Jane Eyre



Regresso a casa e regresso às rotinas, incluindo as sessões de cinema. Já se sabe que, quando o tempo começa a aquecer, a qualidade dos filmes em cartaz decresce a pique. Por isso há que aproveitar os poucos filmes com algum interesse que vão aparecendo.
Não sabia desta nova adaptação do marcante romance de Charlotte Brontë, Jane Eyre. Conhecia a versão de 1996, com Charlotte Gainsbourg e William Hurt nos papéis principais. Conhecia também a série de televisão de 2006. Esta última não me agradou muito como adaptação e do filme anterior tinha gostado muito, se bem que a atmosfera seja muito negra, talvez um pouco negra demais. Esta nova adaptação cinematográfica, a cargo de Cary Fukunaga, tem assim pontos que me agradam muito, nomeadamente uma luminosidade muito especial (porque Inglaterra não há-de ser sempre cinzenta...). A história, já todos devem conhecer - Jane Eyre, uma orfã rejeitada pela tia, de quem deveria ficar ao cuidado, tem uma educação rígida numa escola que a prepara para o ensino. Torna-se assim preceptora ao chegar à idade adulta e vai trabalhar para Thornfield Hall, onde desenvolve uma relação muito particular com o rude dono da casa, Mr. Rochester. Mas há ainda um terrível segredo que irá assombrar a relação entre os dois! Um clássico bem clássico, portanto.
Será, então, que um filme do qual já conheço toda a história consegue acrescentar alguma coisa ao que já foi feito? Pessoalmente, diria que sim. Há a questão da fotografia, à qual já me referi, e que gostei muito. Há também as interpretações de Michael Fassbender e Mia Wasikowska, que são de uma subtileza fantástica - conseguem dar toda uma profundidade às personagens que não me lembro de ver anteriormente. Só por eles, já vale a pena o filme. Gostei muito desta Jane Eyre, mais humana, ainda que metodicamente contida, mas onde conseguimos perceber as hesitações, apenas pela linguagem corporal - é quase como se nós mesmos conseguíssemos sentir os dilemas que a atormentam.
Por tudo isso, é um filme que justifica uma ida ao cinema, principalmente para quem gosta de clássicos. E, provavelmente, em tempos áridos como os que correm, não haverá muitos filmes assim.

Outra vez do outro lado do mundo...

Passaram menos de 6 meses e lá fui eu novamente para o outro lado do mundo, desta vez para paragens mais frias na América do Norte, mais concretamente para o Canadá.
Se os motivos da viagem foram profissionais, nada como aproveitar a deslocação para umas férias (já merecidas, por esta altura). Assim, fiquei uma semana a passear pela região da Colúmbia Britânica (ou British Columbia, no original), região que inclui a cidade de Vancouver e também a capital de província, Victoria - visitei ambas! Durante uma semana, houve sol, neve, arranha-céus, montanhas, bosques verdejantes - e muito mar. Houve, então, paisagens para todos os gostos, e paisagens bonitas. amplas. São de uma amplitude que não estamos muito habituados por cá, talvez porque há tanto espaço que grande parte dele acaba por ficar livre, perante os nossos olhos.
Foi uma viagem importante para mim. Pela experiência. Pela forma como me "enfrentei" a mim mesma durante esse período. Pelas dificuldades que encontrei e fui capaz de ultrapassar. E também pelas possibilidades que daí advieram - afinal, viajar sozinha não é nenhum bicho-papão.

Agora, ficam as fotografias.


Edifício do Governo, Victoria

Estátua de Emily Carr, ilustre artista de Victoria

Jardins da casa do governador, Victoria

Stanley Park, Vancouver

Esculturas do artista plástico chinês Yue Minjun, inseridas na bienal de Vancouver

Ruas de Vancouver

Whistler, local onde foram realizados os Jogos Olímpicos de Inverno em 2010

Teleférico entre as duas montanhas de Whistler


Whistler depois do nevão


Fotografias por Rita Barbosa

Num mundo melhor



A escolha para a última sessão de cinema durante um período de tempo mais ou menos longo foi o filme vencedor do Oscar para Melhor Filme Estrangeiro, o dinamarquês/sueco "Num mundo melhor", de Susanne Bier.
O filme versa, principalmente, sobre a dualidade entre a vingança e o perdão, com subtilezas que incluem o efeito destes sentimentos na formação de personalidades e nas relações interpessoais. Cruza as histórias de duas famílias, cujo ponto de contacto é a relação entre Elias, filho de Anton e Marianne, um casal em separação, e Christian, filho de Claus, cuja mãe morreu de cancro há pouco tempo, tendo obrigado a família a mudar-se de Londres para uma pequena cidade na Dinamarca. Anton é um médico que divide a sua vida entre a Dinamarca e um campo de refugiados, em África, onde exerce a sua profissão, e em ambas as realidades da sua vida se vê confrontado com o dilema supracitado, entre vingança e perdão. Anton acredita que o perdão é a resposta, mas o facto do filho Elias ser vítima de bullying na escola vai pôr as suas crenças em perspectiva...
"Num mundo melhor" é um filme interessante e bem feito. Não traz nada de novo, apenas pega em assuntos que todos conhecemos - do nosso dia-a-dia ou das notícias. Talvez por isso, não me fascinou particularmente, mas também não desgostei. Agora ter ganho o Oscar... Não sei. Não me lembro quem eram os outros candidatos, por isso não me pronuncio. Mas que não me pareceu estar particularmente à altura, não.

Mais um Clubbing Optimus, mais um grande concerto



Para fechar com chave de ouro uma semana que começou em beleza, sábado trouxe consigo mais um Clubbing Optimus na Casa da Música. O de Março foi um bocadinho alternativo, mas em Abril voltaram os cartazes apetecíveis, com a actuação de Roy Ayers, um senhor de 70 anos que é uma lenda viva do jazz rítmico. Claro que eu só soube disto depois de ser anunciado o cartaz do Clubbing, mas ainda assim é muito bom conhecer coisas novas (mesmo que já sejam antigas), principalmente quando são boas.
Continuamos em trio, se bem que com membros diferentes - desta vez, ficou tudo em família. O serão foi calminho, com jantar italiano (com alguns percalços) e depois um chill-out no bar da Casa da Música antes do concerto propriamente dito. O público estava, aliás como de costume, bastante ecléctico, com pessoas de todos os tipos e idades. O que é bom para refrescar os olhos.
Apenas assistimos ao concerto de Roy Ayers, mas não creio que a noite pudesse ter sido melhor do que foi: energia, energia, energia. Que banda espectacular! Embora a média de idades dos músicos não fosse baixa, não se notava nem por um momento, com um ritmo louco que dominou todo o concerto. O facto de grande parte do repertório não me ser familiar não atrapalhou em nada. Foram cerca de 90 minutos de pura diversão. No final, tivemos direito a sessão fotográfica e de autógrafos, da qual só aproveitámos estes últimos. Para mais tarde recordar. Porque a vida tem destes momentos bons.

9ª Festa do Jazz do São Luiz - O trio maravilha, seguido de uma sobremesa docinha



Sexta-feira trouxe consigo o primeiro dia da 9ª Festa do Jazz do São Luiz. Para mim, acho que foi mesmo uma primeira vez, embora a minha memória não seja propriamente de fiar.
O cartaz do primeiro dia incluía, como "cabeças de cartaz", as actuações do Bernardo Sassetti Trio e do projecto colaborativo entre Maria João e a Orquestra Jazz de Matosinhos. O trio conta, para além de Bernardo Sassetti, com Carlos Barreto no contrabaixo e Alexandre Frazão na bateria. Um colectivo de habitués, portanto. Com algumas composições originais e outras adaptadas, envolveram a sala principal do São Luiz com a sua música por vezes mais enérgica, outras mais suave, mas sempre... "quente" (à falta de melhor adjectivo). Apesar de ser sexta-feira à noite, de todo o cansaço acumulado, estive bastante desperta durante a actuação do trio maravilha. Depois de um breve intervalo, foi a vez de subirem ao palco a Orquestra Jazz de Matosinhos e Maria João, que num projecto conjunto deram uma nova roupagem a variadas composições, quer de trabalhos anteriores de Maria João, quer de músicas pertencentes ao cancioneiro popular brasileiro, entre outras. O resultado, a ser brevemente editado, tem como título Amoras e Framboesas. Os arranjos de uma big band dão, algo obviamente, um outro ar às músicas. A interpretação de Maria João é fiel a si mesma, sempre altamente versátil. Mas não sei se a junção das duas coisas me convenceu por inteiro... Houve algum cansaço pelo meio, que me levou a desligar um pouco do que estava a acontecer à minha volta. Talvez por isso tenha ficado mais distante desta segunda parte da noite do jazz do que da primeira, liderada pelo trio de Bernardo Sassetti. Mas não sei se não gostarei mesmo mais do estilo musical deles... É difícil dizer, porque são muito diferentes.
De qualquer forma, foi uma noite muito interessante. As ruas cheias de gente, o passeio pelo centro da cidade, a temperatura agradável... Vai-se a ver, Lisboa até tem coisas boas. ;)