O fado de ser português

Começo a descobrir que isto de ter nascido em Portugal tem muito que se lhe diga. Somos um povo tendencialmente complicado, emotivo, pessimista. E, para onde quer que vamos, carregamos essa carga emocional connosco. Talvez não seja a ideia que outros povos têm de nós, talvez não se apercebam. Porque, mais importante, somos tendencialmente boas pessoas, de bom coração (embora, está claro, haja de tudo por aí).
Faço esta pequena introdução para vos contar do meu primeiro concerto de fado. A Mariza veio cá cantar ao Barbican e, muito embora não seja grande apreciadora do estilo (sacrilégio!), não poderia faltar. Para não manchar por completo a minha herança lusa, tenho que dizer em minha defesa que tenho uma grande, quase completa, predilecção por vozes masculinas, e isso inclui também o fado. Dêem-me um Carlos do Carmo e a coisa muda de figura.
Gostei muito de ver a sala cheia, seja de portugueses ou não. Gostei de ouvir a minha língua ser cantada e homenageada durante quase 2 horas. Gera um conforto cá dentro que é difícil de explicar. É bom ver o público a vibrar, a bater palmas, a tentar acompanhar. Apesar do dramatismo (ah, também somos muito dramáticos, é verdade), ressoa cá dentro a força dos sentimentos transmitidos pelo fado. Porque isto de ser português traz consigo toda a nostalgia do mundo. 

O que vale é que daqui a nada vou matar saudades...

Chuva de pequenos cometas

Para não variar, está este blog um pouco atrasado em publicações, que começam a acumular-se na pasta dos rascunhos... Não sei porquê, mas o tempo não dá para tudo.
Há umas semanas atrás, embarquei numa outra "aventura" de explorar a cena musical londrina. Mais uma vez a um dia de semana, mais uma vez com muito cansaço acumulado. Desta vez rumámos até Camden, a um sítio sobre o qual já muito tinha ouvido falar, mas onde ainda não tinha ido: KOKO. Local de concertos, bar, discoteca, mas principalmente um sítio onde se vê todo o tipo de pessoas e estilos. Uma entidade. Os Little Comets, banda que fui ver/ouvir, são ingleses de estilo musical diversificado. Indie rock, com certeza, mas umas vezes mais funk, outras vezes mais mainstream. Têm piada os rapazes e ainda consegui ter energia suficiente para abanar um pouco mais do que a cabeça. O que, tendo em conta as circunstâncias, é um feito considerável. Gostei, embora tenha sido um nadinha repetitivo, mas talvez soe assim quando não se conhece bem o repertório da banda. É o que dá quando se anda por aí a explorar...

Conflict Time Photography

Vamos lá aproveitar a calma deste sábado cinzento para escrever um pouco sobre uma exposição de fotografia que vi há umas semanas atrás, num particularmente triste e chuvoso domingo.
O tema da exposição suscitou, desde cedo, o meu interesse. Fotografia de guerra sempre me interessou, mais particularmente dos cenários de devastação pós-guerra. A premissa da exposição era precisamente essa: retratar, através da fotografia, as consequências da guerra, em diversos espaços temporais diferentes. Premissa muito interessante, sem dúvida. 
Ora se a ideia era boa, a execução deixou-me um pouco desiludida. Faltou impacto visual, até mesmo um pouco de organização. As fotografias estavam organizadas por período de tempo após guerra/situação de conflito em que tinham sido captadas, desde poucos minutos (como no caso da bomba de Hiroshima) até muitos anos depois. Bem pensado, mas talvez mais interessante se houvesse algum tipo de agrupamento por conflito, porque assim se teria sem dúvida a noção do tempo passado e uma perspectiva mais "poética" do assunto. Minha opinião, está claro. 
Exposição interessante e definitivamente de valor, com aprendizagem à mistura, mas que pecou por defeito. Faltou intensidade.