Da escuridão fez-se música

Descoberta tardia, mas ainda fui a tempo para ver o espectáculo singular que a dupla maliana Amadou et Mariam trouxe à Gulbenkian - um concerto na mais completa escuridão. De forma a "homenagear" a cegueira que os afecta a ambos (e que os juntou para a música e para a vida), montaram um espectáculo em que o público é deixado em igualdade de circunstâncias, sem nada ver, com os sentidos plenamente concentrados na música. 
Se ao início o desconforto era muito (o que se notava nas reacções contidas do público, que praticamente enchia o Grande Auditório da Gulbenkian), com o desenrolar do concerto, que incluiu interlúdios biográficos sobre a dupla, a temperatura foi subindo (literalmente falando) e os ânimos foram ficando mais soltos. Houve uma abordagem a essencialmente todos os álbuns, de forma a fazer a dita contextualização biográfica, que acabou com Wily Kataso, do mais recente álbum Folila, a ser cantado com as luzes já acesas e todo o público de pé.
Um concerto quase comovente e, com certeza, envolvente. Uma experiência única, completamente fora da zona de conforto, mas que resultou muito bem. E fica o prazer enorme de ter visto novamente estes dois músicos ao vivo, o que me deixa muito feliz. Porque a música deles é daquelas que me põe imediatamente um sorriso no rosto.

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