Viagem à Suiça do Médio Oriente (aka, Jordânia) - dia 1, ou o deserto de Wadi Rum

Saída de Londres um pouco depois das 17h, voo com alguma turbulência mas bem passado. Vi o filme Interstellar durante o voo, cortesia da Royal Jordanian Airlines. Gostei muito, embora seja um pouco perturbador (Do not go gentle into that good night...). Chegada quase às 23h a Amman, noite escura. Algo confuso perceber para onde me devo dirigir - no final de contas, tive que sair do aeroporto e voltar a entrar pela zona das partidas. Uma sala de espera pobre, sem muito para preencher as horas da madrugada que aqui terei que passar até o voo que me há-de levar até Aqaba. Nem mesmo um banco corrido para descansar o corpo. Noite aos soluços, os olhos a renderem-se ao cansaço de vez em quando. E a madrugada chega finalmente, e com ela o meu voo. Que dura um instante. Encontro com a C. e o M. no aeroporto e daí  para Wadi Rum de táxi. Que cenário fantástico! A aridez do terreno, as montanhas... tudo tão diferente. A recepção pelo nosso anfitrião Mohammed é óptima, com chá partilhado com os outros viajantes. As nossas mochilas seguem para o acampamento, enquanto nós embarcamos na viagem de jipe pelo deserto de Wadi Rum, acompanhados de dois alemães, não muito entusiasmados com a coisa toda. Mas estamos nós! Que experiência interessante, cativante, diferente! Ainda que se vejam bastantes turistas nos diversos sítios que visitamos (maioritariamente relacionados com o Lawrence da Arábia). A experiência do dia culmina com uma descida de uma duna de areia com uma prancha (vulgo sandboarding), algo que adorei e me enche de adrenalina. A subida à ponte (natural, formada por rochas) é também muito aventureira. Gosto da sensação quase infantil que me inunda quando trepo calhaus! Faz-me realmente lembrar a minha infância.

As pessoas são simpáticas e prestáveis, pelo que pude ver até agora. Homens, porque quase ainda não vi por cá mulheres. Eles conduzem, preparam quartos, cozinham... não vejo para já mãos femininas no processo. Será uma sociedade assim tão patriarcal? Fico na dúvida. Até explorar outras andanças.

Dormimos no deserto, em tendas especialmente preparadas para o efeito. Qual acampamento beduíno. Chegamos ao final da tarde, mesmo a tempo de partilhar um chá e ver o pôr-do-sol. Do cimo do penedo, para ter uma vista mais abrangente. É um cenário único. A vastidão é tal que me deixa claustrofóbica. Como se fosse demasiado ar para respirar (será provavelmente mais correcto chamar-lhe agorafobia...). A terra fica ainda mais vermelha, as cores intensificadas pela luz do entardever. As fotografias não fazem justiça ao momento. É preciso gravá-lo na retina. Para mais tarde recordar.
O jantar, na tenda comunal, é maravilhoso. Ou talvez seja da fome! Acabo a devorar dois pratos de salada, baba ganoush, assado de frango (cozinhado à maneira beduína, num forno escavado dentro da areia), arroz - tudo fresquíssimo, cheio de sabor, quase acabo a lamber os dedos. E ainda há espaço para dois pedaços de doce. É oficial: não me reconheço. A privação de sono deve fazer destas coisas. Ou o deserto.

Pouco passa das 20h e preparo-me para dormir. O meu corpo tenta resistir. Talvez seja da escuridão profunda que tanto me perturba. Mas a lua brilha alto e o céu tem mais estrelas do que alguma vez poderei contar. Por isso, Rita, descansa. São horas de assimilar o dia e deixar o corpo descansar. Finalmente.

Deserto de Wadi Rum, visto da nascente de Lawrence da Árabia (mas não a verdadeira)

Deserto de Wadi Rum

Deserto de Wadi Rum - o nosso acampamento

Pôr-do-sol em Wadi Rum

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