A aventura no Cáucaso (dia 7, ou o regresso à "civilização")

Como estamos alojados num AirBnB, não há direito a pequenos-almoços com omoletes e bolo, como tínhamos nas montanhas. Por isso, tivemos que fazer uma breve pesquisa de sítios onde tomar pequeno-almoço. Encontrámos um sítio perto, no coração da cidade velha, com um estilo bastante ocidental (e café Illy!). Aí enchemos a barriguinha para irmos explorar a cidade.

Decidimos seguir um itinerário algo aleatório, mas que basicamente nos leva em direcção a norte, ao longo do rio. Um passeio que se revelou muito compensatório, porque nos permitiu ter uma visão muito abrangente da cidade. Passámos por ruas pitorescas repletas de restaurantes, bem ao estilo do sul da Europa, igrejas, e até encontrámos a velha torre do relógio, suportada por uma viga de metal, tal é a inclinação! Também atravessámos a Ponte da Paz, pedonal, até ao outro lado do rio, onde temos o parque Rike, com o seu futurista Centro de Exposições e Auditório. Que, curiosamente, não parece estar a funcionar...
Regressámos à outra margem e continuámos caminho, absorvendo o recente e o antigo numa cidade de contrastes. Junto a rio encontrámos um café adorável, de seu nome Book Lovers - adequado à posição que ocupa, junto a bancas de alfarrabistas. Uma pausa para uma bebida refrescante com vista para o rio, que veio mesmo a calhar - faz calor!

Mesmo ali, à distância de um lanço de escadas, está o mercado da Dry Bridge (Ponte Seca), onde encontrámos uma panóplia de objectos, principalmente antigos (dos tempos da USSR), que exploramos brevemente. O J. anda à procura de relógios e quer dar uma vista de olhos.

Dali seguimos um bocadinho mais para norte, em direcção à galeria da arte Photographia - como o nome indica, a fotografia ali é rainha. É um espaço pequeno e interessante, com algumas belas fotografias para venda. Há uma que me chama a atenção, tirada em Tusheti (uma outra região montanhosa da Geórgia), de um fotógrafo chamado Maurice Wolf. Às vezes acho que devia investir nestas coisas... mas ainda não tive coragem para me permitir gastar dinheiro nessas coisas!
Somos barrados à saída porque aparentemente anda um cão zangado no átrio do edifício! Ali passamos uns cómicos 5 minutos à espera que nos deixem seguir caminho.

Agora numa zona bastante diferente da cidade, encontrámos a livraria Prosperous Books, fundada por um senhor que escreveu o guia de caminhada na Geórgia que trazemos connosco. É a maior loja em Tbilisi para encontrar livros em inglês (e outras línguas) e tem também um simpático café. Passámos os olhos pelas prateleiras, ansiosos por descobrirmos preciosidades locais... mas tal não aconteceu e saímos um pouco desiludidos.

Com o dia a avançar e nós sem termos almoçado, resolvemos andar mais um pouco, novamente até à outra margem do rio, para fazermos uma visita a um dos melhores restaurantes de Tbilisi, segundo pudemos apurar. Chama-se Barbarestan e tem um ambiente calmo e antiquado (de forma positiva). Na Geórgia não há restaurantes com estrelas Michelin, mas este seria um bom candidato. O menu é distintivamente diferente (perdoem-me o pleonasmo), misturando ingredientes tipicamente georgianos com uma abordagem singular. Baseia-se num famoso livro de receitas elaborado por Barbare Jorjadze, declaradamente feminista, na segunda metade do século XIX. Barbare é uma personagem muito acarinhada no país, e a ela é dedicado o nome do restaurante.

Começamos com uns croquetes de lagostim e uma sopa do mesmo, como entradas para partilhar. A apresentação e serviço são impecáveis. Para prato principal, pedimos um salmão cozinhado em papelote numa cama de vegetais, servido com molho de mel e romã; e um rolo de coelho com coração de espinafres, acompanhado com pequenos marmelos confitados e queijo-creme. Pode parecer uma combinação estranha, mas estava tudo maravilhoso! Para terminar, pedimos duas sobremesas, com toques tradicionais, mas de abordagem diferente: a minha, uma sinfonia de sabores, incluindo um semicrocante de nozes, dois tipos de creme de uva (algo tipo mosto), morangos, notas de chocolate branco e pequenos discos gelatinosos de algo que agora não me lembro. Uma explosão de sabores!

De barrigas cheias e almas consoladas, voltámos ao nosso alojamento atravessando a cidade a pé, num passeio agradável de início de noite.

O interior do nosso edifício

Igreja no centro antigo de Tbilisi

Centro de Exposições e Auditório no parque Rike

A torre do relógio, suportada por uma viga de metal

Alfarrabistas à beira-rio

Mercado de Dry Bridge

O nosso manjar no Barbarestan!

Todas as fotografias por Rita Barbosa

A aventura no Cáucaso (dia 6, ou mais um dia de rabo quadrado)

Chega ao fim a nossa estadia nas montanhas de Svaneti. Ficamos até mais tarde na cama, já que o nosso transporte para Zugdidi é só ao meio-dia. E o plano é apenas seguir até ao centro da vila, comprar uns postais na loja de souvenirs, "visitar" um dos padeiros e aproveitar para fotografar o fantástico processo de fazer o pão, tomar café e usar a rede WiFi.

Ora bem, todos os nossos planos falharam. Principalmente, porque há um apagão a afectar toda a vila e, como tal, não há café nem WiFi. Padeiros, nem vê-los, está tudo fechado. Os postais lá conseguimos comprar, depois de esperar que o dono da loja fosse ao banco. Mas afinal não eram tão bonitos como tínhamos pensado, ou então não eram de Mestia. Assim sendo, compramos só um cada. E, depois, foi esperar pelo transporte. Que, como antecipado, foi feito numa carrinha Ford Transit convertida em minibus para 12 pessoas. Muito velhinha e sem cintos de segurança. O que, aliado à já mencionada habilidade de condução neste país, nos fez temer o pior.

Em vez de sairmos ao meio-dia, como anunciado, esperamos uma boa meia hora extra, talvez à espera de mais viajantes. Que não apareceram. Assim, éramos seis, mais o condutor e um "amigo", alguém cuja função não foi possível descortinar.

A viagem, que durou sensivelmente três horas, foi atribulada como antecipado, mas não tão má como poderíamos esperar. Muitos saltos, muitas travagens repentinas, uma viagem digna de um rali. Estranho que não se vejam mais condutores georgianos nessa modalidade. Com certeza, seriam bem sucedidos.

Mas foi uma viagem bonita, a paisagem, primeiro de alta montanha, depois lentamente a descer para o vale, com um belo rio de um azul estonteante a serpentear ao nosso lado. 

Por volta das 16h, chegámos a Zugdidi, a cidade mais desenvolvida na zona nordeste do país.

We arrived at the humid central station of Zugdidi, the closest major Georgian city to Abkhazia (a breakaway region). With two hours to kill before our 6:15pm train departed the beautiful decaying grandeur of Zugdidi's station we set out to find a restaurant. This effort was hindered slightly by the station's location, approximately 40 mins from the city centre.

Assim sendo, tivemos mesmo que explorar as redondezas da estação que, como em qualquer país, não são brilhantes. Encontrámos um sítio que servia comida, onde pedimos uma salada de tomate e pepino (omnipresente por estas bandas) e um kachapouri. Tudo muito bom, e que caiu mesmo bem nos nossos estômagos vazios e desejosos de conforto! Só me chateou ao pagar, quando nos pediram uma pequena exorbitância (tendo em conta o que é normal por aqui) pela refeição. Principalmente num sítio que é basicamente uma tasca. Mas pronto. Que se há-de fazer quando se está num sítio sem menu e onde não se fala a língua?

De volta à estação, ainda temos algum tempo para matar. Por incrível que pareça, há uma WiFi aberta (do comboio, aparentemente) que conseguimos usar. O que dá jeito para comunicar com a nossa anfitriã em Tbilisi, onde chegaremos por volta da meia-noite, depois de mais de cinco horas de viagem.

Uma boa meia hora antes da hora de partida, já havia uma considerável fila de locais em frente à porta da primeira carruagem. Isto porque o comboio já lá estava há um bom bocado. E os nossos bilhetes, comprados online, dizem que estamos na carruagem 1. Também! Quando as portas finalmente abrem, começa um interessante processo de entrada a bordo, com um senhor velhote a confirmar os bilhetes antes de nos deixar entrar (com uma lista com os nossos nomes!). Mas a melhor parte é ver famílias inteiras a carregar malas e malinhas, como se esta fosse uma daquelas viagens que se faz uma vez por ano... talvez seja o fim do Verão. É com certeza um cenário para apreciar.

O comboio sai um bocadinho depois das 18h15, hora marcada para a saída. Mas pôr toda a gente dentro do comboio demorou o seu tempo! E depois houve as despedidas, com os mais queridos que ficam a serem convidados a sair pelo revisor. E lá vamos nós, com o sol a esconder-se rapidamente no horizonte, exuberantemente em tons de púrpura. Como um grande incêndio no céu.

Daí em diante, foi uma pequena luta com o tempo que não passa, como não poderia deixar de ser numa viagem dessa duração. Há muitas crianças a correr de um lado para o outro, paragens ocasionais em estações envolvidas na penumbra, vozes lá fora que anunciam a venda de comida...

Cerca da meia-noite, chegamos à estação central de Tbilisi. Como prometido, mais parece um hangar que uma estação ferroviária. E, lá dentro, um centro comercial para acolher os viajantes.

Mas é tarde e temos pressa de chegar ao nosso alojamento, bem no centro da cidade. Uma viagem de táxi leva-nos até lá - um edifício antigo, onde temos um bocadinho de dificuldade em encontrar o nosso apartamento. As escadas comuns estão a descair e há toda uma decadência charmosa. Faz-me lembrar os ditos cortiços das telenovelas brasileiras!

Com tudo isto vamos tarde deitar-nos, ansiosos com aquilo que o "regresso à cidade" nos trará amanhã.

Paisagem da viagem entre Mestia e Zugdidi, ao descermos para a cidade
(o mencionado rio azul)

Pessoas à espera do comboio na estação de Zugdidi

Estação de Zugdidi

Exterior da estação de Zugdidi

Todas as fotografias por Rita Barbosa.
Nota em inglês escrita pelo J.

A aventura no Cáucaso (dia 5, ou a visita ao glaciar)

É o nosso terceiro dia em Mestia e, finalmente, vamos fazer a caminhada que o J. tanto quer, ao sopé do glaciar Chaladi (ou Chalaati, há várias formas de escrever).

O nosso anfitrião disse-nos que não era boa ideia porque andam a construir uma central hidroeléctrica e de abastecimento de água no caminho que leva ao glaciar, mas nós, teimosos, resolvemos ignorar e seguir caminho.

Os primeiros 8/9km são basicamente planos, e primeiro que deixemos de ver a vila passa-se quase uma hora, com passagem pelo aeroporto com o seu edifício minúsculo onde todos os dias vemos pequenos aviões a aterrar e a levantar voo.

É verdade que o caminho é feito por uma estrada de terra batida onde o fluxo de camiões de todos os tipos é estonteante. Tal como os escapes que atingem os nossos pulmões! Lá se vai a mais-valia de andar pela natureza... Temos que dar a mão à palmatória e admitir que não foi o passeio mais agradável que fizemos. Mas, ao chegar ao ponto de acesso ao glaciar, saímos da estrada principal e enveredamos por um trilho de floresta junto ao rio, por demais pitoresco. Mais parecia uma floresta encantada, onde poderíamos a qualquer momento ver fadas a saltitar de arbusto em arbusto.

O rio, que resulta do degelo do glaciar (segundo julgo), tem um caudal impressionante e quase que assusta. Há uma zona em que podemos experimentar molhar as mãos, e a água é gelada!

A determinada altura, saímos da floresta e o caminho é então feito equilibrados em pedregulhos (também eles resultado da erosão do glaciar). O cenário é estranho, quase desolador (de tão árido). Um forte contraponto à vegetação luxuriante que deixámos para trás.

Embora não me tenha informado devidamente, parece-me que o glaciar há-de ter recuado muito em tempos recentes. Talvez o resultado de um Verão extraordinariamente quente... Vemos a língua do glaciar lá em cima, na montanha, enquanto que cá em baixo há apenas pedras, e o rio que brota de uma espécie de caverna. Vemos pedregulhos a rolar pela encosta e a mergulhar nas águas. Há algumas pessoas que miram o espectáculo com impassividade! Nós por ali ficamos um bocado. A observar. Natureza e pessoas. Há um rapaz que ensaia uns passos de breakdancing encavalitado numa rocha, enquanto o amigo o filma com o telemóvel.

O regresso é pelo mesmo caminho, novamente com o sol a descer. Temos tempo e, por isso, paramos para uma cerveja no bar de beira de estrada, a observar o burburinho dos trabalhadores em final de dia.

Ao chegarmos à vila, esfomeados, vamos novamente ao café "Panorama". Mas desta vez, para além das cervejas, pedimos um mini-banquete: um pão recheado com carne (kudbari), frango com molho de natas e alho (um frango inteiro!), carne de porco frita com batatas (que muito me fez lembrar a nossa carne de porco à portuguesa), acompanhados com salada de tomate e pepino, mais um pão de milho típico. Não conseguimos terminar tudo, mas quase!

E lá fomos novamente enfrentar o frio até à outra ponta da vila, para aquela que seria a nossa última noite em Mestia.

Puri (o pão típico)

Vista parcial de Mestia pela manhã

A igreja de São Jorge

A floresta encantada na subida para o glaciar

O rio

A nascente de onde brota o rio

Mestia ao final no dia

O nosso mini-banquete, com kudbari em primeiro plano

Todas as fotografias por Rita Barbosa

A aventura no Cáucaso (dia 4, impróprio para pessoas com vertigens)

Segundo dia de caminhadas em Mestia. Para hoje escolhemos "atacar" a montanha do outro lado do vale, oposta à que subimos ontem. Mais ou menos a sul da vila. 
Foi nessas montanhas que nasceram, há uns seis ou sete anos, umas pistas de ski, e é uma zona onde grandes investimentos foram/estão a ser feitos para desenvolver Mestia como um destino para os praticantes da modalidade. Há dois elevadores de ski, um a seguir ao outro, que nos levam até ao cimo da montanha, ao monte Zuruldi. Como a caminhada até lá é de 15km, com um ganho de altitude de perto de 900m, resolvemos tentar a nossa sorte nos elevadores, para encurtar o caminho (e ganhar tempo).

Chegados ao primeiro elevador (Mestia-Hatsvali), deparámo-nos com o mesmo parado. Estão em obras, ao que parece. Há que seguir a pé até ao seguinte, numa caminhada de cerca de 6km, por entre floresta densa primeiro, depois estrada florestal e, por fim, prados verdejantes. O segundo elevador, esse sim, estava a funcionar. E nós lá comprámos bilhete para nos enfiarmos numas cestas de metal, nas quais subimos quase 500m de altitude em cerca de 2km, num período de nove minutos e meio (sim, estavam todos os detalhes descritos!). Com o meu pânico de alturas, foram uns nove minutos de muito sofrimento! Mas as vistas compensam tudo quando, chegados a Zuruldi, a 2350m, temos um panorama desafogado das montanhas ao nosso redor. Junto ao elevador, um bar com terraço, bem ao estilo das estâncias de ski. Sentámo-nos a desfrutar as vistas enquanto bebemos um chá a acompanhar uns pistáchios vindos connosco desde Londres, o que nos valeu ser abordados pela senhora sentada à nossa beira, uma médica belga a viver em Londres.

Depois de efectuada uma boa fotossíntese, seguimos com a caminhada ao longo do topo da montanha, até à estação de televisão. Uma caminhada curta, de cerca de uma hora para cada lado, mas que nos proporciona vistas excelentes para os vales (e montanha) de ambos os lados. Isto misturado com árvores e arbustos a adquirir tonalidades outonais.
Regressamos a tempo para apanhar o teleférico de regresso, agora com Mestia e o seu vale bem aos nossos pés. Impressionante! Mesmo com muito medo, consegui apreciar o quão majestosa a natureza ali se apresenta.

Depois foi regressar à vila pelo mesmo caminho, com a maravilhosa luz dourada do final de dia, e acabar num café chamado "Panorama" a beber uma cerveja com uma vista fenomenal. Voltámos ao mesmo sítio de há dois dias para alguma comida reconfortante e mais música típica (os rapazes eram os mesmos).
Aproveitámos a animação durante algum tempo depois de jantarmos, até recolhermos ao nosso alojamento. Faz frio e o corpo está cansado.

O elevador Mestia-Hatsvali (parado)



Elevador Hatsvali-Zuruldi

No topo da montanha

As montanhas ao nosso redor

A descida no teleférico

Mestia enquadrada pela floresta

A vista do café "Panorama"

Todas as fotografias por Rita Barbosa

A aventura no Cáucaso (dia 3, quando começamos a dar à perna)

Agora sim, começam as férias. Estamos prontos para caminhar, com todo o "equipamento" necessário - perceba-se, botas de caminhada, casacos à prova de vento, e pouco mais. Depois de um pequeno-almoço simpático, seguimos até ao centro da vila para abastecer a mochila para o dia que nos espera. Que é como quem diz água, quatro maçãs e dois pães típicos (puri, como se diz por aqui). Talvez tenhamos sido um pouco optimistas... mas já lá vamos.
Para abrir as hostilidades, resolvemos começar com a caminhada até aos lagos Koruldi, que parece ser das mais difíceis que se pode fazer num só dia. A meio do caminho, passa pela Cruz de Mestia, a 2200m de altitude, local onde se tem uma vista panorâmica sobre o vale e sobre a vila.

A primeira parte do percurso é difícil e nós enganámo-nos no caminho logo pouco depois de começar, o que fez com que tivéssemos que subir a encosta a pique até encontrar o "verdadeiro" caminho. Foi uma estafa, que me deixou o coração a bater desvairado e que me deitou abaixo para o resto do dia. É verdade que não estou em muito boa forma, mas foi realmente difícil. Indo aos detalhes, são 800m de ascensão numa distância de 4km. Deixo-vos a pensar nisso.
A vista, essa, é magnífica, até dá vertigens do quão abrupta é a encosta. Até vemos o avião (pequenino, de voos internos) a levantar voo e a atravessar o vale!

Depois de uns snacks para retemperar energias, continuamos caminho, desta vez com uma inclinação muito mais suave. Pelo menos de início! A paisagem é deslumbrante, com montanhas por todo o lado, cujas encostas repletas de pinheiros e outras árvores oferecem um panorama multicolor (principalmente agora que nos aproximamos do Outono). Há momentos em que a inclinação é dura, mas tudo é recompensado quando chegamos junto aos lagos (que não estão no cume da montanha, mas sim a 2740m de altitude), sob um sol radioso a brilhar nas águas de cor quase avermelhada! Por ali demoramos um pouco, a saborear o momento.

A descida é bastante dura, proporcionalmente à subida. E quando já estamos perto da vila, enganámo-nos novamente, o que nos faz percorrer uns bons 3 ou 4km adicionais!

Para terminar o dia, resolvemos ir ao restaurante mais perto do nosso alojamento, onde escolhemos a mesa no varandim com vista para as montanhas. Aí apreciámos o final do dia e saboreámos uma boa comida típica, regada com vinho da casa. Um final de dia maravilhoso, apesar do serviço errático, o que parece ser comum por aqui.

Ao chegar a "casa", um pouco de yoga para alongar os músculos cansados, antes de saltar para debaixo do chuveiro! Bem merecido descanso.

Subida para a Cruz de Mestia

Vista da Cruz de Mestia

Vista da Cruz de Mestia

Lagos Koruldi e o Monte Ushba atrás

Lagos Koruldi

Lagos Koruldi



Jantar com vista para as montanhas

Todas as fotografias por Rita Barbosa

A aventura no Cáucaso (dia 2, ou o rabo que fica quadrado de tantas horas de viagem)

Dormimos sem despertador, mas nem por isso o sono foi reparador. Às vezes é assim.

Arranjámo-nos rapidamente para pedirmos pequeno-almoço, algo que não deixámos organizado no dia anterior. As expectativas para a comida da Geórgia são muitas, e para começar não saímos defraudados. Tivemos direito a omolete com pão, e depois um prato gigante de crepes, que degustámos com doce de morango e iogurte. Que barrigada!

Para pagar a nossa estadia, tivemos uma animada conversa via telefone com ajuda do Google tradutor - as novas tecnologias acabam por ser práticas neste país onde nem sempre é fácil encontrar quem fale inglês. Mas o que importa é que as pessoas se entendam!

Esperamos pelo motorista que nos levará a Mestia, também organizado pelos nossos anfitriões. Acaba por ser o mesmo de ontem, embora nos pareça um pouco diferente. E não podemos deixar de reparar na arma que traz à cintura, enfiada nas calças de ganga. Disseram-nos eles que é polícia, há que confiar.

Mestia é o nosso primeiro destino na Geórgia, uma vila perdida nas montanhas do Alto Cáucaso, no norte do país. É o ponto de partida para explorarmos as montanhas dessa região chamada Svaneti. Optámos por contratar alguém para nos levar até lá porque os transportes públicos demoram muito tempo e, para tal, teríamos que acordar muito cedo. Preferimos não o fazer.

A viagem, de uns 250/300Km, faz-se primeiro pela estrada de ontem, mas em sentido contrário. É uma estrada recta, que convida à velocidade, se bem que de forma controlada. Vou prestando atenção ao que nos rodeia, apesar do cansaço que me faz pesar os olhos. Há postos de gasolina por todo o lado, já tinha reparado ontem. Haverá petróleo nas imediações? Lembro-me do Sr. Gulbenkian e do petróleo de Baku - não é muito longe.

Vamos seguindo viagem, e por todo o lado se vêem vacas a pastar nas bermas da estrada. A determinada altura, encontramos umas quatro ou cinco que decidiram deitar-se bem no meio da faixa de rodagem! E a tudo isto o nosso motorista vai respondendo com destreza, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Se calhar é... Motorista interessante esse, que vai passando CDs atrás de CDs com músicas variadas, desde os últimos hits, incluindo Despacito, até música que creio ser local. Tudo a uma velocidade estonteante, músicas a passar à frente, CDs a serem trocados constantemente. A determinada altura, reparo que ele se benze profusamente sempre que passamos uma igreja. Rapaz religioso, portanto. Mas voltemos aos bichos: para além das vacas, também vemos porcos pelas bermas, embora menos numerosos. Pastarão também? A certa altura, ao passarmos uma pequena localidade, nada mais nada menos que um javali fêmea atravessa a estrada. E na passadeira! Cena completamente surreal.

Mas nem só de animais é feita esta viagem. Reparo na arquitectura das casas de campo, todas muito semelhantes, com um estilo que me parece colonial. Casas grandes, de linhas rectas, com grandes varandas. Tenho que pesquisar sobre elas.

Depois de passarmos Zugdidi, o cenário muda, torna-se mais acidentado e, a dada altura, damos por nós a serpentear um rio de um azul eléctrico impressionante.

Depois de uma breve paragem para desentorpecer as pernas, continuamos a viagem, que no total durou quase 5 horas.

Chegámos moídos e saturados. E foi difícil encontrar o nosso alojamento, bem na extremidade da vila. Alojamento esse que desilude e cria frustração numa altura em que não há grande paciência para ela.

Depois de deixarmos as nossas coisas, fomos explorar o centro da vila à procura de comida - não comíamos nada desde o pequeno almoço e já o sol estava a desaparecer! Não há muita escolha, por isso arriscamos num café bem central, com muitas pessoas na esplanada. Sentamo-nos lá dentro, prontos para degustar umas iguarias da região. Pedimos katchapouri, um pão em forma de barco recheado com queijo, manteiga e ovo (!), um outro pão recheado com carne, e beringela com uma pasta de nozes. Outra barrigada, acompanhada de música típica ao vivo, que uns rapazes estavam a tocar ao fundo da sala. Bela experiência antes de regressarmos ao nosso alojamento, uns bons vinte minutos a pé, e de enfrentarmos o frio que se faz sentir lá fora. Afinal de contas, estamos nas montanhas.


A aventura no Cáucaso (primeiro dia, ou as impressões de aterrar quase de madrugada)

Bem, foi um primeiro dia que nem chegou a ser, porque aterrámos em Kutaisi já depois da meia-noite local, depois de uma primeira tentativa frustrada para aterrar. Vento, disseram eles, mas à segunda foi de vez e de forma bem suave. Um mimo.
O aeroporto de Kutaisi é pequeno e num instante passámos o controlo de passaporte, com direito a carimbo e tudo. Tivemos que esperar um bocadinho pela minha mochila, e depois encontrar o nosso motorista, enviado pela casa de hóspedes que marcámos.

Faz mais calor do que em Londres, o que é uma agradável surpresa.

A viagem de cerca de meia hora até ao centro da cidade (e até ao nosso alojamento) deu para termos uma primeira impressão da famigerada condução georgiana - para além de (quase) parecer não haver regras, alguns carros têm volante à esquerda, outros à direita. Mas conduz-se pela direita. Que estranho.

Chegámos já passava da uma da manhã e à nossa espera tínhamos um anfitrião ensonado que nos mostrou o nosso quarto e rapidamente nos desejou boa noite. Não por palavras, porque não falava inglês. Mas era o que ele queria dizer.

E nós, chegados de uma terra onde mal eram onze da noite, lá fizemos um esforço para dormir.