Do Desassossego



Mais uma vez, peço desculpa pela ausência , algo prolongada. Desde que o meu computador se foi abaixo (o transformador queimou), a disponibilidade para escrever diminuiu bastante. E no trabalho tem sido uma agitação tão grande que raramente arranjo um tempinho livre para dar largas à inspiração.
Ontem à noite houve teatro. Já há muito, muito tempo que não ia ao teatro. É daquelas coisas que exige um bocadinho de nós, tomar essa "decisão". Neste caso, tomaram-na por mim. Já há algum tempo que a minha irmã andava a falar desta peça de teatro, baseada n'"O Livro do Desassossego", de Bernardo Soares, em como seria interessante. A mim também me agradou a ideia, mas passámos um tempo em que nenhuma decisão foi tomada. Finalmente, neste fim de semana que passou, ela resolveu reservar bilhetes e ontem lá fomos nós, rumo ao Teatro da Comuna.
A minha experiência teatral em Lisvoa não é vasta. Também, como poderia ser? Só há pouco tempo me mudei para cá... Na minha adolescência, quando passava férias cá com a prima Carol, chegámos a ir ao Teatro Villaret. E pouco mais conheço.
Pois o Teatro da Comuna é um local engraçado. Localizado num dos sítios mais amplos da cidade, a Praça de Espanha, é uma velha casa senhorial, um pouco a cair aos pedaços, o que é triste, porque o espaço tem imensas potencialidades. Rodeado de um grande terreno, com ar de jardim abandonado, é um cenário realmente contrastante com o bulício circundante.
Mas passemos à peça.
Não conheço a obra que lhe deu origem. Mea culpa, admito com pesar. Até trouxe o livro quando vim para Lisboa, mas ainda está na prateleira. Em breve pegarei nele, tenho a certeza.
A peça é desenvolvida, basicamente, por um actor, Carlos Paulo. Muito bom, por sinal. Suponho que o papel que ele interpreta seja o do narrador do livro, o desassossegado. Vai movendo-se pela "acção" (entre aspas porque não há verdadeiramente uma acção, a peça é uma dissertação) num monólogo - seremos nós os alvos desse monólogo? Ou será apenas um exorcismo, um exercício necessário à dita sanidade mental?...
Não sei. Houve partes de que gostei particularmente, como aquela frase: "Onde está Deus, mesmo que não exista?"...
A peça não é fácil. Não é um forma de passar o tempo, de diversão. Exige introspecção e tempo para saboreá-la, reflectir na sua mensagem. Mas vale muito a pena.
Ala ao Teatro da Comuna!

2 comentários:

Eiras-Nunes disse...

É uma das minhas obras favoritas de FP (para mim é ortonimo de ginga... vai lá dar uma volta ó guarda-livros), mas não ia ver a peça nem que me pagassem (bem... se me pagassem até ia): o livro saboreia-se sim... mas a ideia de ouvir um monólogo noutra voz q não a minha... hmmm... cheira-me que não me iria agradar.
Neste momento encontro-me no laboratório... e então cito:
"Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada."

Mikael disse...

Podias ter convidado :P
Mas parece-me bem, também quero ir ver essa peça.

beijos