár de ler neste momento. Foi uma perda muito grande para mim, agravada pelo facto de estar longe e não ter acompanhado os seus últimos momentos. É-me penoso imaginar que, na próxima vez que for a Portugal, ele não estará lá para me receber... A vida é feita de perdas, é verdade, mas esta veio numa altura difícil.
Não penso muito naquilo que aqui escrevo neste momento. Apenas quero de alguma forma explicar porque não tenho andado com a melhor das cabeças para actualizar este espaço. 

No entanto, tenho também que dizer que o último mês trouxe um acontecimento muito feliz, com o nascimento do mais recente membro da família. Finalmente um rapaz, para fazer as delícias da mãe, da tia e da avó! Felicidade extrema por tudo ter corrido bem, apesar da pequena angústia em saber que, desta vez, não serei uma tia presente... Por vezes pergunto-me que raio de caminho é este que percorro, mesmo que ciente de que é preciso seguir o meu rumo. Todos precisamos ter as nossas vidas individualizadas, ainda que isso nos faça sentir sós. Mas, na verdade, não estamos. Pois não?...