Regresso ao tricot



Depois de uma prolongadíssima pausa, consegui arranjar vontade e engenho para voltar aos trabalhos manuais, mais particularmente ao tricot. E assim, por altura do Natal, concluí duas golas (que vêem nas fotografias), que foram aquecer o pescoço de duas pessoas muito especiais... A primeira gola (a castanha) demorou praticamente 2 anos a terminar. Sim, é verdade. Passeou de Lisboa para Berlim, e de Berlim veio para Londres, intocada. E já em Londres esteve praticamente parada durante um ano, até que este Inverno voltou a vontade de produzir algo, ser capaz de fazer algo com as minhas mãos. E finalmente a dita gola viu o dia em que foi terminada. Já a segunda gola (a mais colorida) foi feita num ápice, quase em contra-relógio, para poder ser oferecida a tempo e horas. Também ajudou o facto de ser um ponto mais simples, em que não é preciso estar tão atenta. Isso e as infindáveis viagens de avião atrasadas!

Para já, tenho estes dois projectos acabados, o que me deixa muito feliz. Mas tenho outros projectos entre mãos, para os quais trouxe muita lã de Portugal. Vamos a ver como correm. Manter-vos-ei informados por cá. :)

Chimamanda Ngozi Adichie - Americanah

Depois de Mia Couto veio Chimamanda Ngozi Adichie, autora nigeriana de quem li anteriormente Half Of a Yellow Sun. Livro que adorei, por sinal. Este Americanah, o seu mais recente livro, é um bocado diferente. Mantêm-se, algo naturalmente, as raízes nigerianas bem no centro da história, mas neste caso estamos num período de tempo mais recente. Ifemelu é uma jovem nigeriana que se vê obrigada a emigrar para os Estados Unidos de modo a poder continuar a sua educação universitária. Na Nigéria deixa Obinze, seu grande amor de juventude. A vida nos Estados Unidos será, no entanto, bem longe do ansiado sonho da terra das oportunidades - e é esse evoluir da história que nós, leitores, vamos seguindo. Seguimos Ifemelu e Obinze, paralelamente. Andamos um pouco para trás e para a frente. Com a certeza que haverá um reencontro, mas sem perceber em que circunstâncias.
Assim resumindo, é capaz de parecer um romancezinho inconsequente. Mas não é. Do meu ponto de vista (de emigrante, obviamente), a história é precisamente sobre o desfasamento de realidades quando se vai viver para um país que não é o nosso. O que se aprende, o que se perde. As dificuldades, como se processa o dia-a-dia, como a pouco e pouco, eventualmente, nos vamos adaptando (habituando?) à nova realidade. Tudo isso tem custos, deixa marcas. Talvez por isso tenha gostado muito do livro, o qual li avidamente. Devido ao sentimento de pertença nessas questões. Países diferentes, culturas diferentes, contextos diferentes. Mas, no fundo, há questões completamente transversais nesta coisa de emigrar. Sempre com a esperança de uma vida melhor (o que quer que isso queira dizer).

Mia Couto - O outro pé da sereia

Para não variar, lá estou eu atrasadíssima na escrita deste blogue... ainda não é desta que os dias se tornaram melhores. Mas aqui vamos, desta vez para falar do último livro que li. Já lá vão umas semanas, mas a verdade é que ainda não comecei a ler mais nada. Também essa parte não está famosa.
Este livro do Mia Couto, um dos meus autores favoritos, é um pouco diferente daquilo que dele li anteriormente. A acção tem dois tempos diferentes: um mais no presente (2000 e picos) e outro por alturas pós-Descobrimentos. No entanto, os dois tempos da acção estão intimamente ligados, pelo que por vezes se perde um bocado a sua noção. 

E pronto, já lá vão (mais) umas semanas desde que comecei a escrever este post, sem que o tivesse terminado. Entretanto já li mais um livro, e tenho que confessar que a memória deste ficou um pouco para trás. O que posso dizer é que gosto muito do Mia Couto, mas este não é o meu livro favorito dele. Nem de longe, nem de perto. O livro é interessante e está bem escrito, mas não me passa a emoção a que estou acostumada com os livros dele. Falta-lhe uma certa profundidade, por assim dizer.
E assim, desta forma um pouco abrupta, fica a minha crítica ao livro. Sei que não é bem o que costumo fazer, mas é preciso seguir em frente.

Regresso ao passado (ou como teria sido bom ver dEUS há uns 10 anos atrás)


Aproveito a manhã de domingo, silenciosa, para pôr alguma ordem na casa. E com "casa" quero dizer este blogue, cujas publicações têm andado ligeiramente erráticas. A ver se isso muda (resolução de ano novo?...)
Há coisa de um mês atrás, em meados de Dezembro, vi pela primeira vez ao vivo uma banda que povoou o meu universo musical de jovem adulta: os belgas dEUS. Tive oportunidade de, no passado, ter visto um showcase deles, bem como um concerto de Tom Barman a solo, mas a banda completa num concerto a sério nunca tinha acontecido. Assim, quando vi que eles tocariam no dito-mítico Scala, a uns escassos metros de minha casa, achei que tinha que aproveitar a oportunidade. E assim aconteceu que, numa noite de Dezembro, voltei uns 10, 15 anos atrás no tempo para ouvir músicas como Serpentine, Suds & Soda, ou Little Arithmetics...
O concerto não foi mau em termos de alinhamento. Tocaram as mais conhecidas dos álbuns mais recentes e deram um grande ênfase ao emblemático In a bar, under the sea, de 1996. O problema é que os rapazes, nos seus 40 e qualquer coisa anos, estão apagados. Acredito que, no passado, houve ali energia, mas neste momento parece que estão a fazer um frete, ansiosos para que o concerto acabe e eles possam ir para casa. Foi triste sentir isso, porque me deixa com a sensação (correcta, de qualquer forma) que houve um tempo (para eles? para mim?) que já passou e que não dá para voltar atrás. Nostalgias de uma juventude... ou como é melhor fazer as coisas na altura certa (como ver dEUS quando eles eram uns gajos porreiros; ou, simplesmente, mais novos).

Pequenos nadas


Estas transições de ano civil são dadas a uma certa introspecção, aliadas a um exercício de resumo do que se passou no ano que entretanto terminou. Eu não sou excepção, até porque acredito que há benefícios nesse género de exercícios.
2014 foi um ano de pequenos nadas. Quase um oposto de 2013, ano recheado de emoções, boas e más. 2014 não teve (felizmente, por um lado) essa montanha-russa emocional. Foi o ano da continuidade - criaram-se hábitos nessa que é a minha condição de emigrante, consolidou-se o sentimento de não-pertença. Sem dramatismos. Acho que é condição sine qua non de viver num país que não é o nosso por nascimento ou educação. Aliás, essa é uma das pequenas conquistas de 2014 - ter encontrado, de alguma forma, a paz de perceber que é assim mesmo. O sentimento de desfasamento faz parte e não há que fazer disso um problema. 
2014 foi um bom contra-ponto a 2013, mas ficou a sede de mais. Mais conquistas, mais viagens, mais concertos. Mais. E, talvez até, mais pessoas. Será que me vejo escrever mais socialização?... Terei descoberto o meu "animal-social" depois de todo este tempo?... Desconfio. Mas começo este novo ano (transições arbitrárias, bem sei, mas todos gostamos de limites/limitações imaginárias - não?) com uma energia boa. Aquela energia de querer fazer muito, mas aos pouquinhos. Identificando, primeiro, o que são essas coisas que gosto de e quero fazer. E dedicando-me também a elas. Porque somos mais nós quando fazemos aquilo de que gostamos. 

Por isso, venha 2015. Peito aberto. Sem reservas.


E sim, há vários posts em atraso, pertencentes a 2014. Mas esses ficarão para a próxima.