A aventura no Cáucaso (dia 6, ou mais um dia de rabo quadrado)

Chega ao fim a nossa estadia nas montanhas de Svaneti. Ficamos até mais tarde na cama, já que o nosso transporte para Zugdidi é só ao meio-dia. E o plano é apenas seguir até ao centro da vila, comprar uns postais na loja de souvenirs, "visitar" um dos padeiros e aproveitar para fotografar o fantástico processo de fazer o pão, tomar café e usar a rede WiFi.

Ora bem, todos os nossos planos falharam. Principalmente, porque há um apagão a afectar toda a vila e, como tal, não há café nem WiFi. Padeiros, nem vê-los, está tudo fechado. Os postais lá conseguimos comprar, depois de esperar que o dono da loja fosse ao banco. Mas afinal não eram tão bonitos como tínhamos pensado, ou então não eram de Mestia. Assim sendo, compramos só um cada. E, depois, foi esperar pelo transporte. Que, como antecipado, foi feito numa carrinha Ford Transit convertida em minibus para 12 pessoas. Muito velhinha e sem cintos de segurança. O que, aliado à já mencionada habilidade de condução neste país, nos fez temer o pior.

Em vez de sairmos ao meio-dia, como anunciado, esperamos uma boa meia hora extra, talvez à espera de mais viajantes. Que não apareceram. Assim, éramos seis, mais o condutor e um "amigo", alguém cuja função não foi possível descortinar.

A viagem, que durou sensivelmente três horas, foi atribulada como antecipado, mas não tão má como poderíamos esperar. Muitos saltos, muitas travagens repentinas, uma viagem digna de um rali. Estranho que não se vejam mais condutores georgianos nessa modalidade. Com certeza, seriam bem sucedidos.

Mas foi uma viagem bonita, a paisagem, primeiro de alta montanha, depois lentamente a descer para o vale, com um belo rio de um azul estonteante a serpentear ao nosso lado. 

Por volta das 16h, chegámos a Zugdidi, a cidade mais desenvolvida na zona nordeste do país.

We arrived at the humid central station of Zugdidi, the closest major Georgian city to Abkhazia (a breakaway region). With two hours to kill before our 6:15pm train departed the beautiful decaying grandeur of Zugdidi's station we set out to find a restaurant. This effort was hindered slightly by the station's location, approximately 40 mins from the city centre.

Assim sendo, tivemos mesmo que explorar as redondezas da estação que, como em qualquer país, não são brilhantes. Encontrámos um sítio que servia comida, onde pedimos uma salada de tomate e pepino (omnipresente por estas bandas) e um kachapouri. Tudo muito bom, e que caiu mesmo bem nos nossos estômagos vazios e desejosos de conforto! Só me chateou ao pagar, quando nos pediram uma pequena exorbitância (tendo em conta o que é normal por aqui) pela refeição. Principalmente num sítio que é basicamente uma tasca. Mas pronto. Que se há-de fazer quando se está num sítio sem menu e onde não se fala a língua?

De volta à estação, ainda temos algum tempo para matar. Por incrível que pareça, há uma WiFi aberta (do comboio, aparentemente) que conseguimos usar. O que dá jeito para comunicar com a nossa anfitriã em Tbilisi, onde chegaremos por volta da meia-noite, depois de mais de cinco horas de viagem.

Uma boa meia hora antes da hora de partida, já havia uma considerável fila de locais em frente à porta da primeira carruagem. Isto porque o comboio já lá estava há um bom bocado. E os nossos bilhetes, comprados online, dizem que estamos na carruagem 1. Também! Quando as portas finalmente abrem, começa um interessante processo de entrada a bordo, com um senhor velhote a confirmar os bilhetes antes de nos deixar entrar (com uma lista com os nossos nomes!). Mas a melhor parte é ver famílias inteiras a carregar malas e malinhas, como se esta fosse uma daquelas viagens que se faz uma vez por ano... talvez seja o fim do Verão. É com certeza um cenário para apreciar.

O comboio sai um bocadinho depois das 18h15, hora marcada para a saída. Mas pôr toda a gente dentro do comboio demorou o seu tempo! E depois houve as despedidas, com os mais queridos que ficam a serem convidados a sair pelo revisor. E lá vamos nós, com o sol a esconder-se rapidamente no horizonte, exuberantemente em tons de púrpura. Como um grande incêndio no céu.

Daí em diante, foi uma pequena luta com o tempo que não passa, como não poderia deixar de ser numa viagem dessa duração. Há muitas crianças a correr de um lado para o outro, paragens ocasionais em estações envolvidas na penumbra, vozes lá fora que anunciam a venda de comida...

Cerca da meia-noite, chegamos à estação central de Tbilisi. Como prometido, mais parece um hangar que uma estação ferroviária. E, lá dentro, um centro comercial para acolher os viajantes.

Mas é tarde e temos pressa de chegar ao nosso alojamento, bem no centro da cidade. Uma viagem de táxi leva-nos até lá - um edifício antigo, onde temos um bocadinho de dificuldade em encontrar o nosso apartamento. As escadas comuns estão a descair e há toda uma decadência charmosa. Faz-me lembrar os ditos cortiços das telenovelas brasileiras!

Com tudo isto vamos tarde deitar-nos, ansiosos com aquilo que o "regresso à cidade" nos trará amanhã.

Paisagem da viagem entre Mestia e Zugdidi, ao descermos para a cidade
(o mencionado rio azul)

Pessoas à espera do comboio na estação de Zugdidi

Estação de Zugdidi

Exterior da estação de Zugdidi

Todas as fotografias por Rita Barbosa.
Nota em inglês escrita pelo J.

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