12 Years a Slave

E passada uma semana, lá voltamos ao cinema para finalmente ver o mais recente filme de Steve McQueen, 12 Years a Slave.
As expectativas eram algumas, pelo historial do realizador mas também pelas críticas lidas aqui e acolá (e também passadas por amigos). Assim, sendo que é um filme muito bem feito, tanto em termos de realização como em termos de representação, soube a pouco. A história, embora com contornos diferentes, já foi filmada antes. Vezes e vezes. A escravatura é um tema recorrente no cinema, ainda que aqui seja contada pela perspectiva de um homem livre que é raptado e escravizado. Durante 12 anos. Até chegar o momento em que semelhante situação desumana conhece o seu fim.
Perdoem-me se demonstro pouca sensibilidade para o tema. É terrível, eu sei, sinto-o com a cabeça e com o coração. Mas não consigo propriamente criar um vínculo.
Talvez o que mais me tenha desiludido foi o facto de ser um filme "normal". Os anteriores filmes de McQueen foram nitidamente fora da norma, chocantes mas verdadeiros. Este tem isso tudo, mas a falar sobre algo que já tínhamos visto antes.
Se é um bom filme? Claro que é. E vale a pena uma ida ao cinema. Mas não vai para a lista dos que mais me marcaram.

The hundred-year-old man who climbed out of the window and disappeared - Jonas Jonasson

4 meses. Foi esse o tempo que me levou a ler este livro. Comecei no ido mês de Outubro, depois de ter voltado de Portugal. Comprei-o porque achei que tinha um título sugestivo. Chamou-me a atenção (às vezes, é assim que acontece). No entanto, quando o comecei a ler, não consegui sentir-me motivada pela história de Allan Karlsson, que no dia em que completa 100 anos se resolve pôr em fuga do lar onde vive. Há todo um desenrolar de peripécias que, pura e simplesmente, não estava a fazer sentido na minha cabeça. Não conseguia perceber qual o objectivo. Passei semanas a engonhar, praticamente sem pegar no livro. Até que, há cerca de duas semanas atrás, resolvi que tinha que resolver o assunto. E, de repente, foi como se tivesse lançado um novo olhar ao livro e a motivação apareceu. A história de vida de Allan Karlsson, que vai entrelaçando o "presente", percorre todos os maiores eventos históricos do século XX - com Allan a participar activamente em todos eles! Assim, para além do entretenimento, temos também umas lições históricas pelo meio, colocadas de forma despreocupada e divertida. Quando finalmente percebi este pequeno "pormenor" do livro, passei a gostar muito mais e, no final, foi um livro que gostei bastante de ler.

Brighton & Seven Sisters


No fim-de-semana passado, e aproveitando o tempo não muito agreste (o que, para estes lados, quer dizer que não chove), resolvemos dar um passeio e explorar um pouco o que há à volta de Londres, a uma distância que permita fazer passeios de um dia. E a decisão recaiu sobre o Parque Natural de Seven Sisters e a cidade vizinha, Brighton.
O Parque Natural de Seven Sisters é um dos lugares mais emblemáticos de Inglaterra, com as suas falésias brancas a formar sete colinas. Daí o nome, Seven Sisters (se calhar há alguma lenda que envolve sete irmãs, mas disso já não sei). É uma zona muito bonita para se fazer umas caminhadas, mesmo em Janeiro, com frio e vento (desde que não chova, está claro). É também, aparentemente, um dos lugares mais procurados para suicídios... faz sentido. 
O acesso ao parque, para quem não tem carro, é feito através de uma das duas cidades vizinhas, Brighton e Eastbourne. No nosso caso, preferimos Brighton porque é de mais rápido acesso a partir de Londres. Mas também porque desde que li o livro Sweet Tooth, de Ian McEwan, que tinha uma grande curiosidade em conhecer esta cidade.
Brighton é uma típica cidade costeira, com aquele sentimento de desolação característico durante os meses de Inverno. O qual acho tão charmoso e do qual gosto tanto. A nostalgia inspira-me. Tive pena em ver que o velho pontão da cidade está semi-destruído pelo mar (altamente fotogénico), e não visitei o novo. Mas o passeio pela beira-mar rendeu um belo espólio fotográfico, o qual me deixou bastante satisfeita. 
Foi também muito bom voltar a ver o mar. Ou deveria antes dizer o oceano. Porque não é propriamente a mesma coisa. A energia do oceano no Inverno é, ao mesmo tempo, calmante e revigorante. A uma distância respeitadora, claro está!
Em suma, um dia muito bem passado.


Época Natalícia: o regresso a casa (ou Ode à família)


Como referi na minha nota de fim-de-ano, isto de ser emigrante tem os seus quês. Como, por exemplo, transformar as reuniões familiares em acontecimentos escassos e, como tal, muito valiosos. Claro que as minhas idas a Portugal giram em volta da família, apesar do esforço em estar, o mais possível, com os amigos. Este Natal que passou não foi excepção. Foi o meu primeiro Natal desde que saí do país. Um Natal quase em contra-relógio, com a sombra do iminente regresso a Londres... Mas não por isso menos aproveitado. 
Enche-me a alma tudo o que diz respeito aos meus sobrinhos e este Natal foi indubitavelmente deles. Até porque foi o primeiro "a dois". Claro que é triste não poder acompanhar o crescimento diário deles, principalmente do pequeno M., a quem só vou vendo aos soluços. As saudades que tenho de o abraçar no meu colo... Valha-nos as tecnologias e a Páscoa que não tarde está aí. Para mais uma vez rumar a sul, para o quentinho de casa.

The Railway Man

Para primeiro filme do ano, o plano era ver o mais recente de Steve McQueen, 12 Anos de Escravo. Mas um pequeno erro de cálculo (ou deveria antes chamar-lhe excesso de confiança) fez com que já não houvesse bilhetes disponíveis quando chegamos ao cinema... Como plano B, optámos por ver este The Railway Man. Não sabia praticamente nada sobre o filme, para além de que contava com Colin Firth e Nicole Kidman nos papéis principais. Sendo eles bons actores, podia então extrapolar-se que o filme também seria bom. Ou pelo menos aceitável. 
Não tendo sido o melhor filme que já vi, é bastante razoável. A história é interessante - Colin Firth interpreta a versão mais velha de um soldado britânico que lutou na Segunda Guerra Mundial e foi feito prisioneiro, tendo sido obrigado a trabalhar na construção do caminho-de-ferro entre a Tailândia e a Birmânia. Como engenheiro que era, a construção clandestina de um rádio (para se poderem manter informados sobre o desenvolvimento da guerra) leva-o à tortura pelas mãos de um jovem soldado japonês. Nos seus cinquenta anos, Firth vive atormentado pelas memórias da guerra, o que conduz à deterioração da relação com a sua recente esposa (interpretada por Kidman). Kidman tenta perceber o que atormenta o marido, e é assim que nós iremos conhecer a realidade que ficou lá na década de 1940 - mas que perseguiu os seus intervenientes até aos dias correntes.
Não quero desvendar mais da história do que já fiz, mas é um filme interessante e focado numa realidade para mim desconhecida (a da construção do caminho-de-ferro e utilização de prisioneiros de guerra para o efeito). Por isso, cumpre a premissa de fazer o espectador (neste caso, eu) aprender alguma coisa. Mas não só. É um filme baseado numa história verídica de crueldade e perdão, na história de um homem que era um entusiasta de comboios. E os comboios são entusiasmantes, sem dúvida.
Quanto ao 12 Anos de Escravo, fica para a próxima semana. Se tudo correr bem.