Vinicio Capossela, ou a descoberta da música italiana

Faz hoje uma semana que voltei aos concertos. Já estava com saudades. Mas desta vez, contrariamente ao que é costume, não fui por minha iniciativa, mas sim convidada pela colega de trabalho italiana. À descoberta de um nome grande da música italiana, Vinicio Capossela. Completamente desconhecido para mim, mas muito bem recomendado.
O concerto começou com uma primeira parte por Piers Faccini & Vincent Segal. Um estilo muito próprio, com Segal no violoncelo e Piers na voz e guitarra. Por vezes fez-me lembrar Dead Can Dance, outras vezes pareceu-me ter recuado no tempo uns quantos séculos e estar de volta à Idade Média. Mas muito interessante, sem qualquer dúvida. Depois foi praticamente o delírio da sala repleta de italianos, quando Capossela subiu ao palco. E percebe-se bem porquê. Estamos na presença de um performer - ele não está ali apenas para cantar, ele está ali para interpretar um papel, para nos levar com ele numa viagem sonora. A música é variada, o grau de extroversão também, sempre com um sentido de humor apurado. Dizem-me que o concerto foi curto para aquilo que é costume, mas eu não me importo. Fiquei bem impressionada com o senhor Capossela. Foi um serão bem passado, divertido. Valeu realmente a pena, principalmente pela descoberta.

East is East

Numa temporada dominada pelas peças de teatro, vi também esta East is East. Conhecia a história pelo filme com o mesmo nome, de 1999. O que não sabia é que, esse mesmo filme, é baseado numa bem sucedida peça de teatro que estreou um pouco antes, a meio dos anos 1990. E que foi agora "re-editada".
Em relação ao enredo, conta a história de George, um paquistanês muçulmano emigrado em Inglaterra, onde casou com uma inglesa católica e de quem tem 7 filhos. A acção desenrola-se nos anos 1960 e basicamente foca-se no conflito entre a cultura paquistanesa e a realidade inglesa, e as consequências que tem nas relações familiares.
Já tinha gostado muito do filme e gostei igualmente da peça. Os lugares eram óptimos, na segunda fila, quase dentro do palco. Os actores são excelentes, alguns mais famosos que outros mas todos igualmente bons. E a história é interessante, ao mesmo tempo que é muito divertida. Sem ser tola, claro está. Um serão muito bem passado.

Frankenstein (ou como ver uma peça de teatro no cinema)

É fim-de-semana. Vamos lá aproveitar o tempo livre extra e o estado de espírito mais descansado para escrever um pouco neste blogue. Já vai sendo tempo.
Há umas semanas atrás tive a primeira experiência em algo que é bastante comum aqui em Londres: peças de teatro televisionadas em salas de cinema. O motivo foi um bom motivo e vinha recomendado. O clássico Frankenstein encenado pelo enfant terrible Danny Boyle, com Jonny Lee Miller e Benedict Cumberbatch nos papéis de Frankenstein e o seu criador Victor, em versões alternadas. Bastante apropriado para a dita Noite das Bruxas, não? Escolhi a versão em que Jonny Lee Miller é Frankenstein e Benedict Cumberbatch é Victor. Confio que ambas as versões serão fantásticas, mas não deixo de pensar que Miller é mais adequado para o papel do que Cumberbatch...
A peça é muito, muito boa. Os actores, os cenários, a música... tudo. É verdade que por cá sabe-se realmente fazer teatro. O que não me convenceu particularmente foi a parte de ver tudo isto numa tela de cinema (eu sei que já não são telas, mas fica mais bonito dizer assim). Filmado. Com ângulos de visão que nunca teria caso estivesse a ver a peça ao vivo, num teatro. Não sei, não me parece interessante. Ou verdadeiro. É quase como se fosse um filme (assim tipo o Dogville). Talvez o meu cérebro seja demasiado compartimentalizado e me faça gostar das coisas cada uma no seu lugar. Filmes no cinema, peças no teatro. E com actores que estejam realmente à minha frente.

Sunny Afternoon (ou uma história cantada sobre The Kinks)

O discurso é sempre o mesmo e já começa a parecer uma ladainha. Sim, é verdade, vou deixando acumular posts por escrever, por falta de tempo mas também por alguma falta de vontade... Espero que esta fase venha a acabar, eventualmente.
Há coisa de umas semanas atrás, fui ver este musical que me andava a piscar o olho há já alguns meses. Não me considero terrivelmente fã de musicais em geral, não que tenha grande experiência no campo. Mas pessoas a cantar em vez de falar normalmente é algo que me confunde, para utilizar uma expressão simpática. Neste caso, no entanto, a ideia é um pouco diferente. A peça/musical é sobre os The Kinks, banda inglesa dos anos 1960, da qual eu gosto bastante. A ideia é contar o percurso da banda através das suas canções. O que resulta num espectáculo muito interessante! Pude passar um serão a ouvir as músicas deles, ao mesmo tempo que aprendi um bocadinho sobre a história de vida da banda e seus elementos - coisas sobre as quais não fazia a mais pequena ideia. 
Percebo agora que talvez não seja assim tão difícil gostar de musicais, desde que à partida se goste da música. Depois disso é fácil - é quase como ir a um concerto, mas com actores a contar uma história pelo meio.

Mulatu Astatke ao vivo, ou o concerto do pai do etiojazz

E também há cerca de um mês atrás, fui ver um concerto de Mulatu Astatke, nome maior do jazz proveniente de África, mais precisamente da Etiópia.
Há já alguns anos que me foi dada a conhecer a sua música, e desde o início que fiquei fascinada pela sonoridade, pelos ritmos.  Por isso, quando soube que o septuagenário senhor vinha tocar a Londres, fiquei com a pulga atrás da orelha. Sorte a minha que, mesmo tendo adiado a decisão de comprar bilhete, o concerto não esgotou (pelo menos até ter comprado). E foi muito bom ter ido.
Primeiro houve uma primeira parte com um grupo creio que também etíope, do qual não me lembro o nome. Muito ritmo, dançarinos, engraçado mas um pouco estranho - pelo menos, para a ideia de jazz sóbrio que eu fazia do senhor. Depois veio a big band, que não era assim tão grande em tamanho, mas definitivamente grande em sonoridade. E o senhor Astatke, lá no meio, pequeno mas grande, de volta das suas percussões. Gostei tanto. O jazz, como a música clássica, tem a capacidade de me transportar para outras realidades. A minha mente viaja de tal forma que por vezes esqueço-me de onde estou e o que estou a fazer! É uma sensação muito boa, terapêutica. Tenho, no entanto, que dizer que houve partes em que senti falta de uma "orquestra" mais composta, houve alturas em que faltou densidade à música. Mas, ainda assim, foi um concerto muito bom.

Bring Up the Bodies (e não foram poucos)

"Há muito, muito tempo / Era eu uma criança"... Não (mas também). Há cerca de um mês atrás, fui ver esta peça de teatro, cortesia da entidade para a qual trabalho - de vez em quando oferecem-nos bilhetes para espectáculos. É o que dá sermos uma instituição de caridade.
Borlas à parte, a peça é sobre Ana Bolena e o rei Henrique VIII. Uma história sobre a qual já todos ouvimos falar um pouco, não tivesse a senhora sido executada... E ainda bem que já tinha ouvido falar sobre a história, e visto o filme Duas Irmãs, um Rei, senão seria um bocadinho difícil de acompanhar a peça. Isto da pronúncia britânica tem um bocadinho o que se lhe diga... Mas foi bastante interessante e claro que as produções teatrais por cá são (quase) sempre extremamente profissionais e meticulosas, o que faz com que ir ao teatro seja um prazer.

Bis


Há pouco mais de um ano, tornava-me uma bi-tia. Tenho agora uma tulipa e um junquilho para alegrar os meus dias. Obrigada, minha irmã, por me dares tão belos sobrinhos.

Finding Fela

É verdade, ando com pouquíssima vontade de escrever. Vou acumulando posts, esquecendo alguns com certeza... mas a vontade não vem. Hoje faço um esforço, porque começo a achar difícil quebrar este ciclo vicioso. E, assim, vou contar-vos sobre um documentário que vi há cerca de um mês atrás, com o qual aprendi muito e do qual gostei bastante.
Fela Kuti foi um música nigeriano. Já tinha ouvido falar nele, principalmente desde os tempos em que vivi em França. Conhecia alguma coisa, também do filho Femi, que seguiu igualmente a carreira musical. Mas não fazia ideia do impacto que Fela tinha tido no cenário musical, não só africano, mas mundial, principalmente na década de 1970. Este documentário, Finding Fela, desconstrói a vida desse ícone musical, as suas origens, as suas motivações. Mostra-nos uma vida de excessos a todos os níveis, uma vida de quase desinteresse pela família, uma vida (acima de tudo) difícil de compreender. Fela Kuti foi um músico, pioneiro do Afrobeat, mas foi também um activista político, defensor da identidade africana, uma voz muito forte numa altura particularmente conturbada da história nigeriana. A sua "promiscuidade" sexual era conhecida, tendo casado com mais de 20 mulheres no mesmo dia. Algo ironicamente, morreu vítima de SIDA aos 58 anos.
Por esta pequena amostra, podem perceber como este documentário é interessante. Como se aprende tanto não só sobre o homem, mas também sobre a época em que viveu, sobre os contextos em que se inseriu. E a banda sonora... perfeitamente genial.

Do sol, do mar e das pequenas coisas da vida


E, de repente, ir a Portugal de férias passou a estar na categoria das viagens... É a sina do emigrante.

Já lá vai um mês mas, como provavelmente já deram conta, não tenho andado muito faladora nem inspirada, e este blogue tem sofrido as consequências.
Ir a casa é sempre um prazer agridoce. Passa num instante, o tempo nunca é suficiente para todas as coisas que quero fazer, ver as pessoas amigas com quem passo cada vez menos tempo... Acaba por ser um pouco frustrante. Desta vez, no entanto, o objectivo primordial era fazer um pouco de praia (é preciso sintetizar vitamina D, principalmente quando se vive num país com pouco sol) e estar com a família. E embora tenha sido um ápice, foi precisamente isso que fiz e soube-me muito bem. Tinha realmente saudades da praia e do mar, da calma das férias em Odeceixe. Estar com os meus pequenotes é a cereja no topo do bolo, principalmente nesta altura em que tudo acontece tão depressa e cada vez que os vejo parece que cresceram 10cm! Ser tia à distância não é fácil e, acima de tudo, não quero ser uma tia distante. Por eles, que são a coisa mais importante do meu excessivamente-complicado-e-caótico mundo.

Dentro do Segredo - José Luís Peixoto

Veio pelo correio, prenda de aniversário antes de tempo. Mas eu portei-me bem e só abri no dia. Este "Dentro do Segredo" de José Luís Peixoto é o relato que o escritor fez da sua viagem à Coreia do Norte, em 2012, e foi-me oferecido pela minha cousinette querida.
Vinha recomendado, por isso interesse redobrado. E não, não me desiludiu. Nunca anteriormente tinha lido aquilo que se apelida de literatura de viagens. Por isso, não conheço os estilos (se é que os há). Mas gostei particularmente deste, porque é muito simples e real. Quase como que um diário de viagem, que inclui não só as descrições das ditas cujas, mas também as expectativas e opiniões do autor. Tratando-se da Coreia do Norte, foi tudo uma grande novidade. Assim, cumpriu-se também algo que gosto nestas coisas de ler, que é aprender (ou aumentar o meu conhecimento sobre um assunto em particular). Fiquei frequentemente impressionada pelos relatos. Aliás, por muitas vezes me esqueci que o que lia não era ficção, mas realidade - uma realidade longínqua, mas que nem por isso é menos real. É assombroso aperceber-me que hoje em dia, nos tempos da globalização e do big brother que tudo sabe e tudo vê, existem sociedades completamente alienadas, como que paradas num tempo que já passou.
Gostei muito. Gostei de aprender. Gostei de abrir os meus horizontes em relação a algo que não conhecia e sobre o qual nunca verdadeiramente me interessei. Gostei da perspectivação que me permitiu. Obrigada, minha prima, pelo presente. 

Boyhood

Há mais de um mês atrás, fui ver o mais recente filme de Richard Linklater, o mesmo da trilogia "Antes de..." e um dos meus realizadores favoritos. As expectativas eram mais que muitas, ou não fosse este um projecto único, seguindo a história de um rapaz em tempo real, desde os 5 aos 18 anos, numa filmagem que durou 12 anos. A premissa é extraordinariamente simples e, ao mesmo tempo, genial. Quase que um documentário, centrado na vida de um rapaz que poderia ser qualquer um de nós. Como seria ver a nossa vida compilada de tal forma?...
Não sei se foi por causa das altas expectativas ou do mau humor que me tem assolado ultimamente (há já uns meses), mas certo é que não fiquei particularmente impressionada (e custa-me muito dizer isso). Toda a parte inerente à ideia original do filme é brilhante, porque ver os actores/personagens a crescer, amadurecer em frente aos nossos olhos oferece um sentimento de realidade ao filme que é difícil de superar. Mas o que me desagradou e me fez revirar os olhos em algumas partes do filme são as ideias pseudo-intelectuais debitadas pela personagem principal na busca daquilo que o define enquanto pessoa. Talvez esteja a ser demasiado exigente e deva ter em consideração que estamos a falar de um adolescente (e é preciso sempre dar o desconto necessário a tais casos). Mas houve alturas em que realmente parece uma colecção de psicologias baratas - com particular ênfase para a cena final.
Tendo dito isto, não quero de forma alguma dissuadir quem quer que seja de ver este filme. Vale muito a pena e, como disse, a ideia que lhe serve de base é brilhante. Mas, como dizem cá por esta terra, you have to take it with a grain of salt.

Chef

Há umas semanas regressei às salas de cinema - já lá iam uns meses desde a última vez. A altura do ano não é a melhor para ver filmes de qualidade, mas já estava com saudades. O filme acordado entre todos foi este Chef, filme de e com Jon Favreau, que eu achei ser um gajo francês mas afinal é mesmo americano. O filme é uma daquelas americanadas onde tudo acaba bem e no fim eles casam, mas até é vagamente interessante à conta de girar à volta de comida e de música - e por fazer uma roadtrip pelos Estados Unidos. O "herói" reconcilia-se com a sua vocação, que é cozinhar, e ao mesmo tempo descobre o seu papel como pai. 
É um filme levezinho, que não (pre)enche muito espaço na nossa mente. Vale como entretenimento, o que já não é nada mau. E tudo está bem quando acaba bem.

Passeios pelo sol do Báltico

Riga

São Petersburgo

Tallinn

Há cerca de um mês atrás rumei a norte, para umas férias no Báltico. Terras para mim, até então, desconhecidas, o que torna a viagem imediatamente muito mais interessante. Não sabia bem com o que contar, porque o grau de preparação para a viagem foi a modos que nulo. Mas o importante é estar bem-disposta e ter um espírito aberto, não?...
A primeira paragem foi em Tallinn, capital da Estónia. Cidade muito pitoresca, cheia de torreões, qual conto de fadas. As ruas limpas e organizadas parecem mostrar que a cidade está mais do que bem preparada para receber visitantes. E, realmente, é assim que uma pessoa se sente: bem-vinda. 
Dois dias depois, ala para Riga, capital da Letónia. Apesar de ser bastante perto, é uma cidade completamente diferente: grande, muito grande, com todo o tipo de bairros, muito mais cosmopolita, por assim dizer. É uma cidade de contrastes, desde o bairro Art Nouveau, com uma colecção impressionante de edifícios desse género arquitectónico, até à "inspiração" soviética, patente um pouco por todo o lado mas mais evidentemente nos bairros a este do centro. É uma cidade muito interessante e, infelizmente, ficou muito por ver (culpa de desacertos de horários).
A última paragem foi São Petersburgo, pérola do Báltico (ou talvez não), cidade monumental fundada pelo czar Pedro, o Grande, no século XVIII. Acho que se sente que é uma cidade "recente", imponente na forma como foi construída. É sem dúvida uma cidade bonita e interessante, com o rio Neva e todos os canais. E diz que é culturalmente a cidade mais rica da Rússia. Seria, com certeza, uma cidade muito mais agradável se as pessoas fossem mais simpáticas. É, de longe, o sítio onde tive que lidar com as pessoas mais antipáticas, mal-educadas e imprestáveis (não tenho bem a certeza se esta palavra existe!), o que tornou a estadia bastante menos agradável. Ainda assim, claro que valeu imenso a pena - conhecer uma cultura diferente, sentir os traumas de um país que os tem a rodos, ver a luz do norte (que é algo de tremendamente diferente)...
No geral, foram uma belas férias, embora muito cansativas. Houve sempre sol e bom tempo, boa comida e muito passeio. E, está claro, boa companhia. Agora, só falta a praia.

Um dia em números

31 de Julho. 32 anos.

73 desejos de feliz aniversário em publicações no Facebook.
7 e-mails.
5 mensagens via Facebook.
3 sessões de Skype.
2 mensagens via Skype.
12 SMS.
3 telefonemas.
1 postal via correio.
1 postal escondido no caderno de laboratório.
2 presentes via correio.
2 presentes em mãos.
1 presente à espera durante uma semana no quarto ao lado.
10 mensagens via Whatsapp. Uma mensagem de voz com parabéns cantados pela mãe e pela irmã.
Parabéns cantados pela família pela manhã, parabéns cantados pela família ao final do dia.
Um jantar, quatro amigos.

Obrigada a todos, por fazerem de hoje um dia um bocadinho menos igual a ontem, ou amanhã.


The curious incident of the dog in the night-time

No último dia do mês de Junho chegou finalmente o dia de ver a produção teatral de um livro de que gostei muito - The curious incident of the dog in the night-time, de Mark Haddon. Estava algo expectante, mesmo curiosa, porque esta é uma das grandes produções teatrais londrinas. Não é a mesma coisa que ir ver uma peça a um teatro independente. Esta é uma daquelas peças sobre as quais toda a gente fala.
A cenografia é muito interessante, minimalista, quase a fazer lembrar Dogville - mas desta vez temos feixes luminosos em vez de giz para delimitar os espaços no chão. Visualmente, funciona muito bem. Aliás, todo o conjunto funciona muito bem, porque a banda sonora é também muito importante para veicular as dificuldades com que Christopher se depara ao enfrentar o mundo real, fora do seu Asperger. De igual modo, a forma como o palco se vai transformando para os diferentes cenários da história está muito bem conseguida.
Gostei muito. É fantástico ver o profissionalismo com que estas coisas são feitas. É quase como cinema em forma de teatro. Talvez não seja a forma mais tradicional de teatro, mais velha-guarda, mas está tão bem feito que é impossível não se gostar. E não delirar com a parte final da peça, quando já toda a gente acha que acabou... óptimo para apaixonados da matemática como eu.

Beautiful Ruins - Jess Walter

É bom regressar às leituras ávidas. Por um (longo) momento, pensei ter perdido essa capacidade. Aparentemente, não. Tenha sido o livro, a minha disposição/disponibilidade, ou a inspiração de uma cidade - Berlim. Ou talvez uma mistura de tudo isso. Certo é que foi uma semana de muita leitura, em comboios, aviões, camas e sofás. Qualquer sítio é um bom sítio. Mas deixemo-nos de coisas e vamos à história.
Beautiful Ruins é um romance sobre a indústria cinematográfica e os seus meandros. Mas também é, e talvez mais relevante, um livro sobre ambições e expectativas, sobre como se constrói uma persona e se vive através dela. No passado como hoje em dia, nomeadamente através de alter-egos criados nas redes sociais (esta última parte é um pouco extrapolada, não há qualquer referência directa). Continuando. A história de Beautiful Ruins toma parte em diversos períodos de tempo, entre o ano de 1962 e os nossos dias, seguindo personagens cujas vidas se interligam durante esses diferentes períodos, estando sempre, de uma forma ou outra, ligadas ao cinema.
Em 1962 temos uma jovem actriz americana a chegar a uma terriola recôndita do litoral italiano e a pôr tudo em reboliço. Nos dias de hoje temos um produtor decadente, a sua assistente em crise existencial e um jovem escritor que começa a perceber que é uma fraude. E sim, está tudo interligado e a acção vai saltando de sítio em sítio, de tempo em tempo - talvez com isso conseguindo manter aguçado o interesse do leitor.
Gostei muito, como dará para perceber pela rapidez da leitura. Mas não foi só pelo interesse da história ou pela forma como é contada. Foi também por haver uma mensagem de redenção, de reflexão emocional, nomeadamente sobre o que nos é importante e sobre a forma como "ambicionamos" viver as nossas vidas.
Há uma frase de que gostei particularmente: "This is what happens when you live in dreams, he thought: you dream this and you dream that and you sleep right through your life."
Deve ser por causa disso que tenho insónias.

A love supreme

Terceiro e último concerto do festival Meltdown. Domingo solarengo e quente em Londres, o que significa ruas cheias de gente e roupas mais reduzidas. Principalmente à beira-rio.

Sendo uma apreciadora de John Coltrane e do seu saxofone, fiquei particularmente interessada neste concerto, no qual seria recriado na íntegra o seu álbum de 1965, A love supreme. Fiquei um pouco menos feliz quando percebi que antes disso haveria uma primeira parte com os mesmo músicos em interpretação de géneros jazzísticos variados... A parte principal do concerto começou já tarde, mas de forma realmente interessante - como se o jazz se fundisse com world music para dar lugar a peças musicais de extrema riqueza. E assim seguiram as diferentes partes do álbum, umas vezes mais "tradicional", outras com sonoridades mais experimentais. Agora o que me tirou um bocadinho do sério foi a parte final do concerto - que nesta altura já durava há mais de duas horas - e que teve a ver com a longa duração de um poema que é ciclicamente recitado. "Elation. Elegance. Exaltation. All from God. Thank you God. Amen." Tudo bem, porque este é definitivamente um álbum espiritual. Mas estar mais de cinco minutos a repetir a mesma coisa ou é hipnotizante ou é entediante. Comigo foi mais a segunda opção. E acabei por sair da sala irritada porque já era tarde e estava a ficar atrasada para ver o jogo de Portugal no Mundial... Eu sei que devia ser mais "sofisticada", mas a verdade é mesmo assim. Continuo a gostar muito de ti, John.

Phantom - Jo Nesbo

Mais um livro de Jo Nesbo. Quase a completar a colecção, só me falta mesmo o livro mais recente, Police. Mas esse ainda só saiu em capa dura, por isso ainda não tenho. Não gosto muito desse formato, para além de ser mais caro. 
Já comentei que é algo evidente a evolução na escrita de Nesbo ao longo da saga Harry Hole. Não querendo com isso dizer que ele escreve melhor agora, mas a capacidade de criar um enredo e manter o suspense até ao fim foi melhorando de livro para livro. E este Phantom é realmente muito bom nisso. A história, que segue o regresso de Harry de Hong Kong a Oslo, envolve as redes de tráfico de droga da cidade e o assassínio de Gusto Hanssen, um toxicodependente/traficante. É um livro longo, a história intricada, com muitos pormenores. Eu, que aparentemente sou uma pessoa fácil de surpreender, fiquei um pouco espantada com o final. Até porque é um "to be continued", o que me deixa muito curiosa para ler o próximo livro. Mal posso esperar.

Junho é o mês da minha princesa



Parabéns.

(créditos à minha mãe que tirou esta fotografia tão especial)

O bocejo pretensioso

Também inserido no festival Meltdown, com escolhas musicais de James Lavelle, houve o concerto de Keaton Henson na passada segunda-feira. Nunca tinha ouvido falar do rapaz até há uns meses atrás, quando o nome apareceu no alinhamento do dito festival. A descrição de "singer-songwriter"  foi suficiente para atrair a minha atenção e resolvi arriscar e comprar um bilhete.
Não se pode sempre acertar. O rapaz não é mau, e talvez tenha sofrido da minha pouca paciência depois de assistir ao jogo Alemanha-Portugal. Mas há uma onda de pretensiosismo artístico que dura há já alguns anos (e está para durar, provavelmente) que me tira um pouco do sério, tenho que confessar. A pseudo-timidez, as costas viradas para o público enquanto toca piano, o falsetto usado e abusado... A voz de quem se esforça por não se afirmar, apostado numa aura de fragilidade. Não gosto, não tenho paciência. Falta alma e autenticidade. Até a barba exageradamente longa parece encaixar no esteticamente alternativo que está na moda.
Enfim. Não quero ser má. Há uma música ou outra que até são interessantes. Mas, no geral, não me convence.

O regresso da escuridão (ou Petite Noir ao vivo na margem sul)


Estou prestes a estabelecer uma tradição: a de ir a concertos quando a prima Carol me visita. Há um ano atrás foi Bonobo em Berlim, desta vez tivemos Petite Noir em Londres. Cidades diferentes, estilos diferentes. E desta vez tenho que dar a mão à palmatória e admitir que nem tudo era melhor em Berlim, porque se tiver que comparar estes dois concertos, tenho que dizer que gostei mais de Petite Noir. Não tem nada a ver com a cidade, é apenas um estilo musical que me agrada mais.
O concerto, inserido no festival Meltdown, foi curto. Como têm sido todos. E embora o rapaz sul-africano continue a não ter um álbum gravado, a situação só parece ajudar à aura que o acompanha - o quão cool se pode ser aos 23 anos (ou qualquer que seja a idade extremamente reduzida que o rapaz tem)?...
A música é densa, muito densa. A voz quase perfeita, a alternar entre graves e agudos sem vergonha. Não sei o que dizer. Mantenho a opinião que ficou quando o vi ao vivo, há quase dois anos, no Mexefest em Lisboa - este rapaz tem tudo para fazer sucesso. Até para criar um certo culto à sua volta. Mas bem que já gravava um álbum. Gostava de o poder ouvir mais amiúde.

Mais teatro

No início do mês regressei ao teatro. Na segunda peça do grupo de quatro Japes, das quais acabei por assistir a apenas duas... vergonha a minha.
Como vos expliquei no último post sobre esta peça, a ideia foi fazer várias versões da mesma história, seja com visões das diferentes personagens, seja com finais alternativos. Nesta parte da peça, tivemos direito a um dos finais alternativos, em que o irmão coitadinho consegue afinal singrar na vida e tornar-se uma pessoa de sucesso.
É uma produção muito interessante, intimista (mesmo na sala principal), faz o público sentir-se parte da história complicada daqueles dois irmãos. Gostei, definitivamente. Embora ainda não me tenha rendido ao teatro. Um dia destes, quem sabe.

Concerto em família


Na sexta-feira passada, fui mais uma vez até ao Barbican, desta vez para assistir ao concerto de Toumani Diabaté, o virtuoso da kora maliano, na companhia do seu filho, Sidiki. Há muito tempo que ansiava vê-lo em concerto, mas nunca tinha acontecido. Estar em Londres tem destas coisas. Há concertos para todos os gostos. 
O concerto foi lindo. Étereo. Pai e filho, cada um com a sua kora. Estilos bastante diferentes, mostrando como as interpretações da música são únicas e personalizadas. A simplicidade de dois instrumentos que, no fundo, são apenas um, tocado a quatro mãos. Gosto particularmente da abstracção que me proporciona. Uma terapia, diria.
No final do concerto, fiz fila para que me autografassem os recém-adquiridos álbuns. E qual não é o meu espanto quando, ao chegar a minha vez, tive o sr. Toumani a perguntar-me se não nos conhecíamos de algum lado... muito bom. Porque a vida tem destes momentos algo surreais. A fechar uma noite especial.

29 de Maio

29 de Maio. Um dia com significado.

Primeiro, porque é o dia de nascimento do meu avô Bernardino, que hoje faria 93 anos, se estivesse entre nós. Fisicamente, porque sinto a sua presença muitas vezes, principalmente quando as saudades apertam. De quando me chamava de "olho branco".

Depois, há o 29 de Maio de há 17 anos atrás. Por essa altura, andava a estudar para as provas globais do 9ºano. Mais precisamente, para a prova global de Físico-Química, com o primo Fernando. Ouvíamos a Antena 3, música para inspirar ao estudo. E foi nessa altura que soube da morte de Jeff Buckley. Desde então tem acompanhado a minha existência, 17 anos de cumplicidade, canções que tecem a banda sonora da minha vida adolescente e adulta. 

Por isso, 29 de Maio é um dia algo especial. Que passo com estes dois homens na cabeça - um por todas as memórias que guardo com carinho, as histórias, a boa disposição; o outro, pela música que me deixou e que dá um pouco mais de significado aos meus dias. Importâncias diferentes, mas que eles não se hão-de importar de partilhar. Onde quer que estejam.

Susheela Raman no concerto da semana

Já tinha mencionado que estava aberta a época de concertos. O que, trocado por miúdos, significa que tenho, basicamente, um concerto por semana nos próximos tempos. Cada tolo com a sua mania.
Esta semana, e no seguimento do festival Alchemy, a decorrer no Southbank Centre, fui ver Susheela Raman, cantora inglesa de origens indianas. Já a tinha visto há alguns anos, no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, e gostei muito.
Desta vez, o concerto foi um pouco diferente porque a cantora "apenas" apresentou o seu mais recente álbum, Queen Between. Achei a sonoridade um bocadinho diferente, mais ocidentalizada, por assim dizer. Mas muito interessante, sem dúvida. Repito a ideia que deixei no último post - a música tem um poder enorme em trazer bem-estar à nossa vida. E é engraçado como, mais uma vez, tinha portugueses ao meu lado num concerto no Southbank Centre. Devemos gostar todos do mesmo...

Um judeu na Índia (ou as maravilhas que se descobrem por estes lados)

Está aberta a época dos concertos. E num dia em que a preguiça fez cair a matinée teatral, o serão trouxe um belo concerto deste rapaz israelita que "emigrou" para Índia, de onde tira grande parte da inspiração para a sua música. Shye Ben-Tzur canta Qawwali, um estilo musical religioso sufista do qual Nusrat Fateh Ali Khan era um dos expoentes máximos. 
Não sei se é a dimensão poética da música que a torna tão especial. Ou o seu cariz religioso. Não sei o que é, mas sei que ressoa cá dentro da alma e me faz sentir muito, mas mesmo muito feliz. Adoro música e poder ouvir a música que gosto ao vivo. Mas há momentos em que o sentimento transcende esse gosto, e ultrapassa em muito a função de entretenimento. É difícil pôr em palavras essa sensação, por isso espero que consigam compreender ao que me refiro. Dou por mim a sorrir espontaneamente. Dou por mim a sorrir, mesmo contra a minha vontade. 

A meia idade do Kronos Quartet


O Kronos Quartet está a festejar os seus 40 anos. Bela idade, diria eu. O que melhor conheço da obra desses 40 anos são as bandas sonoras que fizeram, nomeadamente para o filme Requiem for a dream, de Darren Aronofsky. Um quarteto de cordas com um som pujante e emotivo.
No concerto que deram hoje no Barbican, o repertório era quase todo novo, ou pelo menos bastante recente. Com convidados que compuseram especialmente para eles, a diversidade foi o sentimento geral. Começaram por um conjunto de peças da autoria de Terry Reily, uma daquelas coisas altamente contemporâneas e que soam, de alguma forma, assíncronas. Como se as notas não batessem certo umas com as outras. Depois, Philip Glass, com uma composição mais melódica e mais ao jeito daquilo que reconheço com o som do quarteto. De seguida, veio o momento que mais gostei - juntou-se ao quarteto Bryce Dessner, dos The National, para a cinco tocarem as composições que Dessner fez para eles. Muito interessante e cativante. Tenho que ver se arranjo o álbum, quero ouvir com mais atenção. Depois do intervalo, um curto momento com uma composição de Jarvis Cocker, um pouco mais conceptual, para depois acabar com uma colaboração com a cantora ucraniana Mariana Sadovska, num registo muito diferente, com vocalizações a lembrar Dead Can Dance. 
Como podem perceber, houve sem dúvida espaço para um leque alargado de estilos. Gostei.

Henri Matisse: the Cut-Outs


Hoje foi dia de arte. Passeio até à Tate, para ver uma exposição dedicada ao pintor francês Henri Matisse, mais concretamente às obras que produziu por recurso à sua técnica (tardia) de corte e colagem. Desde os primeiros trabalhos, pequenas experimentações com reproduções de pinturas, até telas gigantescas cobertas de colagens coloridas, passando por ilustrações de livros e revistas e vitrais. Sim, vitrais. O senhor fez um pouco de tudo. Preenchendo paredes com cor e movimento. Com 80 anos. Impressionante, sem dúvida.
Foi um consolo para olhos (e também para alma) submergir em toda essa criatividade. Quase parece simples. Se calhar, até é bastante simples. Daí o prazer que se sente ao entrar nesse mundo. Quais crianças a brincar com papéis coloridos e tesouras. Fosse assim a vida.

Nemesis - Jo Nesbo

Como seria de prever, o regresso a livros policiais, particularmente tratando-se de uma obra de Jo Nesbo (mais de um ano depois), quebrou o enguiço das leituras prolongadas. Parece ser uma receita de sucesso, sem lugar para falhas. Duas semanas bastaram para devorar as 700 páginas de Nemesis, capítulo quatro da saga Harry Hole. Desta vez, o carismático investigador da polícia vê-se a braços com uma morte ocorrida durante um assalto a um banco. Claro que o crime tem ramificações inesperadas e mantém o suspense quase até ao fim, mas tenho que confessar que desta vez já não achei tão interessante como é costume. Talvez seja por ter começado a ler esta saga pelos capítulos mais recentes, as obras anteriores parecem-me um pouco naïves em determinados pormenores... Talvez um dia tenha tempo e vontade para ler os livros todos pela ordem certa. Mas, para já, continuo numa espécie de leitura hop-on hop-off. Viagem turística pela obra de Jo Nesbo. :)

Berlin 1961 - Frederick Kempe

Novamente, demorei cerca de 3 meses para ler um livro. Não houve falta de interesse, quanto muito houve falta de tempo...
Berlin 1961 foi dos livros mais interessantes que já li. E há várias razões para isso. Primeiro (e talvez a razão mais importante), pelo tema - o livro concentra-se nos acontecimentos políticos de 1961 que levaram à construção do muro de Berlim. E este é um dos temas histórico-políticos que mais desperta o meu interesse, talvez pelo facto da queda do muro ser o primeiro acontecimento histórico do qual tenho memória (tinha 7 anos no ido ano de 1989). Mas também pelas marcas que o muro deixou, não só em Berlim, como em toda a Alemanha e também na Europa. Na minha cabeça, e até ler este livro, era um acontecimento sem explicação - um muro a dividir uma cidade a meio. Porquê?

Logo por aqui, podem perceber que a motivação para ler este livro era muita. E muito aprendi ao lê-lo. Como por exemplo, que a construção do muro não foi uma inevitabilidade, como Kennedy provavelmente achou (o presidente americano chegou a dizer que comparativamente à alternativa - guerra nuclear - um muro em Berlim foi uma solução pacífica). Mas mais provavelmente o fruto das personalidades de Khrushchev e Kennedy em conflito. Principalmente, fica a ideia que há acontecimentos mundiais que são quase fortuitos. Aleatórios. Joga-se a vida de gerações de pessoas sem praticamente medir consequências. Aconteceu na altura, como acontece hoje em dia. E continuará a acontecer. Mas vale a pena perceber porque e como se chega a tais situações. Por isso, não posso recomendar mais vivamente a leitura deste livro. Creio que está escrito de forma bastante neutra, por um filho de pais alemães nascido nos Estados Unidos da América, para sempre marcado pelas consequências da Guerra Fria.

Porque a alienação não é forma de vida.

Turner & The Sea

Aproveitando a visita dos primos, foi tempo de ir até Greenwich visitar o Museu Marítimo e a exposição que por lá tem estado patente, Turner & the Sea.
Turner é um pintor que faz parte do meu imaginário de adolescente, associado aos manuais de Português, onde invariavelmente via as suas obras associadas a temáticas relacionadas com os Descobrimentos e a relação dos escritores portugueses com o mar. Nem a propósito. Turner é realmente um pintor algo obcecado com o mar.
A exposição ofereceu um leque alargado das suas obras, mas também algumas de pintores que o influenciaram. Telas a óleo, aguarelas, pequenos, médios e grandes formatos, teve um pouco de tudo. Confesso que não gostei particularmente das aguarelas, demasiado minuciosas para o estilo. O que mais me agradou, e que é algo de característico em Turner, foi a forma como consegue capturar a luz de uma cena e, através do uso dos brancos, transmitir um grau de luminosidade dificilmente visto neste género de pintura. Gostei.

Aos 8 meses, o teatro

Finalmente uma ida ao teatro, nesta cidade onde parece ser essa a forma artística primordial. Depois de uma tentativa falhada, consegui ver o segundo capítulo deste "Vale of Health", um conjunto de quatro peças de Simon Gray em cena no Hampstead Theatre. As peças, todas interligadas, são baseadas numa peça original intitulada Japes. Depois, essa história, que segue dois irmãos e a complicada vida que os une, foi explorada através de opções alternativas e pontos de vista paralelos - cada um originando uma peça complementar. A tal que perdi foi mesmo o original Japes (irmão mais novo). Desta vez, tivemos direito a Michael (irmão mais velho). As perspectivas são diferentes e é suposto criarem um todo que permite melhor perceber (e completar) o original. Para já, ainda não sei. Em Maio há mais peças. Mas gostei muito de Michael e da forma como a representação é real e próxima do público. Para repetir, definitivamente.

Bill Evans and The Impressionists (ou as saudades que tinha de ouvir música clássica)

Mais uma ida ao Barbican (quem ler estas minhas "crónicas" deve começar a achar que é o meu sítio favorito em Londres... não anda muito longe), desta vez para um concerto um pouco diferente. O espectáculo, algures entre a música clássica e o jazz, juntou um um trio de jazz (Kate Williams Trio) e uma orquestra sinfónica (Guildhall School), numa homenagem ao pianista Bill Evans, mas passando também por obras dos ditos impressionistas franceses, como Ravel, Debussy ou Satie. As obras de um e outros têm, pelos vistos, pontos de contacto. Assim pareceu realmente, porque o conjunto global pareceu bastante homogéneo e definitivamente muito interessante. Gostei muito. Há algo neste tipo de espectáculos de terapêutico. O cérebro esquece-se de tudo o resto e voa para longe, tão longe quanto a imaginação assim permitir... Já tinha saudades.

The Grand Budapest Hotel

Um dos meus realizadores favoritos está de volta (podem espreitar Moonrise Kingdom e The Darjeeling Limited em publicações anteriores). Não vou afirmar novamente o quanto gosto de Wes Anderson e da sua estética de realização (que gosto muito), sob pena de me tornar repetitiva. Faço antecipadamente um mea culpa caso venham a ler esta minha opinião e a não concordar - acho que não consigo ser muito imparcial no que diz respeito aos filmes dele. Já não sei dizer se são bons ou maus, ou pelo menos tenho tido dificuldade em fazê-lo, porque gosto sempre muito. Este The Grand Budapest Hotel não é excepção, embora seja um pouco diferente, ainda assim. Menos focado em relações interpessoais disfuncionais (para mim o tema mais bem abordado por Anderson), com um humor algo negro, a contrastar com o colorido dos cenários. Banda sonora impecável, como de costume. Um rol de actores tão bons e famosos que o espectador até fica confuso. Com Ralph Fiennes num registo algo inesperado. E a certeza (porque não pode ser de outra forma) de que esta gente se há-de divertir imenso a fazer estes filmes. Até fico com inveja. 

(Não falo sobre a história porque não quero em momento algum antecipar o impacto que é ver um filme assim sem expectativas.)

Fim-de-semana de cultura e amizade


Vão lá cerca de 3 semanas desde que recebi a primeira visita "oficial" de 2014. Quero com isto dizer a visita de alguém que veio de outro país para estar comigo. E pronto, talvez para ver Londres também.
Sendo a visitante quem era, outra coisa não se poderia esperar que não um fim-de-semana intensivo, repleto de exposições e com visita aos lugares mais interessantes da capital inglesa. Passamos pela Tate Modern, pela Royal Academy of Arts, pela BFI... Acumulando saber, fotografias e postais! Gostei particularmente da exposição de arquitectura Sensing Shapes, patente na RA. Com instalações que incluem trabalhos de Souto Moura e Siza Vieira, desafia a percepção que temos da arquitectura e da sua funcionalidade. Não quero maçar-vos com demasiados pormenores, mas apenas vos digo que é muito bom ter visitas assim, que nos levam a explorar a cidade em que vivemos, à procura de novos lugares e novas vivências. E que nos fazem quebrar a rotina. Obrigada.

Voices for Cuba ou uma noite de música politizada

O evento estava descrito como "Voices for Cuba: an evening of music and spoken word". Com a minha habitual distracção, não li mais do que isto e foi suficiente para ficar interessada em passar esse serão no Barbican. O que não poderia antever é que esta seria, acima de tudo, uma noite politizada. O evento musical tinha como objectivo alertar para e apoiar a causa de cinco cubanos presos nos Estados Unidos por alegadamente serem espiões ao serviço do governo cubano, infiltrados em organizações anti-cubanas americanas (simplisticamente, parece-me que o caso é mais ou menos este). Os cinco cubanos foram sumariamente julgados e condenados em Miami a penas de duração variável, situação que foi alvo de muitas críticas internacionalmente. Dois foram, entretanto, libertados, por terem servido as suas penas (a condenação data de 2001, se não estou em erro). Os três que continuam presos servem penas bastante superiores, pelo que organizações não-governamentais continuam a lutar pela sua libertação e/ou direito a um julgamento justo.
Claro que eu nada sabia sobre isto. E, mesmo agora, pouco sei. Não gosto de ver situações unilateralmente, tal como não gosto de ter pouca informação em assuntos deste género. Por isso, não vou fazer "juízos de valor", daí esperando que esta breve descrição tenha sido o mais neutra possível.
A música, essa, foi muito agradável. Sinto que, por vezes, me fazem falta esses ritmos mais quentes... o bambolear natural do corpo... estarei com saudades de casa?

Dez anos depois


Dez anos depois, o regresso à capital irlandesa. Então Março, desta feita Fevereiro. Duas semanas depois e teria sido o "círculo perfeito". 
Embora comece este post de forma algo enigmática, a minha segunda visita a Dublin foi planeada calmamente, tendo como objectivo a visita a uma amiga querida que lá está a morar. Sabem alguns que a primeira visita foi rodeada de contornos improváveis, como os atentados de Madrid a acontecerem no mesmo dia em que voei para lá. Será uma viagem para nunca esquecida. Ou, pelo menos, enquanto a memória durar. Ou isso era o que eu achava. Porque o regresso a Dublin mostrou-me que, afinal, havia todo um conjunto de memórias de alguma forma recalcadas no meu subconsciente, e que, claro está, resolveram ver a luz do dia ao voltarem a esses lugares familiares! Assim, aquele cujo plano era ser um fim-de-semana entre amigas, viu-se agitado por um turbilhão de emoções. A cada passo, a exclamação "mas eu já estive aqui!" - o que se tornou com certeza maçador a determinada altura (desculpem, meninas). Qual foi, então, a minha visão da cidade passada uma década? Dublin mudou provavelmente, assim como eu também mudei. Achei a cidade um pouco triste, talvez dado o tempo cinzento. Cara, muito cara (e para quem mora em Londres isso quererá dizer muito). Mas também aprendi, não pela primeira vez mas talvez com mais atenção, um pouco da história da cidade, do país e do seu povo. E não é uma história fácil. Visitei sítios que não conhecia. Tirei muitas fotografias (a preto-e-branco, a condizer com o sentimento geral). Calcorreei a cidade para visitar museus que estavam fechados (malditas segundas-feiras). E cheguei à conclusão que a Irlanda tem que ser um país muito especial, a julgar (quanto mais não seja) pela quantidade de escritores fantásticos que já ofereceu ao mundo (de leitores ávidos, como eu).
Foi um bom fim-de-semana, para repetir com certeza. Que se está aqui tão perto.
Ah, e finalmente percebi a geografia da cidade. Ao fim de dez anos.

Her

Na semana passada houve nova ida ao cinema. A ideia original era ver o Dallas Buyers Club, mas acabamos por ir ver este Her, o mais recente filme de Spike Jonze. A premissa de juntar Jonze na realização e Joaquin Phoenix na interpretação é sem dúvida interessante e promissora, conhecido que é o registo de "estranheza" que ambos partilham.
Nesse respeito, Her não desiludiu. Mas vamos, então, à história. Estamos em 2025. Theodore é um homem calmo a atravessar um doloroso processo de divórcio. Decide comprar um novo sistema operativo, o qual tem capacidades evolutivas e de adaptação ao utilizador. Por iniciativa de Theodore, o seu terá uma voz feminina e escolhe para si próprio o nome de Samantha. Claro que, após esta interacção inicial, ficamos logo a perceber que a relação entre os dois, Theodore e o sistema operativo Samantha, será especial. Mas não faz mal, essa é a ideia principal do filme: um homem que se apaixona e enceta uma relação com o seu sistema operativo.
Ok, claro que é estranho. Mas vamos por partes. Primeiro, o filme em si - a interpretação de Phoenix é muito boa, para ser comedida nos elogios, principalmente se consideramos que ele representa sozinho na grande parte das cenas. Há nele uma fragilidade latente quase irresistível. Depois, a estética - no futuro, tudo é retro, desde a decoração ao vestuário. E terrivelmente colorido. Como se o futuro fosse uma combinação dos anos 1960 com tecnologia de ponta. Por último, e deveras interessante, é a parte de crítica social subjacente ao tema abordado (e aqui tenho que fazer a ressalva de esta ser a minha interpretação muito pessoal do filme) - a falta de comunicação e envolvimento emocional que carateriza as relações humanas de hoje em dia, em detrimento de interacções mais distantes e emocionalmente resguardadas em formato "digital". Apesar de ter à distância de uma mão relações possíveis e com sentido, Theodore "prefere" embarcar numa relação com o seu sistema operativo. E porquê? A meu ver, a resposta é relativamente simples. Porque, no seu sistema operativo, Theodore tem "alguém" que é uma imagem daquilo que ele procura. Adaptado a ele. Sem conflitos, sem voltes de face. E isso é algo que considero muito comum hoje em dia - a cedência ao facilitismo, como se tudo o que custe um bocadinho não valesse a pena o esforço. Eu, como sou da escola contrária, acho isso uma tremenda parvoíce. Mas a ver vamos. O filme, esse, vale muito a pena.

The book thief

Na semana passada fui ao cinema à borla. Foi, aliás, a primeira borla do género em Londres. Mas o mérito não é meu - a minha colega de casa ganhou bilhetes para a ante-estreia deste "The Book Thief" (em português, "A rapariga que roubava livros"), e eu fui acompanhar. 
Tenho que dizer que as opiniões que chegaram até mim sobre o filme não eram as melhores. Isto vindo de pessoas que leram o livro e que ficaram tremendamente desiludidas (para dizer o mínimo) com a adaptação cinematográfica. Eu que não li o livro, não posso fazer comparações. Mas posso dizer que não fiquei muito entusiasmada com a versão que chegou aos cinemas. Primeiro, a temática Segunda Guerra Mundial não é algo que me interesse particularmente, para além de estar um bocadinho gasta em termos de cinema (veja-se que, neste momento, há pelo menos um outro filme em exibição que retrata a mesma época, ainda que focado em temas diferentes). Segundo, e motivações à parte, o filme tem "tiques" que me desagradam profundamente, como por exemplo o facto de todas as personagens falarem inglês com pronúncia alemã. Já vi isto acontecer em muitos filmes, mas continuo a achar que não faz sentido - ou bem que o filme é em alemão (língua original das personagens), ou bem que é em inglês. Maneirismos linguísticos é algo que não me agrada. O que faz com que tenha ficado de pé atrás desde o início do filme.
Os dois pontos que foco são provavelmente a razão de não ter gostado nem desgostado do filme. Não me disse muito. Não me despertou interesse. Pela positiva, as interpretações de Geoffrey Rush e Emily Watson são muito boas. Valha-nos isso. Porque, ainda para mais, o filme é longo.

12 Years a Slave

E passada uma semana, lá voltamos ao cinema para finalmente ver o mais recente filme de Steve McQueen, 12 Years a Slave.
As expectativas eram algumas, pelo historial do realizador mas também pelas críticas lidas aqui e acolá (e também passadas por amigos). Assim, sendo que é um filme muito bem feito, tanto em termos de realização como em termos de representação, soube a pouco. A história, embora com contornos diferentes, já foi filmada antes. Vezes e vezes. A escravatura é um tema recorrente no cinema, ainda que aqui seja contada pela perspectiva de um homem livre que é raptado e escravizado. Durante 12 anos. Até chegar o momento em que semelhante situação desumana conhece o seu fim.
Perdoem-me se demonstro pouca sensibilidade para o tema. É terrível, eu sei, sinto-o com a cabeça e com o coração. Mas não consigo propriamente criar um vínculo.
Talvez o que mais me tenha desiludido foi o facto de ser um filme "normal". Os anteriores filmes de McQueen foram nitidamente fora da norma, chocantes mas verdadeiros. Este tem isso tudo, mas a falar sobre algo que já tínhamos visto antes.
Se é um bom filme? Claro que é. E vale a pena uma ida ao cinema. Mas não vai para a lista dos que mais me marcaram.

The hundred-year-old man who climbed out of the window and disappeared - Jonas Jonasson

4 meses. Foi esse o tempo que me levou a ler este livro. Comecei no ido mês de Outubro, depois de ter voltado de Portugal. Comprei-o porque achei que tinha um título sugestivo. Chamou-me a atenção (às vezes, é assim que acontece). No entanto, quando o comecei a ler, não consegui sentir-me motivada pela história de Allan Karlsson, que no dia em que completa 100 anos se resolve pôr em fuga do lar onde vive. Há todo um desenrolar de peripécias que, pura e simplesmente, não estava a fazer sentido na minha cabeça. Não conseguia perceber qual o objectivo. Passei semanas a engonhar, praticamente sem pegar no livro. Até que, há cerca de duas semanas atrás, resolvi que tinha que resolver o assunto. E, de repente, foi como se tivesse lançado um novo olhar ao livro e a motivação apareceu. A história de vida de Allan Karlsson, que vai entrelaçando o "presente", percorre todos os maiores eventos históricos do século XX - com Allan a participar activamente em todos eles! Assim, para além do entretenimento, temos também umas lições históricas pelo meio, colocadas de forma despreocupada e divertida. Quando finalmente percebi este pequeno "pormenor" do livro, passei a gostar muito mais e, no final, foi um livro que gostei bastante de ler.

Brighton & Seven Sisters


No fim-de-semana passado, e aproveitando o tempo não muito agreste (o que, para estes lados, quer dizer que não chove), resolvemos dar um passeio e explorar um pouco o que há à volta de Londres, a uma distância que permita fazer passeios de um dia. E a decisão recaiu sobre o Parque Natural de Seven Sisters e a cidade vizinha, Brighton.
O Parque Natural de Seven Sisters é um dos lugares mais emblemáticos de Inglaterra, com as suas falésias brancas a formar sete colinas. Daí o nome, Seven Sisters (se calhar há alguma lenda que envolve sete irmãs, mas disso já não sei). É uma zona muito bonita para se fazer umas caminhadas, mesmo em Janeiro, com frio e vento (desde que não chova, está claro). É também, aparentemente, um dos lugares mais procurados para suicídios... faz sentido. 
O acesso ao parque, para quem não tem carro, é feito através de uma das duas cidades vizinhas, Brighton e Eastbourne. No nosso caso, preferimos Brighton porque é de mais rápido acesso a partir de Londres. Mas também porque desde que li o livro Sweet Tooth, de Ian McEwan, que tinha uma grande curiosidade em conhecer esta cidade.
Brighton é uma típica cidade costeira, com aquele sentimento de desolação característico durante os meses de Inverno. O qual acho tão charmoso e do qual gosto tanto. A nostalgia inspira-me. Tive pena em ver que o velho pontão da cidade está semi-destruído pelo mar (altamente fotogénico), e não visitei o novo. Mas o passeio pela beira-mar rendeu um belo espólio fotográfico, o qual me deixou bastante satisfeita. 
Foi também muito bom voltar a ver o mar. Ou deveria antes dizer o oceano. Porque não é propriamente a mesma coisa. A energia do oceano no Inverno é, ao mesmo tempo, calmante e revigorante. A uma distância respeitadora, claro está!
Em suma, um dia muito bem passado.


Época Natalícia: o regresso a casa (ou Ode à família)


Como referi na minha nota de fim-de-ano, isto de ser emigrante tem os seus quês. Como, por exemplo, transformar as reuniões familiares em acontecimentos escassos e, como tal, muito valiosos. Claro que as minhas idas a Portugal giram em volta da família, apesar do esforço em estar, o mais possível, com os amigos. Este Natal que passou não foi excepção. Foi o meu primeiro Natal desde que saí do país. Um Natal quase em contra-relógio, com a sombra do iminente regresso a Londres... Mas não por isso menos aproveitado. 
Enche-me a alma tudo o que diz respeito aos meus sobrinhos e este Natal foi indubitavelmente deles. Até porque foi o primeiro "a dois". Claro que é triste não poder acompanhar o crescimento diário deles, principalmente do pequeno M., a quem só vou vendo aos soluços. As saudades que tenho de o abraçar no meu colo... Valha-nos as tecnologias e a Páscoa que não tarde está aí. Para mais uma vez rumar a sul, para o quentinho de casa.

The Railway Man

Para primeiro filme do ano, o plano era ver o mais recente de Steve McQueen, 12 Anos de Escravo. Mas um pequeno erro de cálculo (ou deveria antes chamar-lhe excesso de confiança) fez com que já não houvesse bilhetes disponíveis quando chegamos ao cinema... Como plano B, optámos por ver este The Railway Man. Não sabia praticamente nada sobre o filme, para além de que contava com Colin Firth e Nicole Kidman nos papéis principais. Sendo eles bons actores, podia então extrapolar-se que o filme também seria bom. Ou pelo menos aceitável. 
Não tendo sido o melhor filme que já vi, é bastante razoável. A história é interessante - Colin Firth interpreta a versão mais velha de um soldado britânico que lutou na Segunda Guerra Mundial e foi feito prisioneiro, tendo sido obrigado a trabalhar na construção do caminho-de-ferro entre a Tailândia e a Birmânia. Como engenheiro que era, a construção clandestina de um rádio (para se poderem manter informados sobre o desenvolvimento da guerra) leva-o à tortura pelas mãos de um jovem soldado japonês. Nos seus cinquenta anos, Firth vive atormentado pelas memórias da guerra, o que conduz à deterioração da relação com a sua recente esposa (interpretada por Kidman). Kidman tenta perceber o que atormenta o marido, e é assim que nós iremos conhecer a realidade que ficou lá na década de 1940 - mas que perseguiu os seus intervenientes até aos dias correntes.
Não quero desvendar mais da história do que já fiz, mas é um filme interessante e focado numa realidade para mim desconhecida (a da construção do caminho-de-ferro e utilização de prisioneiros de guerra para o efeito). Por isso, cumpre a premissa de fazer o espectador (neste caso, eu) aprender alguma coisa. Mas não só. É um filme baseado numa história verídica de crueldade e perdão, na história de um homem que era um entusiasta de comboios. E os comboios são entusiasmantes, sem dúvida.
Quanto ao 12 Anos de Escravo, fica para a próxima semana. Se tudo correr bem.