Juliet, Naked - Nick Hornby


Ir a Paris e não ir à Gibert Joseph ou à Gibert Jeune é quase como cometer uma heresia. E, lá estando, é um pecado não comprar um livro em 2ª mão (ou 1ª, caso não se encontre nada de jeito).

Desta vez, a passagem pela Gibert Joseph foi muito rápida (lá está, só porque seria uma heresia não entrar), e dela saiu a compra deste Juliet, Naked, em 2ª mão claro está, última obra desse autor que eu tanto gosto, à custa de umas e outras (não é, Meninha?!?). Última obra que já data de 2009, mas que eu ainda não tivera oportunidade de ler.
Ora bem, este é um típico livro de Hornby, que escreve, maioritariamente, sobre relações e pessoas (complicadas em ambos os casos). Como provavelmente já deram conta, são temas com os quais me identifico muito. Mas voltemos ao livro.
Juliet, Naked conta a história de Annie, rapariga perto dos 40 anos, que namora há mais tempo do que gostaria de admitir com Duncan, um obcecado por Tucker Crowe, músico que abandonou a sua carreira há cerca de 20 anos, sendo que ninguém sabe o que lhe aconteceu desde então. A relação entre os dois é morna-morna, como duas pessoas que se habituaram a estar juntas porque nunca se deram ao trabalho de ver se há mais mundo lá fora... Lá estão os ingredientes favoritos de Hornby: relações complicadas e música (porque a música tem sempre um certo poder redentor no meio da confusão). Ao fim desses quase 20 anos, Tucker (ou, melhor, a sua editora) lança "Juliet, Naked", um disco de versões em bruto das músicas presentes na sua "obra prima", Juliet, disco dedicado à relação falhada que teve com uma modelo inglesa. Duncan recebe, em primeira mão, o novo álbum, mas é Annie que irá ser a primeira a ouvi-lo - desencadeando-se, assim, o princípio do fim da relação entre os dois. Este acontecimento, aparentemente inócuo, terá consequências "devastadoras" na vida de Annie - tudo, mas rigorosamente tudo, vai mudar.
Acho que o que me faz gostar das histórias de Hornby é o facto de as personagens serem tão credíveis que, eventualmente, acabo por me identificar com alguma situação. Isto aliado ao facto de haver sempre alguma saída airosa para situações semi-desesperadas, mesmo quando as pessoas em questão são completamente ignorantes em termos emocionais.

Dá-me esperança. Talvez não esteja tudo ainda perdido. E, mais tarde ou mais cedo, alguma saída airosa acontecerá por aí.

Life of Pi - Yann Martel



Mais um daqueles livros que estava na prateleira há anos. Houve, inclusivamente, uma tentativa de leitura que se ficou pela metade, por não haver motivação suficiente. Mas, desta vez, tudo foi diferente (vá se lá perceber porquê!).
A história é peculiar (para dizer o mínimo): um naufrágio de um navio de viagem entre a Índia e o Canadá junta, num bote de salvamento, um rapaz de 16 anos (Pi), um tigre-de-bengala, um orangotango fêmea, uma hiena e uma zebra com uma perna partida. Combinação mais estranha e improvável seria difícil. Mas dessa combinação nasce uma história fantástica, quase difícil de acreditar!
Cerca de 80% do livro trata da viagem a bordo do bote de salvamento. Aborrecido?... Nem um pouco. Pelo contrário, a leitura torna-se viciante, queremos sempre saber o que acontece a seguir, como é que a luta pela sobrevivência, dia após dia, se vai processando. Sempre a cruzar os dedos para que o impossível aconteça e todos acabem a viagem, sãos e salvos. A escrita de Martel é muito visual, apelativa, cheia de cores e movimento.
É difícil descrever este livro melhor do que isto (embora não me sinta particularmente eloquente neste momento...), porque é uma daquelas experiências que tem que ser a própria pessoa a ter. Se vos parece uma história com potencial, experimentem. Acho que não se vão arrepender.

O Cemitério de Praga - Umberto Eco



Esta foi uma daquelas leituras fáceis. Apenas três semanas, o que não é mau se tivermos em consideração as cerca de 550 páginas que constituem este livro. Prenda de aniversário (muito obrigada!), viu a sua leitura começada no próprio dia da oferta, muito por causa de ter sido uma sexta-feira com viagem de comboio Lisboa-Cinfães. Logo aí foram 100 páginas! (o que significa que a leitura esmoreceu um pouco depois deste fantástico ímpeto inicial) Embora o ritmo inicial não se tenha mantido, foi um leitura divertida. Mas vamos à história.

O tempo da acção centra-se, principalmente, na segunda metade do século XIX. O "actor" principal é um tal de Simone Simonini, falsário de renome e que vive embrulhado em tramas e conspirações dignas de uma opereta - garibaldinos, napoleónicos, maçónicos ou hebreus, todos estão envolvidos. O mais interessante no meio disto tudo é que, supostamente, todos os factos que constam do livro são verdadeiros. O que é, no mínimo, inquietante. Assuntos de Estado tratados com a leveza de gestão de mercearia, conspirações internacionais com intuitos a roçar o caricato. Lá está: como romance é altamente interessante e entertaining (peço desculpa, mas não consegui encontrar o equivalente em português), mas se nos pusermos a pensar que são factos históricos... Outros tempos? Ou será que hoje em dia também acontecem coisas do género?... Muito provavelmente.

Não querendo entrar em muitos pormenores sobre o enredo, até porque considero muito mais estimulante ser o próprio leitor a fazê-lo, digo apenas ainda que o final acontece em clima de anti-clímax, como aliás dá para adivinhar ao longo da leitura.

Recomendo vivamente, mas "aviso" desde já que é preciso em certo sentido de humor para ler este livro. Isso e não ser facilmente impressionável.