Maria Iordanidou - Loxandra

O último livro que li foi-me oferecido pela minha antiga companheira de casa e é, aparentemente, um clássico da literatura grega do século XX.  Que ela, enquanto grega, quis partilhar comigo. O que teve que ser feito através de uma edição em francês uma vez que, também aparentemente, não existem edições em inglês (e parece-me que em português também não). Uma boa desculpa para matar saudades da língua francesa.
O livro conta, como seria de esperar, a história de Loxandra, nascida e criada em Istambul numa altura em que ainda não existia essa designação. Seguindo a vida de Loxandra em toda a sua extensão, este livro é, ao mesmo tempo, uma ode ao poder matriarcal e uma lição da história do final no século XIX naquela parte do mundo. 
Com um forte ênfase nas relações familiares e na sua dinâmica, Loxandra é também uma homenagem à cultura (nomeadamente gastronómica) grega. Não faltam descrições pormenorizadas de refeições típicas gregas, difíceis de ler em alturas de maior apetite!
Assim, sob a ideia relativamente simples de contar a história da vida de uma mulher em Istambul, encontra-se um relato muito rico e que nos ensina muito sobre a sociedade daquele tempo e a cultura de um povo. Foi um leitura sem dúvida interessante e estimulante, a qual espero que me tenha posto de novo no bom caminho da leitura. De volta a bons hábitos. 

Mais uma primeira vez

A minha vida em Londres tem sido profícua em "primeiras vezes". O que, na casa dos trintas, é com certeza um facto digno de ser assinalado, apesar da minha ubíqua má-vontade em relação a esta cidade.
Certo é também que, na generalidade, estas "primeiras vezes" têm estado relacionadas com concertos. E esta vez não foi excepção.
Já não sei bem quando começou a minha relação com Calexico, nem em que contexto. Sei que quando estava na faculdade em Coimbra eles eram uma das minhas bandas preferidas. E também me lembro de eles tocarem em Lisboa sem que eu pudesse ter ido. 
A faculdade já vai lá longe, por isso podem imaginar que esta é uma relação de longa data. Como tendem a ser. Há já alguns meses que tinha visto o anúncio do concerto dos Calexico em Londres, na O2 Shepherd's Bush Empire, mas foi apenas a umas duas semanas do concerto que me decidi a ir. Pelos velhos tempos. Para não perder a oportunidade. 
Embora haja momentos mais "adequados" para fazer determinadas coisas na nossa vida, é sempre um prazer quando ouvimos músicas que nos dizem muito, ao vivo. Houve momentos neste concerto de felicidade pura, se é que posso arriscar dizer que conheço esse sentimento. A música é algo muito poderoso, sem dúvida. E, assim, uma noite de terça-feira transformou-se num regresso ao passado - não o passado de quando ouvia avidamente estes senhores, mas um passado mais longínquo, quando a vida era fácil.

A gala de Tchaikovsky, ou fogo-de-artifício dentro do Royal Albert Hall

Há umas semanas atrás fui a mais um concerto, desta vez um pouco diferente - uma gala dedicada ao compositor russo (que eu tanto gosto) Tchaikovsky, no Royal Albert Hall.
A companhia era extensa (éramos um grupo grande, graças às promoções da TimeOut) e os lugares interessantes, lá em cima nas galerias, com uma boa vista de toda a sala. 
O concerto foi muito interessante, incluindo excertos do Lago dos Cisnes e do Quebra-Nozes, mas também a 1812 Overture. É comum haver fogo-preso quando esta obra é tocada, facto que eu desconhecia até este dia, quando de repente há lançamento de canhões bem por cima das nossas cabeças, seguido de fogo-preso que lançou uma onda de fumo pela audiência... Digamos que não achei toda a piada do mundo. A obra é sem dúvida muito interessante, inspirada na derrota da armada de Napoleão na Rússia (e daí incluir partes da Marselhesa, facto que me confundiu de início). 
Em suma, adorei ouvir as peças de Tchaikovsky, foi uma tarde muito bem passada, mas por favor deixem-se de tiros de canhão e fogo-de-artifício. Completamente démodé.

A pigeon sat on a branch reflecting on existence

Depois de meses sem ir ao cinema (já não me lembro quando foi a última vez...), resolvi fazer valer a anuidade do Barbican e matar saudades do escurinho.
O escolhido para tal ocasião foi este filme sueco, com um título bem sugestivo - em português, será algo como "um pombo pousou num ramo reflectindo sobre a existência". Não sei qual é o título em português porque, segundo consegui apurar, ainda não estreou em Portugal. Para além do título, o filme vem com o pormenor de ter vencido o Leão de Ouro do festival de Veneza no ano passado. Não é para todos.
Bem, o filme, com a maior das certezas, não é para todos também. Se bem que as críticas falem em humor negro, história bizarra, entre outras coisas, nada fazia antever o que se passou naquela sala de cinema do Barbican - foi provavelmente o filme mais estranho que vi até hoje. E não, não gostei. Filmes estranhos acho que já vi muitos, mas este, apesar de ser uma comédia, não me fez rir. Mesmo que não seja pessoa de riso fácil. É simplesmente estranho, difícil de perceber. Dizem os entendidos que só quem não tem capacidade de perceber faz este género de comentários, porque o filme é genial. Isso não sei. Mas eu, definitivamente, não gostei.

Ah, e se alguém perceber sobre o que é que o filme trata, por favor avise-me. Gostava de saber também.

Sofar Sounds, o início


Veio como uma dica da amiga homónima T e soou bem a ideia. Concertos secretos, em localizações bizarras, tais como a sala de estar de alguém. Claro que me juntei ao clube e esperei por ser seleccionada. O que não demorou muito tempo a acontecer, mas calhou numa data pouca jeitosa. Quis então o destino que a Magda, que entretanto aceitou a sugestão de se juntar ao clube também, fosse escolhida daí a uns dias. E assim tivemos o nosso baptismo de Sofar Sounds
Tudo aconteceu naquilo que eu acho que era um antigo celeiro reconvertido numa casa espectacular. O piso de baixo, em plano aberto, albergou as bandas e os ouvintes. Sim, tivemos direito a 3 bandas, cada uma a tocar cerca de 30 minutos. Parece ser esse o formato. Primeiro, Miss Baby Sol, cantora originária do antigo Zaire, actualmente a residir em Londres. Depois, Lail Arad, cantora britânico-israelita. Para terminar, ouvimos Bella Figura, colectivo também londrino. Em termos de estilos sonoros, são todos bastante distintos. Miss Baby Sol com uma sonoridade mais soul, spoken word; Lail Arad a típica cantautora de guitarra na mão; e os rapazes Bella Figura com um som mais denso, por assim dizer.
Foi uma experiência verdadeiramente diferente. Estar ali, no meio de umas 50 pessoas, na sala de estar de alguém, a ouvir música até então desconhecida... Muito interessante. Muita única.
Obrigada Sofar Sounds pela iniciativa. E até à próxima.

Sinkane @ XOYO

Há exactamente um mês atrás, estava eu num sítio mais agradável do que hoje, a aprontar-me para ver Sinkane, rapaz nascido em Londres, com raízes no Sudão e educado nos EUA. Mistura interessante.
A "recomendação" veio da Magda, com a etiqueta de ter colaborado com os Yeasayer. Que são uns gajos de quem eu até gosto bastante. Assim, lá rumámos nós até mais um dos milhentos sítios onde se realizam concertos nesta cidade, mais precisamente o XOYO, na zona este da cidade. Muito in, portanto.
O rapaz tem jeito para a coisa. O arranjo é simples, entre guitarra, baixo, bateria e muito sintetizador. As músicas têm ritmo, o rapaz tem presença, o espaço é interessante, logo foi mais uma boa experiência musical nesta cidade que tem muito para oferecer nesse campo. Valha-nos isso. Para combater a má-disposição.

As histórias dos irmãos Grimm

E uns dias mais tarde, no habitual excesso de actividades culturais que por vezes inunda as minhas semanas, fui ver um espectáculo algo diferente - uma peça de teatro composta por dramatizações de várias histórias (infantis) dos irmãos Grimm em diferentes ambientes (e salas) de um mesmo edifício. O público segue os actores nas transições entre histórias, escada acima, escada abaixo. Um conceito muito interessante. As salas estão decoradas de forma a aludirem a cada uma das diferentes histórias, a baixa luz, como que a convidar à imersão no ambiente alegórico. Para nos transportarem com eles ao centro de cada uma das histórias. 
Tivemos direito a 5 histórias (O Príncipe Rã ou Henrique de Ferro, Hansel e Gretel, Pele-de-bicho, A pastorinha de gansos, e Os três homenzinhos na floresta). Não sei se estes nomes são os usados em português, mas fica a ideia. A maioria de nós cresceu a ouvir histórias dos irmãos Grimm, por muito estranhas que elas por vezes pareçam (principalmente como histórias infantis). Por isso é quase como que um sonho entrar no imaginário dessas histórias que povoaram a nossa infância. 
Gostei muito, de tudo - das dramatizações, da decoração, da ideia, dos espaços. Foi uma noite muito interessante e bem passada. No final, tivemos ainda direito a explorar o espaço, estudar os recantos. Pena que não tinha a minha máquina fotográfica comigo...

Nigéria º Hamburgo º Londres

Há um mês atrás, recém-chegada das férias da Páscoa no belo rectângulo, fui ver Nneka, cantora nigeriana radicada na Alemanha, ao Village Underground.
Sugestão do amigo Ilias, revelou-se uma experiência muito interessante. A música de Nneka anda à volta da mistura entre sonoridades de raiz africana, como o afrobeat de Fela Kuti, e uma tendência mais hip-hop. O resultado é bastante interessante, embora tenha que confessar que sou pouco conhecedora do seu repertório musical. O que faz com que os concertos assistidos nestes moldes sejam, de alguma forma, estranhos. Este não foi excepção, mas foi, sem dúvida, muito divertido. Estávamos todos bem-dispostos, com um grau de "maluqueira" q.b. que é mesmo o que se precisa. O Village Underground é um espaço muito interessante, espécie de antigo armazém, com uma atmosfera diferente. Descobri que também há um em Lisboa... coincidências.