2013

Sendo hoje o último dia de 2013, segundo o calendário que seguimos, aproveito o momento para fazer alguma reflexão sobre o ano que agora termina.

2013 foi um ano repleto de acontecimentos e mudanças. 3 meses em Portugal, 4 e 1/2 meses em Berlim, 4 e 1/2 meses em Londres. Muito saltitei de canto para esquina este ano. Tal facto trouxe consigo inúmeras experiências, boas e más. Conheci muitas pessoas novas, espero ter feito algumas amizades. Ao mesmo tempo, distanciei-me de pessoas muito próximas no passado. A distância física traz, infelizmente, distância emocional em muitos casos. Com isso, sofri bastante. Como também sofri com as provações que 2013 insistiu em trazer. Foi um ano de sustos, um ano de perdas. Mas também o ano do nascimento do meu segundo sobrinho, um acontecimento maravilhoso.
2013 foi um ano rico, disso não haja dúvidas. Mas muito difícil. 

A época de Natal em Portugal, que para mim terminou ontem, fez-me perceber diversas coisas. Por exemplo, parece-me que finalmente me dei conta que sou uma emigrante. Ainda mais expatriada do que antes, sou agora um pouco estranha ao país onde nasci. Parece-me que não pertenço a lado algum... No entanto, foi muito bom sentir o carinho de todos aqueles que, num esforço colectivo, disponibilizaram um pouco do seu tempo para estar comigo. Apesar das correrias entre Carcavelos, Lisboa, Porto, Cinfães e Coimbra, foi muito bom ver caras familiares. E sentir que o carinho e amizade poderão, eventualmente, sobreviver à distância. 

Termino, então, 2013 com a tentativa de preencher um vazio que teima em reinar no meu peito. Procuro focar-me nos momentos que venho de viver, mas também no que o novo ano me reservará - obviamente na esperança de que seja um ano bom e mais calmo. São, igualmente, esses os meus votos para aqueles que lêem estas linhas.

Em 2014 espero abraçar com mais convicção esta que é a minha nova etapa, profissional e pessoal. Descobrir Londres e aprender a gostar mais da cidade. Fazer novos amigos e usufruir da companhia dos velhos. Conhecer novos sítios. E, nas entrelinhas, ir sendo feliz com esta vida que é a minha.

"The Love Song of R. Buckminster Fuller" com música ambiente dos Yo La Tengo

Pouco tempo depois do concerto de Archie Shepp, rumei novamente até ao Barbican. Desta vez o programa foi um pouco diferente, não se tratou propriamente de um concerto, mas do visionamento de um documentário sobre R. Buckminster Fuller, musicado ao vivo pelos Yo La Tengo (os quais vi pela primeira vez no passado mês de Março). A ideia pareceu-me interessante, mesmo não sabendo quem era esse tal R. Buckminster Fuller.
Buckminster Fuller foi, acima de tudo, um visionário. Acho que esse adjectivo lhe faz jus. Nitidamente obsessivo-compulsivo, o senhor resolveu guardar em arquivo tudo, mas literalmente tudo, o que descrevesse os seus dias - notas, recibos, fotografias, etc. E fez isto durante mais de 50 anos, se não estou em erro. Foi precisamente esse acervo que permitiu a Sam Green realizar este documentário, adequadamente intitulado "The love song of R. Buckminster Fuller". E com isto tudo, ainda não disse o que o senhor fazia. As suas maiores obras foram, provavelmente, em arquitectura, mas não a ela limitadas. Buckminster Fuller desenhou, por exemplo, a mundialmente famosa cúpula geodésica (que se pode ver na fotografia). Para além disso, o senhor foi um inventor, com mais de 25 patentes certificadas. Interessante foi também ver/ouvir os Yo La Tengo, completamente relegados para 2º ou 3º plano (talvez se sintam mais à vontade nesse lugar...), executar de forma meticulosa o acompanhamento musical ao documentário. Resultou muito bem, muito embora me sinta vagamente traída porque, no final, de Yo La Tengo houve muito pouco.
Foi muito inspirador assistir a este documentário. Não porque me faça de alguma forma sonhar com outras formas de vida, mas porque é inspirador perceber como a vida de alguém (ou de cada um) percorre uma determinada direcção. No caso deste algo excêntrico senhor, aprendi muito. E isso é sempre um bom programa de domingo à tarde.

Visita com direito a concerto (ou o fim de tarde no Barbican a ouvir Archie Shepp)

Com o ano a chegar ao fim, há que arranjar um pouco de tempo para pôr alguma ordem neste blog. Não posso entrar em 2014 com posts em atraso!

No final de Novembro tive direito a uma outra visita, desta vez de um amigo de longa data. O tempo foi curto, mas deu para um dia bem passado, entre brunch, passeio por Hampstead Heath, chá das cinco, e concerto de jazz ao final do dia. Planeado com bastante antecedência, o concerto de Archie Shepp e a sua Attica Blues Orchestra foi ainda melhor do que antecipado. O saxofonista de 76 anos, figura algo mítica do panorama jazzístico, proporcionou-nos uma verdadeira festa durante cerca de 2 horas - os músicos que o acompanham são fantásticos, o ambiente animadíssimo, e de repente o mundo parece um sítio melhor. A música tem realmente um poder muito grande. Seja de nos emocionar ou de nos transportar no espaço e no tempo, é bom sentir esse poder de vez em quando. Porque a música ainda é capaz de chegar aos recantos mais escusos daquilo a que chamamos alma e porque a alma ainda ressoa com esse toque. E fica feliz.